quarta-feira, 19 de maio de 2010

ELETROCONVULSOTERAPIA

A terapia convulsiva ou convulsoterapia foi introduzida em 1934 por Ladislas Joseph von Meduna, neuropsiquiatra húngaro. Por acreditar que pacientes com epilepsia poderiam ser protegidos do desenvolvimento de sintomas psicóticos típicos da esquizofrenia. Levantou a hipótese de que a indução de convulsões em pacientes com esquizofrenia poderia reduzir os seus sintomas. Desta forma, von Meduna produzia crises convulsivas generalizadas, induzidas quimicamente, em pacientes esquizofrênicos, com base na crença errada de que a esquizofrenia e a epilepsia eram mutuamente incompatíveis. Apesar da falsa lógica, logo se tornou evidente que a terapia convulsiva, geralmente, resultava em dramática melhora clínica dos pacientes psiquiátricos.
Substituindo a indução de convulsões com químicos por indução com eletricidade, em 1937, os neuropsiquiatras italianos Ugo Cerletti e Lucio Bini descobriram que assim era mais fácil induzir as convulsões e regular a eletrecidade do que com os agentes farmacológicos. Esse método passou a ser conhecido como eletroconvulsoterapia ou EC, que em poucos anos tornou-se , o principal método de tratamento biológico, não apenas para a esquizofrenia mas também, e principalmente, para transtornos do humor.
Esse método é conhecido pelos leigos como “ELETROCHOQUE”, sendo um tratamento marcado por preconceitos e criticas infundadas. Também é visto como um tratamento medieval e agressivo, que pode chegar as vias da tortura ou do castigo. Entretanto, na realidade, é um tratamento padronizado, utilizado no mundo todo e realizado com anestesia geral,controle cardiológico e eletroencefalografico. Atualmente, a eletroconvulsoterapia é um dos tratamentos mais eficazes para a depressão e mania (euforia).
Pela sua rápida eficácia e baixo risco para a saúde do paciente, é indicado para casos de depressão com risco de vida eminente (por inanição ou por risco de suicídio), ou em pacientes que não respondem a medicação.
Por sua tolerabilidade e por não possuir efeitos colaterais medicamentosos, é i tratamento de primeira escolha nos episódios efetivos em mulheres grávidas (por ser mais seguro para o feto), como é também recomendado para o uso em idosos.
Contudo, o tratamento com a ECT é considerado controverso e polemico. Sua própria natureza, assim como seu histórico de abuso,contribuiu para que o contexto da eletroconvulsoterapia fosse visto de forma distorcida, porém, seguramente, não passa de pura especulação ou falta de informação.
Com uma voltagem muitíssimo menor, comparada ao do choque para reanimação cardíaca, o choque da ECT é aplicado nas têmporas sendo menor de idade risco para o paciente para o paciente.
Será que as pessoas acreditam de fato que a morte por parada cardíaca é mais letal que a morte causada pelo suicídio, aceitando um tipo de choque e não de outro?
Assim como qualquer outro tipo de tratamento, quando bem indicado e aplicado, a ECT é um tratamento seguro que pode salvar vidas, com resultados rápidos e de baixo custo.
Ao contrário do que a população leiga e, curiosamente, alguns profissionais da área de saúde mental costumam imaginar, a eletroconvulsoterapia continua sendo empregada de forma eficaz pela moderna psiquiatria. É uma técnica efetivamente consagrada em todos os continentes e, comparada aos medicamentos psicotrópicos e de um modo geral, as evidencias apontam para um benefício maior da ECT freqüentemente exercendo um bom efeito, a curto prazo.
A eletroconvulsoterapia foi induzida na psiquiatria e foi comumente usada como tratamento de primeira escolha para a depressão e esquizofrenia, principalmente, o tipo catatônico. Com pouco e relativamente benignos efeitos colaterais, é muito bem empregada, imagem do paciente sendo arrastada por truculentos enfermeiros amarrados a força na cama e queimado por dois eletrodos na cabeça pertence apenas a imaginação de alguns filmes sensacionalistas.
Pesquisas recentes indicam que nos Estados Unidos aproximadamente maior ou grave, com risco de vida e a e Esquizofrenia hoje nos Estados Unidos e na Europa e principal indicação aos casos com risco de suicídio com resultados mais rápidos e objetivos.

