ASPECTOS PSICOPATOLÓGICOS
DO HOMEM NO TRÂNSITO*
Esta tendência de alcoólatras, mesmo sóbrios, provocando maior número de acidentes, pode ser explicada por distúrbios causados pela ingestão abusiva de etílicos e posteriormente sofrerem distúrbios visuais, sonolência, reflexos retardados, hipoglicemia, crises ou equivalentes epileptiformes na crise de abstinência, além do componente de sua personalidade.
Já em 1976, quando apresentamos o trabalho O comunicador social e a prevenção de acidentes no trânsito, dissemos que as tensões da vida contemporânea fizeram do automóvel um instrumento de evasão, libertação e fuga. Ao volante de um carro o individuo que perdeu sua identidade, massacrado pela sociedade de consumo, isola-se do mundo e coloca-se contra ele, torna-se machão, atropela, mata e morre.
Aí encontra-se praticamente todo o conteúdo do assunto que iremos abordar: aspectos psicopatológicos do homem no trânsito.
O acidente de transito é, sob o ponto de vista médico-epidemiológico, uma doença crônica de discutíveis conhecimentos etiológicos, senão subjetivos e cuja prevenção é suprimir simplesmente o trafego de veículos. Porém, bem sabemos que isso no mundo atual seria uma idéia sem a mínima condição de ser aceita, mas também são inaceitáveis as conseqüências traumáticas que provoca, sendo imprescindível que se examinem os problemas aventados e as soluções de eficácia comprovada, procurando, ao mesmo tempo, aliviar as perspectivas futuras com base nas ultimas investigações.
Nos relatórios divulgados anualmente pelas repartições competentes, foram atribuídas às chamadas “falhas humanas”, parcelas cada vez mais expressivas da responsabilidade pelos acidentes, embora só recentemente elas venham sendo objeto de investigação de caráter cientifico, isso porque dados da própria ONU mostram a mortalidade universal do transito. Nenhuma doença mata, individualmente, mais que o tráfego de veículos terrestres.
Nos dias de hoje, com o advento da medicina psicossomática, sabemos que os acidentes não acontecem por nada, mas, sim, são provocados, ora por deficiência de conservação do veículo, ora por má conservação das estradas, ora pelos pedestres, ora pelo condutor. Há sempre a participação do homem.
Mas devemos, agora, voltar nossa atenção para os acidentes provocados diretamente pelo homem, ora como, pedestre, ora como motorista.
Nós admitimos, em psicologia, que o homem é acionado por dois impulsos antagônicos o impulso de vida e o impulso de morte. O acidente é uma expressão do instinto da morte, e o individuo a procura de modo mais disfarçado possível, de tal modo que ele próprio não percebe.
A afinidade traumática ou traumatofilia (descrita por France Dumbar na pesquisa em companhias de seguros norte-americanas, demonstrando que certos indivíduos eram vitimas de repetidas fraturas e fazendo um perfil psicológico da pessoa tendente ao acidente), basicamente poderá ser vista inclusive no transito.
São pessoas que possuem muitos familiares acidentados, muitas pessoas já desastradas, inclusive de automóvel. São indivíduos sadios que não tem preocupação com doença; que não aceitam médico e nem remédio; que tem a vida pontilhada de acidentes desde a infância. São pessoas instáveis, ansiosas, com tendência a interromperem tudo o que começaram; pessoas com dificuldade na profissão e no trabalho; pessoas com a atenção voltada para valores imediatos; pessoas sem capacidade de previsão e que não pensam no futuro. Sentem um sabor sensacionalista ao enfrentar o perigo e o impulso aventureiro os leva a viver intensamente o momento. São pessoas que cultivam as tendências neuróticas desde a infância; pessoas que em determinado momento usam, se necessário, bebidas alcoólicas ou tóxicos, de um modo geral com a fantasia de ter melhor visão mental.
Gostam de assistir a esportes violentos e com mortes e enfrentá-los, e quando algo lhes ocorre dão uma explicação simplória e assumem uma atitude de fatalismo ou atribuem tudo ao azar. Quem sabe nesse grupo encontram-se os motoristas que fazem as competições clandestinas noturnas.
A minha experiência de oito anos atendendo motoristas enquadrados no art. 77 do Código Nacional de Transito (antigo CNT) e a convivência diária com a medicina do tráfego, permite com lucidez afirmar que nesse grupo encontram-se os indivíduos mais perigosos, que mais acidentes provocam e geralmente os que provocam acidentes mais graves.
