A violência e a criminalidade são assuntos debatidos no mundo inteiro. Contudo, nos últimos tempos, estes assuntos têm recebido maior enfoque.
É incrível como, tanto a violência quanto a criminalidade, ganham espaços na sociedade, na comunidade, nas famílias, nas mídias. É um problema que começa a ser questionado no casamento, durante a gravidez, no nascimento. É discutido no berço, no próprio lar – que é o princípio de tudo. A discussão propaga-se nas ruas, nas escolas, entre amigos e professores. E a inquietude continua nas ruas, nos bares e chega aos grandes debates políticos, nas câmaras e no senado. Por fim, até a imprensa escrita, falada e televisada, que são órgãos importantíssimos na divulgação e nos ensinamentos, envolvem-se na polêmica.
Temos que reconhecer que todos somos responsáveis por isso, quer seja sociedade, polícia, justiça, políticos e governo. Temos que ser mais humildes, objetivos e práticos para melhorar a nossa segurança. Educação, saúde, administração e punição, com certeza, aos responsáveis.
No exame da questão, há de se formularem algumas perguntas: O que há de comum na violência? Ela é um fenômeno novo?
A humanidade, desde os primórdios, vem manifestando sua agressividade por diferentes causas ou de diferentes formas, porém motivados pelo poder. De um lado, “bandidos” que lutavam por seus instintos destrutivos, de outro, os que lutavam orientados ou eram pagos como mercenários. A igreja também estava envolvida através de seus superiores (cardeais) para conquistar ou defender o poder. Se revisarmos a história da antigüidade humana, encontraremos respostas na própria Bíblia, principalmente quando no relato em que Caim matou seu irmão Abel. Nas cavernas, os humanos demonstravam distúrbio de comportamento, cujas manifestações eram os conflitos e as agressões, com violência e morte pelo poder, ciúme ou subsistência.
A violência e a criminalidade não escolhem classe social, tampouco credo ou raça. Elas estão em toda parte, sejam nas favelas ou nos bairros nobres, nos grandes centros ou nas periferias. Elas estão onde habitam ricos ou pobres.
O assunto em questão nos leva a refletir muito e logo o associamos a drogas (lícitas e ilícitas), homicídios, acidentes de trânsito, agressões, prostituições, roubos, seqüestros e uma infinidade de atrocidades que se repetem estampados nos jornais, assistimos pela televisão, convivemos em nossos lares, nossos locais de trabalho, nossas escolas.
Quem não conhece alguém que sofreu um assalto? Ou tem algum familiar com problemas com drogas ou álcool? Ou, ainda, perdeu um conhecido por bala perdida? Ou, até mesmo, foi vítima de agressão?
Fatores de ordem sócio-econômicos, culturais e institucionais podem ser alguns dos desencadeantes da violência e da criminalidade.
Estudos demonstram que os acidentes de trânsito é a terceira causa de morte violenta com vítimas fatais, ficando somente atrás do suicídio e do homicídio, que ocupam, respectivamente, primeiro e segundo lugares.
Só para exemplificar o que representa em termos econômicos ao Brasil, somente os acidentes de trânsito em rodovias brasileiras custam anualmente o equivalente a cerca de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) segundo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Sem contar os danos causados à saúde física, emocional e/ou mental das pessoas envolvidas direta ou indiretamente.
Sabemos que a saúde pública anda muito precária, diria – por que não – “de muletas”. Nossos hospitais estão lotados; nossos médicos, em greve; faltam remédios; falta atendimento. Evidentemente que uma das maiores parcelas que contribuem para o agravamento da situação são as doenças mentais que, quando não tratadas adequadamente, são agravadas pelo uso de drogas e álcool, com aumento de suicídios e homicídios.
Há, contudo, maneiras de auxiliarmos na solução deste grave problema. Por exemplo, em Diadema, cidade da Grande São Paulo, durante a crise energética ocorrida em 2001, foi limitado o horário de funcionamento de bares e restaurantes. Esta atitude, preconizada inclusive pelo Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio Grande do Sul, Senhor José Francisco Mallmann, comprovadamente reduziu em 40% os acidentes de trânsito e em 60% a criminalidade no município. Alternativas não faltam. O que precisa, é atitude... Quem é o responsável pela venda de bebidas alcoólicas a menores de idade? Pais? Justiça? Polícia? Comerciantes? Quem sabe a Lei Seca deveria ser aplicada em todo o país, inclusive nas estradas...
Devemos, então, buscar soluções para minimizar estes problemas, garantindo uma melhor qualidade de vida para nós mesmos. Afinal, a violência e a criminalidade é um problema de todos nós. Precisamos começar a administrar isto urgentemente. A violência, em suas diversas formas de manifestação, sempre existiu e sempre existirá. Caberá, pois, à humanidade tratar, melhorar e administrar suas raízes, sua formação. Deverão ser aproveitados os instintos saudáveis da sociedade, usando todos os meios disponíveis para diminuir a agressividade humana.
Estudos nos mostram que sem afeto adequado, sem senso de família, sem crença e fé, todo ser humano se animaliza. Como resgatar a nossa ética? Este é um trabalho longo, mas persistente, que deve povoar nossos objetivos.
* ARTIGO RETIRADO DO LIVRO SER HUMANO - O DESAFIO.
Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra
CRM 15.516
Marisa Potiens Zílio
Psicopedagoga
CEE 7944