As indicações mais comuns para essa terapia são :
• Risco de suicídio
• Episódios depressivos resistentes
• Episódios depressivos graves com sintomas psicóticos.
• Episódios depressivos em idosos.
• Episódios depressivos em gestantes.
• Episódios maníacos em gestantes.
• Episódios maníacos graves com sintomas psicóticos.
• Episódios maníacos resistentes
• Depressão da Doença de Parkinson.
• Síndrome Neuroléptica Maligna
• Esquizofrenia resistente a medicação ou risco de vida.

A eletroconvulsoterapia, antes associada à punição e tortura, é usada com sucesso em casos graves de depressão. Contudo, uma boa avaliação médica sempre se fará necessária. Por isso, é indispensável combater a desinformação em relação a ECT, assim como, depurar as opiniões sobre o tema, as simpatias mais apaixonadas, como pode acontecer em relação à psiquiatria eminentemente biológica, psicológica, farmacológica, alternativa e outras.
Em Passo Fundo, possuímos equipamentos da ultima geração, para a prática de ECT. Entretanto, para o uso da ECT, cabe lembrar que se faz necessário a formação de equipe com profissionais competentes para que o paciente não fique exposto a riscos. Tal procedimento, preferencialmente, também deve ser realizado em hospitais. Já tivemos a oportunidade de submeter pacientes a centenas de ECT, principalmente em São Paulo, mas também em Passo Fundo, quando fundamos o Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes e Hospital da Cidade , sempre com bons resultados e nem um inconveniente clínico. .
Para maximizar benefícios e minimizar riscos da ECT,o diagnóstico deve ser correto além disso, a ECT deve ser administrada somente para indicações apropriadas, Em contrapartida, os eventuais efeitos adversos devem ser comparados aos riscos e eficácia do tratamento medicamentoso.O impacto da ECT no status mental, particularmente com respeito á orientação e a memória, deve ser avaliado durante o curso de ECT.
Esta avaliação deve ser conduzida antes do começo do tratamento, a fim de estabelecer um nível da linha de base de funcionar e ser repetida, ao menos semanalmente, durante todo o curso de ECT.
Sugere-se que a avaliação cognitiva seja feita, pelo menos, 24 horas depois de uma aplicação de ECT para evitar a contaminação da cognição pelos efeitos fisiológicos agudos da ECT. A avaliação pode incluir a orientação e a memória e /ou umas medidas mais formais.


Para maiores informações:
http://www.psiqweb.med.br/eletroconv.htm1
http://www.neuropsiconews.org.br


Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra
CRM-RS 15.516

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Distúrbios Psiquiátricos em Comorbidade


Distúrbios Psiquiátricos em Comorbidade
Com a Drogadição e Acidentes de Trânsitos.
O Mal do Século