Ao exame psiquiátrico e psicológico eles nem sempre mostram as tendências contra si e ou contra os demais. São indivíduos que não tem coragem de cometer suicídio ou homicídio agudo e ficam namorando a morte, às vezes também de outras formas como com o etilismo, com tóxico e muito bem chamados por Karl Mennenger como “forma de morrer no varejo” (o homem contra si mesmo).
São perigosos porque se consideram sadios. Às vezes, fazem usos de etílicos e tóxicos de maneira sintomática, isto é, para comemorar algo, para esquecer algo, para fazer alguma coisa, mas que na realidade é para poderem suportar a vida, para poderem fazer seus instintos fluírem com mais liberdade, e para isso o álcool ou o tóxico são a bengala necessária para se auto-afirmarem.
Já o alcoólatra habitual tem melhor visão de suas fraquezas, suas limitações, e às vezes consegue tomar mais cuidado no transito que o alcoólatra sintomático.
O alcoolismo, de modo geral, é perigoso para o transito, tanto que em minha experiência é a maior causa determinante dos acidentes no tráfego.
O individuo alcoolizado, segundo West & Coll. (1968), que estudaram em dois anos 871 casos de colisão contra obstáculos com apenas um carro envolvido, onde o motorista morreu quinze minutos após o acidente, descobriram que 74% estavam embriagados e com uma concentração media de 1,9 g/l.
Smart e Schmidt demonstraram que mesmo em motoristas sóbrios envolvidos em acidentes, existem duas vezes mais em alcoólatras do que o esperado numa amostra populacional.
Essa tendência de alcoólatras, mesmo sóbrios, provocando maior numero de acidentes, pode ser explicada por distúrbios causados pela ingestão abusiva de etílicos seguidos de distúrbios visuais, sonolência, reflexos retardados, hipoglicemia, crises ou equivalentes epileptiformes na crise de abstinência, além do componente de sua personalidade já descrita, assim como fumar dirigindo ou falar ao celular, são características determinantes de acidentes.
Além do individuo que se pode distinguir em função de estudos da personalidade, há o individuo praticamente patológico. Aí temos o doente mental e o deficiente mental, cujas fronteiras com a normalidade são imprecisas, o que torna a tarefa difícil para o examinador.
Vamos enumerar aqui, com a finalidade puramente didática, alguns estados mórbidos mais caracterizados, uma vez que o fronteiriço, além de ser mais difícil de se distinguir, é o mais comum, e, segundo Freud, todos temos recalques e neuroses, a questão é apenas de quantidade.
Nesse grupo há a personalidade psicopática, caracterizada previamente pelo individuo com distúrbio de conduta. São pessoas tenebrosas, desprovidas de senso de responsabilidade, agressivas, inquietas, desconfiadas e estão sempre na expectativa de agredir, mentir e enganar. São pessoas realmente perigosas, que não tem autocrítica e vivem rondando a morte, pois não tem noção de perigo. São indivíduos imaturos emocionalmente e que enfrentam a vida puerilmente, por isso um automóvel nas mãos dos mesmos passa a ser praticamente uma arma.
É de grande importância ressaltar as psicoses, em virtude do grande numero de pessoas acometidas de tal doença. São doentes mentais que não tem noção de realidade, muitas vezes se sentem perseguidos, desconfiados, com alucinações, delírios, com manias ou então com astenia-melancolia, com dificuldade de comunicação, levando a intenso distúrbio de conduta e atenção, porque estão voltados para dentro de si. Apresentam, conforme o estado da doença, aumento ou diminuição dos reflexos.
A complexidade desses sintomas enumerados mostra a você, caro leitor a dificuldade que tal pessoa enfrentará para dirigir adequadamente um automóvel, pois na maioria das vezes seus sintomas são transferidos para o transito e para os outros motoristas em forma de projeção, estabelecendo-se aí o conflito, que torna o doente mental perigoso. Às vezes, esses indivíduos estão em tratamento especializado com psicotrópicos, medicamentos usados amplamente e com sucesso no combate dos sintomas retro-expostos, mas que embora combatam os sintomas não deixam de apresentar alguns efeitos colaterais, na maioria das vezes, inconvenientes ao motorista, por apresentarem sonolência, tonturas, vista turva, diminuição dos reflexos e da atenção.
Devemos ter cuidado para fazer uma avaliação objetiva e de bom senso em tais casos.
