segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Cinto de segurança



Os cintos de segurança foram patenteados em 1903 e usados desde 1922 em carros de corrida, mas só foram instalados em carros de passeio na década de 60 nos Estados Unidos. Porém, a partir de 1966, todos os fabricantes de automóveis passaram a instalar cintos dianteiros e traseiros em suas produções.
Cinto de segurança é um assunto que pode parecer corriqueiro para a maioria das pessoas, e é justamente aí onde está o perigo. Por que? Por causa da sensação de domínio que o ser humano costuma experimentar  depois de haver executado a mesma tarefa várias vezes, como, por exemplo, dirigir com apenas uma das mãos, estacionar habilidosamente o carro sem olhar no retrovisor, fazer curvas em alta velocidade etc. A questão é que somos seres humanos, ou seja, não máquinas, e erramos quando muito confiantes em rotinas, pois, como seres biológicos, somos afetáveis pelo ambiente externo o tempo todo.

Neste capítulo, conheceremos um pouco das agravantes em acidentes de trânsito, bem como da cinemática dos corpos dentro de veículos envolvidos em acidentes, uma vez que estes são fatores fundamentais para a diagnose ou a previsão de potenciais lesões adquiridas nestes eventos.

Através da biomecânica, podemos relacionar elementos de engenharia e medicina, considerando as forças físicas envolvidas nas colisões e a anatomia humana.  Tomemos como exemplo um choque frontal, onde  os passageiros sem cinto de segurança pode sofrer um impacto de até 50 vezes o peso do próprio corpo. Que estrutura humana aguenta tal força? Com o sinto de segurança, esse numero reduz-se a 11 vezes o próprio peso. E isso já é uma significativa ajuda, estando aí a grande diferença que salva muitas vidas no trânsito.
Por que o corpo sofre esse imenso impacto?
Isso acontece porque o automóvel perde toda a sua velocidade em uma fração de segundos quando colide. Mais precisamente, essa desaceleração se dá num espaço de centímetros. Numa colisão frontal contra uma árvore ou um poste, por exemplo, segundo montadoras brasileiras, um veículo nacional pequeno ou médio (de 1.100 a 1.350 kg), a 50 km/h (ou 13m/s), deforma 50 centímetros, enquanto um grande (de 1.750 kg) deforma 81 centímetros. Considerando que essa desaceleração acontece um pouco mais de um décimo de segundo, pode-se prever que uma pessoa de 70kg tem que vencer uma força de aproximadamente 800kg, o que nem o homem mais forte do mundo conseguiria. Assim, não há alças de teto, encostos ou bancos em que agarrar-se, pois nem estes suportam tal impacto. O cinto de segurança sim, porque está projetado para forças de dois mil quilos.

E o que dizer sobre a falácia de que o cinto de segurança pode emperrar em um acidente e prender o passageiro, que fica vulnerável a queimaduras e afogamentos?

Isso pode ser facilmente respondido com outra pergunta: como alguém poderá ajudar-se estando inconsciente? É bom lembrar que o passageiro sem cinto, no momento de uma colisão, se não for arremessado imediatamente para fora do carro, vai debater-se contra as partes internas do veículo, tendo geralmente a cabeça atingida e perda da consciência. E uma das funções do cinto de segurança é evitar que  isso ocorra.