O tema drogadição vem chamando a atenção de todos em âmbito mundial, seja pelo consumo de drogas lícitas ou pelo consumo de drogas ilícitas, pois esta é uma questão de saúde pública e atinge diferentes esferas sociais. Uma das últimas medidas relacionadas ao consumo de drogas lícitas, tomada pelo governo brasileiro, foi o aumento dos impostos IPI, sobre o cigarro em 23%, e 20% de aumento sobre o maço do cigarro, na tentativa de diminuição de consumo do cigarro. Pesquisas relatam a diminuição em 4% nos países desenvolvidos, e de 8% em países em desenvolvimento. Medida esta tomada com a promessa de que a verba arrecadada estaria destinada à saúde pública, hoje precariamente desassistida, às obras sociais e educação, bem como ao ensino técnico e investimento em universidades.
Precisamos de coragem na prevenção e na ação curativa. Hoje ambas atuam somente na diminuição da drogadição. A drogadição oferece atualmente um risco imensurável para a educação, a saúde, a segurança, a justiça. Com punições objetivas e democráticas e com encaminhamento ao trabalho, acredito que os resultados serão mais objetivos.
Tomemos como exemplo a medida tomada pelo governo americano em relação ao consumo do tabaco, quando da crise econômica e financeira mundial. O mesmo triplicou os impostos e aumentou as restrições do consumo em locais públicos e privados, medidas estas que culminaram na diminuição do uso de tabaco consideravelmente. As estatísticas nos mostram que o tabagismo é causa de morte de 440.000 pessoas nos EUA e de 200.000 mortes no Brasil, ao ano, mortes estas decorrentes de males ligados ao uso de tabaco.
Em 1996, iniciaram as campanhas contra o uso de cigarros no Brasil, medidas como, por exemplo, a restrição dos horários das propagandas. Em 1998 delimitaram-se locais para fumantes, no ano de 2000 foi proibida a propaganda na mídia, e em 2001 a proibição atingiu as promoções culturais que tivessem como patrocinador as marcas de cigarros.
A indústria tabagista movimenta uma importante fatia do mercado quando da criação de empregos diretos e indiretos, porém torna-se a principal vilã no que diz respeito às questões médicas e sociais. Alertam os fumicultores, comerciantes, políticos e industriais que o desemprego na indústria tabagista é assustador e a queda do PIB é significativo, pois a indústria de tabaco emprega 2.4 milhões de pessoas, mais que a construção civil, e recolhe 7 bilhões de reais em impostos. Porém, os danos provocados pelo uso do fumo vão desde o mau cheiro até o câncer, sem deixar de considerar problemas como má circulação sanguínea, problemas cardíacos, do sistema gástrico, respiratório e danos cerebrais, culminando isto em um aumento de PIB muito maior, com gastos em saúde pública.
Há longa data a Associação Médica do Rio Grande do Sul, vem se dedicando ao trabalho intitulado “FUMO ZERO”, incentivado pela ONG Vida Solidadria da Amrigs, do qual sou fundador e se destaca pelo trabalho educacional, preventivo e curativo que vem desenvolvendo. Nossas pesquisas mostram que a diminuição no consumo do cigarro, culmina na diminuição de consultas médicas, internações, dias de serviço perdidos, estados de invalidez e morte.
Podemos ir além e refletirmos sobre quantos acidentes de transito são provocados pelo uso de drogas lícitas e ilícitas. No livro “SER HUMANO – O DESAFIO” em “Aspectos Psicopatológicos do homem no Trânsito”, referimos que o uso do álcool e o ato de dirigir, são o maior contribuinte no número de acidentes de trânsito com morte. Devemos votos louváveis à lei seca, iniciada por nós no congresso Abramet em Goiânia em 1985. Desde então esperamos controle da ingestão de bebidas alcoólicas nas cidades após as 23 horas, nos restaurantes e bares, principalmente pelos menores que hoje apesar da Lei Seca fazem uso sem controle, não há fiscalização adequada.
Pensamos que a ganância do capitalismo seja talvez a maior responsável na manutenção das dependências químicas, ganância esta movida pela busca cega do poder e dinheiro, causa maior da violência e criminalidade. Com a crise econômica mundial, poucas pessoas em seis importantes países se destacam, porém esquecem os atentados e a pirataria que gera violência e agressão globalizada direcionada na maioria das vezes a inocentes.
Pensando na questão das drogas ilícitas, podemos observar as constantes manifestações da mídia a respeito da maconha e sua legalização. A REVISTA VEJA, Edição 2107, e o JORNAL ZH de 12/04/2009, pg. 28, e 25/03/2010-fl.41, mostram dados surpreendentes sobre o tema. No JORNAL ZH vimos declarações do ex Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, um dos coordenadores da comissão Latina Americana sobre drogas e democracia.
Já foram apresentadas propostas na Comissão de Entorpecentes da ONU, em Viena e na Áustria, mantendo a política “GUERRA ÀS DROGAS” com articulações para com a saúde pública e política de redução de danos devido ao aumento do consumo e a gravidade da situação que estamos vivendo.
Tratando da legalização ou não da maconha devemos refletir sobre os modelos já existentes, o repressivo, que vem sendo implantado em países como EUA, Rússia e Japão e o modelo aplicado pela Holanda, mais liberal em relação ao consumo da droga.
Acreditamos que se deve pensar em novas alternativas, deve-se discutir de forma mais objetiva e democrática formas de prevenção e combate. O uso da maconha poderia talvez ser comparada ao uso de cigarro e álcool, existindo leis que normatizassem seu uso. A possibilidade de realizar estudos comparativos dos danos. As drogas lícitas proporcionando análise por uma bancada multiprofissional.
Pensar e discutir novas alternativas e posicionamentos em relação às drogas é dever de todos: poderes executivo, legislativo e judiciário, empresários, polícias civil, federal e militar, sociedade e amigos de bairros, escolas, universidades, hospitais e todos os profissionais, principalmente os da área da saúde, para que analisem os prós e contras, em reuniões em ONGS em órgãos representativos.
