Os cintos de segurança foram
patenteados em 1903 e usados desde 1922 em carros de corrida, mas só foram
instalados em carros de passeio na década de 60 nos Estados Unidos. Porém, a
partir de 1966, todos os fabricantes de automóveis passaram a instalar cintos
dianteiros e traseiros em suas produções.
Cinto de segurança é um assunto
que pode parecer corriqueiro para a maioria das pessoas, e é justamente aí onde
está o perigo. Por que? Por causa da sensação de domínio que o ser humano costuma
experimentar depois de haver executado a
mesma tarefa várias vezes, como, por exemplo, dirigir com apenas uma das mãos,
estacionar habilidosamente o carro sem olhar no retrovisor, fazer curvas em
alta velocidade etc. A questão é que somos seres humanos, ou seja, não
máquinas, e erramos quando muito confiantes em rotinas, pois, como seres
biológicos, somos afetáveis pelo ambiente externo o tempo todo.
Neste capítulo, conheceremos um
pouco das agravantes em acidentes de trânsito, bem como da cinemática dos
corpos dentro de veículos envolvidos em acidentes, uma vez que estes são
fatores fundamentais para a diagnose ou a previsão de potenciais lesões
adquiridas nestes eventos.
Através da biomecânica, podemos
relacionar elementos de engenharia e medicina, considerando as forças físicas
envolvidas nas colisões e a anatomia humana.
Tomemos como exemplo um choque frontal, onde os passageiros sem cinto de segurança pode
sofrer um impacto de até 50 vezes o peso do próprio corpo. Que estrutura humana
aguenta tal força? Com o sinto de segurança, esse numero reduz-se a 11 vezes o
próprio peso. E isso já é uma significativa ajuda, estando aí a grande
diferença que salva muitas vidas no trânsito.
Por que o corpo sofre esse imenso
impacto?
Isso acontece porque o automóvel
perde toda a sua velocidade em uma fração de segundos quando colide. Mais
precisamente, essa desaceleração se dá num espaço de centímetros. Numa colisão
frontal contra uma árvore ou um poste, por exemplo, segundo montadoras
brasileiras, um veículo nacional pequeno ou médio (de 1.100 a 1.350 kg), a 50
km/h (ou 13m/s), deforma 50 centímetros, enquanto um grande (de 1.750 kg)
deforma 81 centímetros. Considerando que essa desaceleração acontece um pouco
mais de um décimo de segundo, pode-se prever que uma pessoa de 70kg tem que
vencer uma força de aproximadamente 800kg, o que nem o homem mais forte do
mundo conseguiria. Assim, não há alças de teto, encostos ou bancos em que
agarrar-se, pois nem estes suportam tal impacto. O cinto de segurança sim, porque
está projetado para forças de dois mil quilos.
E o que dizer sobre a falácia de
que o cinto de segurança pode emperrar em um acidente e prender o passageiro,
que fica vulnerável a queimaduras e afogamentos?
Isso pode ser facilmente
respondido com outra pergunta: como alguém poderá ajudar-se estando
inconsciente? É bom lembrar que o passageiro sem cinto, no momento de uma
colisão, se não for arremessado imediatamente para fora do carro, vai
debater-se contra as partes internas do veículo, tendo geralmente a cabeça
atingida e perda da consciência. E uma das funções do cinto de segurança é
evitar que isso ocorra.
Além do que, num impacto, o fecho
do cinto tem muito menos probabilidade de ser atingido (e travar) do que as
portas do carro. Assim, está-se colocando o problema num objeto diminuto que
necessita apenas de uma das mãos do passageiro para que aperte o botão e libere
o cinto. Depois disso, é claro, ele terá que abrir a porta ou baixar o vidro do
carro para escapar de situações de água ou fogo iminentes.
Está sempre seguro quem viaja no
banco de trás?
Muitas pessoas acham que na parte
de trás do carro não é necessário usar o cinto de segurança, porque pensam que
os bancos dianteiros protegem de um eventual impacto, além de haver os
encostos, alças de teto para agarrar-se. O problema é que não há tempo para
pensar em se segurar ou se esquivar, sem contar que muitas vezes os impactos
ocorrem nas laterais do veículo, onde os passageiros sem cinto de segurança
ficam soltos e perigosamente em risco de impacto direto. Não é por nada que os
especialistas consideram o banco traseiro o “reino da ignorância”.