É importante, também, fazer uma breve consideração ao epiléptico, principalmente o não-controlado, que além de crises convulsivas e ausências no volante, pode apresentar outros sintomas como agressividade, irritabilidade, ansiedade, desconfiança, na maioria das vezes, emotiva. Temos vários casos enumerados em nosso serviço onde o acidente foi provocado por crises convulsivas ao volante e temos outros casos inclusive com agressões e morte entre motoristas.
Para o diagnostico da epilepsia temos o EEG, um exame de valor relativo, porque há casos em que seu resultado vem alterado, com foco disritmico cerebral ou crises de ausência, no entanto o individuo nunca teve uma manifestação clínica. Também existem pessoas que sofrem crises convulsivas ou crises de ausência, no entanto, apresentam eletroencefalograma normal.
Ao nosso ver, o EEG é um instrumento a ser valorizado quando dá o resultado como anormal, caso contrário a interrogação continua.
Nos EUA, a epilepsia é levada tão a sério que o motorista ou candidato faz um juramento dizendo que não sofre de epilepsia, e se algum dia vier a sofrer crise ou equivalente deixará de dirigir até ser reavaliado.
O epiléptico torna-se ainda mais problemático para o transito quando faz uso de etílicos e tóxicos, quando fica sem dormir, estafado ou sob o efeito de luzes fortes ou sons estridentes, fatores que podem desencadear crises.
Concluímos que o epiléptico deve sempre ser bem assistido pelo seu médico e que o diagnostico do mesmo é fundamental para seu tratamento e recuperação. E a melhor maneira de fazê-lo é através de um bom exame médico.
Enfim, temos o deficiente mental ou oligofrênico, cuja característica é o atraso no aprendizado, na inteligência. São pessoas que oferecem perigo no transito porque tem dificuldade em criticar o perigo, brigam facilmente, entram em conflito e se desestruturam, porque suas defesas psicológicas são incompletas, vulneráveis e sua autocrítica é prejudicada.
A conclusão tirada após oito anos examinando motoristas envolvidos em acidentes de transito enquadrados no art. 77 do antigo CNT é que o exame médico deve ser encarado com muita responsabilidade e feito minuciosamente, se necessário deve-se pedir exames complementares com estudo da personalidade como salvaguarda na prevenção dos acidentes de transito, que é o nosso grande objetivo.
*Artigo retirado do Livro Ser Humano – O Desafio.
DO HOMEM NO TRÂNSITO*
Esta tendência de alcoólatras, mesmo sóbrios, provocando maior número de acidentes, pode ser explicada por distúrbios causados pela ingestão abusiva de etílicos e posteriormente sofrerem distúrbios visuais, sonolência, reflexos retardados, hipoglicemia, crises ou equivalentes epileptiformes na crise de abstinência, além do componente de sua personalidade.
Já em 1976, quando apresentamos o trabalho O comunicador social e a prevenção de acidentes no trânsito, dissemos que as tensões da vida contemporânea fizeram do automóvel um instrumento de evasão, libertação e fuga. Ao volante de um carro o individuo que perdeu sua identidade, massacrado pela sociedade de consumo, isola-se do mundo e coloca-se contra ele, torna-se machão, atropela, mata e morre.
Aí encontra-se praticamente todo o conteúdo do assunto que iremos abordar: aspectos psicopatológicos do homem no trânsito.
O acidente de transito é, sob o ponto de vista médico-epidemiológico, uma doença crônica de discutíveis conhecimentos etiológicos, senão subjetivos e cuja prevenção é suprimir simplesmente o trafego de veículos. Porém, bem sabemos que isso no mundo atual seria uma idéia sem a mínima condição de ser aceita, mas também são inaceitáveis as conseqüências traumáticas que provoca, sendo imprescindível que se examinem os problemas aventados e as soluções de eficácia comprovada, procurando, ao mesmo tempo, aliviar as perspectivas futuras com base nas ultimas investigações.
Nos relatórios divulgados anualmente pelas repartições competentes, foram atribuídas às chamadas “falhas humanas”, parcelas cada vez mais expressivas da responsabilidade pelos acidentes, embora só recentemente elas venham sendo objeto de investigação de caráter cientifico, isso porque dados da própria ONU mostram a mortalidade universal do transito. Nenhuma doença mata, individualmente, mais que o tráfego de veículos terrestres.
Nos dias de hoje, com o advento da medicina psicossomática, sabemos que os acidentes não acontecem por nada, mas, sim, são provocados, ora por deficiência de conservação do veículo, ora por má conservação das estradas, ora pelos pedestres, ora pelo condutor. Há sempre a participação do homem.