Podemos nos questionar sobre o porquê o uso do cigarro e do álcool, são vistos de forma mais amena e que freqüentemente ouvimos a que “a maconha é porta de entrada para outras drogas”. Achamos que o tabaco e o álcool, também são portas de entrada para drogas mais pesadas, como é o caso da Cocaína e do CRACK. Os que defendem a venda da maconha normatizada, assim como o tabaco e o álcool, sinalizam que tal atitude traria mais impostos mais recursos para o meio social, educação e saúde, menos tráfico, menos criminalidade e violência, menos prejuízo em todos os sentidos. Além da problemática vista, quando da abordagem de um usuário de maconha, sendo que este ato não é considerado crime, mas quando abordado pela polícia,usando maconha muitas vezes acaba por ser julgado com arbitrariedade e condenado, conforme interesses os mais diversos e com várias interpretações da policia e da justiça. Compartilhamos neste sentido com o ex Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e sua adorável esposa Rute, estudiosa do assunto. Precisamos rever a legislação brasileira neste sentido como exemplo temos o projeto do deputado Tom Ammiano,que para ajudar a Califórnia EUA, a sair do vermelho,propõe a liberação do consumo de maconha. Com a produção e o consumo regularizados, o governo poderia taxar o produto e engordar a receita dos cofres públicos em cerca de US$ 1.4 bilhões de dólares (R$ 2.66 bilhões) ao ano. Na Califórnia o uso de maconha é permitido, para fins medicinais,assim como no Canadá, na Holanda, Israel, a venda e o consumo da mesma são autorizados em cafeterias cadastradas pelo governo, na Argentina a justiça liberou o consumo recentemente, como já era no Equador, Espanha.
O deputado Californiano é mais audacioso ele quer regulamentar o consumo para maiores de 21 anos para arrecadar impostos. A idéia seria cobrar US$(R$ 94.00)por onça (equivalente a 28.38 gramas) O déficit de 26 bilhões ( R$ 48.91)levou o próprio governador Arnold Schwarzenegger,a pedir em maio um estudo sobre a legalização e taxação da mesma.
Devemos estudar cuidadosamente o que outros países estão fazendo para legalizar a maconha, se depender da opinião pública, está garantida uma consulta feita pelo estado, que mostra que 56 % dos eleitores registrados, apóiam a legalização e a taxação da maconha. Já para contrabalançar o déficit publico a cidade de Oakland (Califórnia) é a 1ª a cobrar impostos de produtos medicinais derivados da cannabis sativa. O estudo está se estendendo para outros estados. Haverá plebiscito na eleição de novembro para liberação do uso da maconha ou não, sob vigilância.
A sociedade deve ser bem informada, educada, ou seja, esclarecida sobre as questões da dependência química. Segundo Classificação Internacional de Doenças, CID-10, dependência química é doença. Como ficam os casos de uso compulsivo, intoxicados, em crise e que provocam crimes? No âmbito do tratamento hospitalar se deve prestar muita atenção com o que pode estar mascarado com o uso compulsivo de qualquer droga. Um exemplo prático é de que os pacientes internados no hospital Psiquiátrico da cidade de Passo Fundo por dependência de álcool, em estudo, apresentavam um consumo lento e progressivo, pois eram afetados por sintomas de ansiedade, insônia, problemas familiares e principalmente na depressão ainda mal entendida e mal aceita. Já tivemos esquizofrênicos que foram buscar a cocaína com desejo de diminuir o sofrimento seus sintomas psiquiátricos e assim foram se habituando.Fizeram eletroconvulsoterapia e não voltaram às uso da cocaína e de CRACK com uso de neurolepticos e até hoje não estão usando a droga . É necessário lembrar que a droga inicialmente, produz um bem estar, pois a mesma aumenta a dopamina para euforia. Ao diminuir o bem estar, dá ansiedade e depressão, leva a volta ao uso da droga para estimular a liberação da dopamina, neste momento começa a dependência e o vício.
Para pessoas adoecidas a droga muitas vezes, funciona de forma terapêutica, aliviando os sintomas, porém, instala-se o hábito. A conseqüência é a internação, o tratamento e só assim pode-se fazer o entendimento de quais os motivadores que levam o sujeito a drogadição.
Qual seria o objetivo? A sociedade deve unir-se no combate as drogas, principalmente as mais nocivas, como a cocaína, o CRACK. O momento é incontrolável no seu uso e tratamento, resultando em violência e criminalidade, e a outras drogas letais, causadoras de um verdadeiro caos social. Com isto estaremos combatendo não somente o tráfico de drogas, mas também o tráfico de influências, de armas a violência e criminalidade, causadoras de tantas mortes e mutilações.
Não podemos ser cegos, surdos, mudos e principalmente coniventes. O medo existe, mas será cada vez maior se a negligencia sobressair-se a coragem.
O órgão mais importante do corpo humano é o cérebro, devemos defendê-lo, tendo uma boa articulação e se necessário, um bom ataque, como num bom time de futebol. O jogo ainda não começou, mas o objetivo é que seja bom, saudável e justo, pois para vencer o jogo devemos jogar juntos.
Deste modo nossa sugestão é que como já dissemos sejam criados comitês, assim como possibilitar a criação de ONGS, para que cada um deles responda com sugestões de prós e contra da produção de maconha, das vendas e também dos compradores, todos credenciados a fim de discutir mensalmente a problemática exposta e combatida. Buscar a citada prevenção, a curativa, a repressão adequada é a via positiva para a solução da conflitiva da drogadição, porém a punição, a intolerância, a negligência e a omissão é direta e indiretamente o motivador da drogadição. Temos que analisar o nosso cérebro, pois cada caso é um caso, pois tudo que é usado abusivamente com obsessão e compulsão são psicologicamente do mesmo quadro, inclusive lanches e chocolates. Dependência química em comorbidade genéticas - distúrbios afetivos, esquizofrenias, pânicos, T.O.C. Preferir CRACK, ao um prato delicioso porque? Porque 80% dos presidiários voltam para o presídio? O presídio é melhor que a família e a sociedade? Leia o livro - “Ser Humano o Desafio”.