Há vários casos de passageiros
ocupantes do banco traseiro que, por não estarem usando o cinto de segurança em
colisões, foram arremessados para fora. E as consequências desse movimento
brusco são: a morte, a mais óbvia, senão escoriações diversas, fraturas,
invalidez etc.
Ademais, não usar o cinto no
banco de trás, pode agravar a situação das pessoas que estão à frente, devido
ao esmagamento causado pelas que estão atrás, pois nem mesmo o banco dianteiro
pode suportar o golpe.
O cinto de segurança é o único
item de segurança de um carro?
É o mais eficaz, sem duvidas, mas
não é o único. Um carro tem itens de segurança ativa: tudo o que pode evitar um
acidente, como freios antibloqueio, pneus aderentes, visibilidade dos vidros,
espelhos, ergonomia, e também itens de segurança passiva: tudo o que pode
evitar os efeitos passivos do acidente:
carroceria de deformação programada, barras de reforço nas portas, airbags,
cintos de segurança, etc.
Por que tanta precaução?
As lesões causadas por acidentes
de tráfego são as principais causas de morte por traumatismo e a décima causa
das mortes em todo o mundo. E é muito lógico que ninguém gostaria de ferir ou
ser ferido cronicamente, tampouco de morrer ou tirar a vida de alguém.
Mas vejam só, os acidentes de
trânsito são a terceira causa de morte
no mundo, sendo a segunda o homicídio, e a primeira o suicídio. No
Brasil, de 1980 a 2006, os acidentes de trânsito eram a segunda causa de morte.
Vamos ampliar o momento de uma
colisão de trânsito. Você sabia que ela acontece em três níveis?
O primeiro nível de colisão se dá
com o próprio carro, que vai deformando-se até um limite (dependendo da
velocidade).
O segundo, com ocupantes do
veículo (deslocando-se a uma velocidade igual à que estava o carro) contra as
partes internas do automóvel, em caso de não estarem usando o cinto de
segurança. E, nesse caso, nenhuma redução dessa velocidade vai acontecer até
que alguma parte do corpo atinja a estrutura interna do automóvel,
primeiramente os joelhos contra o painel
de instrumentos, depois a cabeça e o tórax contra o volante (no caso de
motoristas) e o painel e o para brisa (no caso dos caronas). Ao cinto de
segurança restará absorver um pouco da força (devido à elasticidade do cadarço),
configurando-se aí um pré-segundo impacto.
O terceiro nível de impacto é o
golpe que os órgãos internos sofrem contra a estrutura óssea do corpo humano
(cérebro na caixa craniana; coração e pulmão na caixa torácica), derivando daí
esfacelamentos, ou rupturas e graves hemorragias internas.
O trabalho do cinto de segurança,
então, é aumentar o tempo de desaceleração e reduzir as lesões graves,
geralmente causadas por impactos secos, como também para impedir a ejeção do
ocupante do veículo.
Que fique claro que o uso do
cinto em colisões não impedirá alguns ferimentos, mas em todos os casos evitará
os graves. Principalmente, nos membros inferiores dos ocupantes dos assentos
dianteiros, que costumam sofrer
escoriações, por motivos óbvios de redução desse espaço quando em uma colisão frontal.
Por outro lado, em alguns casos,
devido ao uso do cinto de segurança, um dano que pode ocorrer ao passageiro é o
chamado “efeito chicote”, que consiste no movimento brusco para a frente e para
trás hiperextendendo e hiperflexionando o pescoço. A agravante se dá em
situações em que o encosto de cabeça está mal posicionado ou indisponível quando
do movimento brusco de rebote de uma colisão, daí advindo fraturas da coluna
cervical e ou lesão medular.
De qualquer forma, o cinto de
segurança impede que braços, pernas e cabeças de passageiros golpeem-se contra
o interior rígido o automóvel, como já sabemos, e também absorve grande parte
da energia do impacto, distribuindo a restante pelos pontos mais fortes do
corpo, além de manter os ocupantes no lugar quando de paradas bruscas, curvas
acentuadas, o que contribui para que seja menos cansativo dirigir.