Mas devemos, agora, voltar nossa atenção para os acidentes provocados diretamente pelo homem, ora como, pedestre, ora como motorista.
Nós admitimos, em psicologia, que o homem é acionado por dois impulsos antagônicos o impulso de vida e o impulso de morte. O acidente é uma expressão do instinto da morte, e o individuo a procura de modo mais disfarçado possível, de tal modo que ele próprio não percebe.
A afinidade traumática ou traumatofilia (descrita por France Dumbar na pesquisa em companhias de seguros norte-americanas, demonstrando que certos indivíduos eram vitimas de repetidas fraturas e fazendo um perfil psicológico da pessoa tendente ao acidente), basicamente poderá ser vista inclusive no transito.
São pessoas que possuem muitos familiares acidentados, muitas pessoas já desastradas, inclusive de automóvel. São indivíduos sadios que não tem preocupação com doença; que não aceitam médico e nem remédio; que tem a vida pontilhada de acidentes desde a infância. São pessoas instáveis, ansiosas, com tendência a interromperem tudo o que começaram; pessoas com dificuldade na profissão e no trabalho; pessoas com a atenção voltada para valores imediatos; pessoas sem capacidade de previsão e que não pensam no futuro. Sentem um sabor sensacionalista ao enfrentar o perigo e o impulso aventureiro os leva a viver intensamente o momento. São pessoas que cultivam as tendências neuróticas desde a infância; pessoas que em determinado momento usam, se necessário, bebidas alcoólicas ou tóxicos, de um modo geral com a fantasia de ter melhor visão mental.
Gostam de assistir a esportes violentos e com mortes e enfrentá-los, e quando algo lhes ocorre dão uma explicação simplória e assumem uma atitude de fatalismo ou atribuem tudo ao azar. Quem sabe nesse grupo encontram-se os motoristas que fazem as competições clandestinas noturnas.
A minha experiência de oito anos atendendo motoristas enquadrados no art. 77 do Código Nacional de Transito (antigo CNT) e a convivência diária com a medicina do tráfego, permite com lucidez afirmar que nesse grupo encontram-se os indivíduos mais perigosos, que mais acidentes provocam e geralmente os que provocam acidentes mais graves.
Ao exame psiquiátrico e psicológico eles nem sempre mostram as tendências contra si e ou contra os demais. São indivíduos que não tem coragem de cometer suicídio ou homicídio agudo e ficam namorando a morte, às vezes também de outras formas como com o etilismo, com tóxico e muito bem chamados por Karl Mennenger como “forma de morrer no varejo” (o homem contra si mesmo).
São perigosos porque se consideram sadios. Às vezes, fazem usos de etílicos e tóxicos de maneira sintomática, isto é, para comemorar algo, para esquecer algo, para fazer alguma coisa, mas que na realidade é para poderem suportar a vida, para poderem fazer seus instintos fluírem com mais liberdade, e para isso o álcool ou o tóxico são a bengala necessária para se auto-afirmarem.
Já o alcoólatra habitual tem melhor visão de suas fraquezas, suas limitações, e às vezes consegue tomar mais cuidado no transito que o alcoólatra sintomático.
O alcoolismo, de modo geral, é perigoso para o transito, tanto que em minha experiência é a maior causa determinante dos acidentes no tráfego.
O individuo alcoolizado, segundo West & Coll. (1968), que estudaram em dois anos 871 casos de colisão contra obstáculos com apenas um carro envolvido, onde o motorista morreu quinze minutos após o acidente, descobriram que 74% estavam embriagados e com uma concentração media de 1,9 g/l.
Smart e Schmidt demonstraram que mesmo em motoristas sóbrios envolvidos em acidentes, existem duas vezes mais em alcoólatras do que o esperado numa amostra populacional.
Essa tendência de alcoólatras, mesmo sóbrios, provocando maior numero de acidentes, pode ser explicada por distúrbios causados pela ingestão abusiva de etílicos seguidos de distúrbios visuais, sonolência, reflexos retardados, hipoglicemia, crises ou equivalentes epileptiformes na crise de abstinência, além do componente de sua personalidade já descrita, assim como fumar dirigindo ou falar ao celular, são características determinantes de acidentes.
Além do individuo que se pode distinguir em função de estudos da personalidade, há o individuo praticamente patológico. Aí temos o doente mental e o deficiente mental, cujas fronteiras com a normalidade são imprecisas, o que torna a tarefa difícil para o examinador.