Além do que, num impacto, o fecho do cinto tem muito menos probabilidade de ser atingido (e travar) do que as portas do carro. Assim, está-se colocando o problema num objeto diminuto que necessita apenas de uma das mãos do passageiro para que aperte o botão e libere o cinto. Depois disso, é claro, ele terá que abrir a porta ou baixar o vidro do carro para escapar de situações de água ou fogo iminentes.
Está sempre seguro quem viaja no banco de trás?
Muitas pessoas acham que na parte de trás do carro não é necessário usar o cinto de segurança, porque pensam que os bancos dianteiros protegem de um eventual impacto, além de haver os encostos, alças de teto para agarrar-se. O problema é que não há tempo para pensar em se segurar ou se esquivar, sem contar que muitas vezes os impactos ocorrem nas laterais do veículo, onde os passageiros sem cinto de segurança ficam soltos e perigosamente em risco de impacto direto. Não é por nada que os especialistas consideram o banco traseiro o “reino da ignorância”.
Há vários casos de passageiros ocupantes do banco traseiro que, por não estarem usando o cinto de segurança em colisões, foram arremessados para fora. E as consequências desse movimento brusco são: a morte, a mais óbvia, senão escoriações diversas, fraturas, invalidez etc.
Ademais, não usar o cinto no banco de trás, pode agravar a situação das pessoas que estão à frente, devido ao esmagamento causado pelas que estão atrás, pois nem mesmo o banco dianteiro pode suportar o golpe.
O cinto de segurança é o único item de segurança de um carro?
É o mais eficaz, sem duvidas, mas não é o único. Um carro tem itens de segurança ativa: tudo o que pode evitar um acidente, como freios antibloqueio, pneus aderentes, visibilidade dos vidros, espelhos, ergonomia, e também itens de segurança passiva: tudo o que pode evitar  os efeitos passivos do acidente: carroceria de deformação programada, barras de reforço nas portas, airbags, cintos de segurança, etc.
Por que tanta precaução?
As lesões causadas por acidentes de tráfego são as principais causas de morte por traumatismo e a décima causa das mortes em todo o mundo. E é muito lógico que ninguém gostaria de ferir ou ser ferido cronicamente, tampouco de morrer ou tirar a vida de alguém.
Mas vejam só, os acidentes de trânsito são a terceira causa de morte  no mundo, sendo a segunda o homicídio, e a primeira o suicídio. No Brasil, de 1980 a 2006, os acidentes de trânsito eram a segunda causa  de morte.
Vamos ampliar o momento de uma colisão de trânsito. Você sabia que ela acontece em três níveis?
O primeiro nível de colisão se dá com o próprio carro, que vai deformando-se até um limite (dependendo da velocidade).
O segundo, com ocupantes do veículo (deslocando-se a uma velocidade igual à que estava o carro) contra as partes internas do automóvel, em caso de não estarem usando o cinto de segurança. E, nesse caso, nenhuma redução dessa velocidade vai acontecer até que alguma parte do corpo atinja a estrutura interna do automóvel, primeiramente os joelhos  contra o painel de instrumentos, depois a cabeça e o tórax contra o volante (no caso de motoristas) e o painel e o para brisa (no caso dos caronas). Ao cinto de segurança restará absorver um pouco da força (devido à elasticidade do cadarço), configurando-se aí um pré-segundo impacto.
O terceiro nível de impacto é o golpe que os órgãos internos sofrem contra a estrutura óssea do corpo humano (cérebro na caixa craniana; coração e pulmão na caixa torácica), derivando daí esfacelamentos, ou rupturas e graves hemorragias internas.
O trabalho do cinto de segurança, então, é aumentar o tempo de desaceleração e reduzir as lesões graves, geralmente causadas por impactos secos, como também para impedir a ejeção do ocupante do veículo.
Que fique claro que o uso do cinto em colisões não impedirá alguns ferimentos, mas em todos os casos evitará os graves. Principalmente, nos membros inferiores dos ocupantes dos assentos dianteiros, que  costumam sofrer escoriações, por motivos óbvios de redução desse  espaço quando em uma colisão frontal.
Por outro lado, em alguns casos, devido ao uso do cinto de segurança, um dano que pode ocorrer ao passageiro é o chamado “efeito chicote”, que consiste no movimento brusco para a frente e para trás hiperextendendo e hiperflexionando o pescoço. A agravante se dá em situações em que o encosto de cabeça está mal posicionado ou indisponível quando do movimento brusco de rebote de uma colisão, daí advindo fraturas da coluna cervical e ou lesão medular.