Gestantes devem usar cinto?
Para as mulheres grávidas, a
recomendação é a de que usem o cinto de segurança de três pontos, atentando
para que a parte pélvica desta fique
abaixo da protuberância abdominal, ao longo dos quadris e na parte superior da
coxa, sendo que a faixa diagonal deve cruzar o meio do ombro, passando entre as
mamas e lateralmente ao abdome, nunca sobre o útero. Ademais se a gestante
estiver conduzindo, as indicações são de que afaste o banco do volante (desde que
permita ter um bom controle com os braços na direção e os pés nos pedais) para
criar um espaço que, em caso de colisão, com folga do cinto de segurança, não golpeie
a condutora contra o mesmo.
Por mais que muitas gestantes
pensem que usar o cinto é prejudicial ao feto, o de três pontos é, na verdade,
o único que confere proteção na imensa maioria dos casos de colisões.
Como proteger nossas crianças?
Todos sabemos que uma criança é
um ser em formação, logo sua estrutura óssea e órgãos internos são significativamente
menos resistentes do que os de um adulto, não importando o seu tamanho, pois o
amadurecimento do corpo só ocorrerá com o avanço da idade.
Sendo assim, faz-se necessário um
dispositivo de retenção adicional para crianças, uam vez que os cintos
convencionais para adultos podem representar muita carga no momento de um
impacto. Para essa função, surgiram as popularmente conhecidas cadeirinhas, que
são fixas ao veículo pelo cinto de segurança do mesmo para absorverem mais uma
parcela de energia dos cadarços, minimizando o efeito ao pequeno passageiro.
É verdade que, muitas vezes, não é
fácil acomodar crianças naquele espaço delimitado, pois elas geralmente são irrequietas e imprevisíveis, sendo a
disciplina tarefa pela a qual o adulto deve zelar, sempre com paciência e
atenção, para que tão logo a criança saia da maternidade já vá se acostumando à
cadeirinha. Ademais que uma criança
solta dentro do carro pode tirar
a atenção do motorista. Segundo a norma NBR 14400, há quatro tipos de
dispositivos de retenção para crianças: a) até 13 kg, para as de zero a 6
meses; b) 9 a 18kg, para crianças de 4 a 32 meses; c) 15 a 25 kg, para as de 18
a 60 meses; d) 22 a 36 kg, para crianças de 50 a 90 meses.
Crianças maiores, a partir de 5
anos aproximadamente, já conseguem suportar as cargas dos cintos tradicionais,
porém, como não têm altura suficiente, devem ser colocadas sob um assento
especial chamado buster. Assim, o cinto pode cruzar pelos lugares mais fortes
de seu corpo (clavícula e pélvis, respectivamente para os cadarços diagonal e
subabdominal). Almofadas não servem para esse tipo de ajuste, pois podem, em
uma colisão, fazer a criança escorregar.
Romaro e Fonseca também verificam
algumas marcas de cintos de seguranças infantis (anunciadas em 2004 como mais
confortáveis por permitirem liberdade à criança), na verdade, feriam o conceito
de retenção estabelecido pela NBR 14400 da ABNT, que estabelece requisitos de
segurança para esse tema. A pesquisa mostrou que quando tais cintos, testados a
um impacto de 50 km/h, que deveriam reter a criança (simulada com boneco de 15
kilos, representando uma idade aproximada de 3 anos), arrebentavam no fecho ou
no próprio cadarço.
O mesmo teste foi aplicado a
bonecos de 28kg (crianças de aproximadamente 6 anos), tendo obtido iguais
resultados negativos, e os mesmos deslocamentos para a frente e posterior
ricochete.
É por isso que diversos
especialistas aconselham para, quando formos escolher um dispositivo de
retenção de crianças, que observemos se está aprovado e certificado pela
norma brasileira NBR 14400 ou pelas
normas europeias ECE R44 ou americana FMVSS213.
Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra
Marisa Potiens Zilio
Psicopedagoga
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