Vamos enumerar aqui, com a finalidade puramente didática, alguns estados mórbidos mais caracterizados, uma vez que o fronteiriço, além de ser mais difícil de se distinguir, é o mais comum, e, segundo Freud, todos temos recalques e neuroses, a questão é apenas de quantidade.
Nesse grupo há a personalidade psicopática, caracterizada previamente pelo individuo com distúrbio de conduta. São pessoas tenebrosas, desprovidas de senso de responsabilidade, agressivas, inquietas, desconfiadas e estão sempre na expectativa de agredir, mentir e enganar. São pessoas realmente perigosas, que não tem autocrítica e vivem rondando a morte, pois não tem noção de perigo. São indivíduos imaturos emocionalmente e que enfrentam a vida puerilmente, por isso um automóvel nas mãos dos mesmos passa a ser praticamente uma arma.
É de grande importância ressaltar as psicoses, em virtude do grande numero de pessoas acometidas de tal doença. São doentes mentais que não tem noção de realidade, muitas vezes se sentem perseguidos, desconfiados, com alucinações, delírios, com manias ou então com astenia-melancolia, com dificuldade de comunicação, levando a intenso distúrbio de conduta e atenção, porque estão voltados para dentro de si. Apresentam, conforme o estado da doença, aumento ou diminuição dos reflexos.
A complexidade desses sintomas enumerados mostra a você, caro leitor a dificuldade que tal pessoa enfrentará para dirigir adequadamente um automóvel, pois na maioria das vezes seus sintomas são transferidos para o transito e para os outros motoristas em forma de projeção, estabelecendo-se aí o conflito, que torna o doente mental perigoso. Às vezes, esses indivíduos estão em tratamento especializado com psicotrópicos, medicamentos usados amplamente e com sucesso no combate dos sintomas retro-expostos, mas que embora combatam os sintomas não deixam de apresentar alguns efeitos colaterais, na maioria das vezes, inconvenientes ao motorista, por apresentarem sonolência, tonturas, vista turva, diminuição dos reflexos e da atenção.
Devemos ter cuidado para fazer uma avaliação objetiva e de bom senso em tais casos.
É importante, também, fazer uma breve consideração ao epiléptico, principalmente o não-controlado, que além de crises convulsivas e ausências no volante, pode apresentar outros sintomas como agressividade, irritabilidade, ansiedade, desconfiança, na maioria das vezes, emotiva. Temos vários casos enumerados em nosso serviço onde o acidente foi provocado por crises convulsivas ao volante e temos outros casos inclusive com agressões e morte entre motoristas.
Para o diagnostico da epilepsia temos o EEG, um exame de valor relativo, porque há casos em que seu resultado vem alterado, com foco disritmico cerebral ou crises de ausência, no entanto o individuo nunca teve uma manifestação clínica. Também existem pessoas que sofrem crises convulsivas ou crises de ausência, no entanto, apresentam eletroencefalograma normal.
Ao nosso ver, o EEG é um instrumento a ser valorizado quando dá o resultado como anormal, caso contrário a interrogação continua.
Nos EUA, a epilepsia é levada tão a sério que o motorista ou candidato faz um juramento dizendo que não sofre de epilepsia, e se algum dia vier a sofrer crise ou equivalente deixará de dirigir até ser reavaliado.
O epiléptico torna-se ainda mais problemático para o transito quando faz uso de etílicos e tóxicos, quando fica sem dormir, estafado ou sob o efeito de luzes fortes ou sons estridentes, fatores que podem desencadear crises.
Concluímos que o epiléptico deve sempre ser bem assistido pelo seu médico e que o diagnostico do mesmo é fundamental para seu tratamento e recuperação. E a melhor maneira de fazê-lo é através de um bom exame médico.
Enfim, temos o deficiente mental ou oligofrênico, cuja característica é o atraso no aprendizado, na inteligência. São pessoas que oferecem perigo no transito porque tem dificuldade em criticar o perigo, brigam facilmente, entram em conflito e se desestruturam, porque suas defesas psicológicas são incompletas, vulneráveis e sua autocrítica é prejudicada.
A conclusão tirada após oito anos examinando motoristas envolvidos em acidentes de transito enquadrados no art. 77 do antigo CNT é que o exame médico deve ser encarado com muita responsabilidade e feito minuciosamente, se necessário deve-se pedir exames complementares com estudo da personalidade como salvaguarda na prevenção dos acidentes de transito, que é o nosso grande objetivo.
*Artigo retirado do Livro Ser Humano – O Desafio.
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