De qualquer forma, o cinto de segurança impede que braços, pernas e cabeças de passageiros golpeem-se contra o interior rígido o automóvel, como já sabemos, e também absorve grande parte da energia do impacto, distribuindo a restante pelos pontos mais fortes do corpo, além de manter os ocupantes no lugar quando de paradas bruscas, curvas acentuadas, o que contribui para que seja menos cansativo dirigir.
Gestantes devem usar cinto?
Para as mulheres grávidas, a recomendação é a de que usem o cinto de segurança de três pontos, atentando para que  a parte pélvica desta fique abaixo da protuberância abdominal, ao longo dos quadris e na parte superior da coxa, sendo que a faixa diagonal deve cruzar o meio do ombro, passando entre as mamas e lateralmente ao abdome, nunca sobre o útero. Ademais se a gestante estiver conduzindo, as indicações são de que afaste o banco do volante (desde que permita ter um bom controle com os braços na direção e os pés nos pedais) para criar um espaço que, em caso de colisão, com folga do cinto de segurança, não golpeie a condutora contra o mesmo.
Por mais que muitas gestantes pensem que usar o cinto é prejudicial ao feto, o de três pontos é, na verdade, o único que confere proteção na imensa maioria dos casos de colisões.
Como proteger nossas crianças?
Todos sabemos que uma criança é um ser em formação, logo sua estrutura óssea e órgãos internos são significativamente menos resistentes do que os de um adulto, não importando o seu tamanho, pois o amadurecimento do corpo só ocorrerá com o avanço da idade.
Sendo assim, faz-se necessário um dispositivo de retenção adicional para crianças, uam vez que os cintos convencionais para adultos podem representar muita carga no momento de um impacto. Para essa função, surgiram as popularmente conhecidas cadeirinhas, que são fixas ao veículo pelo cinto de segurança do mesmo para absorverem mais uma parcela de energia dos cadarços, minimizando o efeito ao pequeno passageiro.
É verdade que, muitas vezes, não é fácil acomodar crianças naquele espaço delimitado, pois elas geralmente são  irrequietas e imprevisíveis, sendo a disciplina tarefa pela a qual o adulto deve zelar, sempre com paciência e atenção, para que tão logo a criança saia da maternidade já vá se acostumando à cadeirinha. Ademais que uma criança  solta  dentro do carro pode tirar a atenção do motorista. Segundo a norma NBR 14400, há quatro tipos de dispositivos de retenção para crianças: a) até 13 kg, para as de zero a 6 meses; b) 9 a 18kg, para crianças de 4 a 32 meses; c) 15 a 25 kg, para as de 18 a 60 meses; d) 22 a 36 kg, para crianças de 50 a 90 meses.
Crianças maiores, a partir de 5 anos aproximadamente, já conseguem suportar as cargas dos cintos tradicionais, porém, como não têm altura suficiente, devem ser colocadas sob um assento especial chamado buster. Assim, o cinto pode cruzar pelos lugares mais fortes de seu corpo (clavícula e pélvis, respectivamente para os cadarços diagonal e subabdominal). Almofadas não servem para esse tipo de ajuste, pois podem, em uma colisão, fazer a criança escorregar.
Romaro e Fonseca também verificam algumas marcas de cintos de seguranças infantis (anunciadas em 2004 como mais confortáveis por permitirem liberdade à criança), na verdade, feriam o conceito de retenção estabelecido pela NBR 14400 da ABNT, que estabelece requisitos de segurança para esse tema. A pesquisa mostrou que quando tais cintos, testados a um impacto de 50 km/h, que deveriam reter a criança (simulada com boneco de 15 kilos, representando uma idade aproximada de 3 anos), arrebentavam no fecho ou no próprio cadarço.
O mesmo teste foi aplicado a bonecos de 28kg (crianças de aproximadamente 6 anos), tendo obtido iguais resultados negativos, e os mesmos deslocamentos para a frente e posterior ricochete.
É por isso que diversos especialistas aconselham para, quando formos escolher um dispositivo de retenção de crianças, que observemos se está aprovado e certificado pela norma  brasileira NBR 14400 ou pelas normas europeias ECE R44 ou americana FMVSS213.

Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra

Marisa Potiens Zilio
Psicopedagoga