Albino Júlio Sciesleski
Médico Psiquiatra
CRM- 15516



DESAFIO

Desafio


“-Morrer! E pensas no morrer! Descer do leito do amor à pedra fria dos mortos! (...) Morrer é a dúvida que afana a existência, (...) o pressentimento que resfria a fronte do suicida, que lhe passa nos cabelos como vento de inverno e nos impalidece a cabeça, (...) é a cessação de todos os sonhos, de todas as palpitações do peito, de todas as esperanças...” (Claudius Hermann – conto V- de Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo).


Desafio, isso é o que nos motivou a escrever este livro. Porque a vida é um constante desafio. O maior deles é vencer a nós mesmos, vencer a nossa condição humana. Somos os poderosos e os mais frágeis de toda a natureza. Os mais sábios e no mesmo instante em que reinventamos constantemente a vida, somos capazes de destruí-la com o mesmo vigor.
Podemos tratar a questão da destruição sob várias ópticas e várias ciências. A Social, a Psicológica, a Psicossocial, a Ecológica... Porque não dizer que todas as ciências têm como objetivo final compreender a própria vida, o que a sustenta e como torná-la melhor, mais digna e mais longa?
Nosso objetivo, neste texto, é refletir sobre o que tratamos em nosso livro como um todo e resgatar, talvez, a nossa maior incompreensão humana: a Destruição do Outro e de Si Mesmo- Homicídio e Suicídio.
Se se levarmos em consideração alguns ensinamentos da Psicanálise/ Psicologia, veremos que oscilamos entre “dois mundos” dentro de nós mesmos. De um lado e do outro as nossas pulsões, instintos, desejos e a nossa consciência, ou inconsciência, moral, ética, estética. Nelas é que se traduzem em emoções dois instintos: os da vida e os da morte, a agressividade e a sexualidade. Tais pulsões não podem ser consideradas más ou boas, são instintos de sobrevivência, que garantem, se bem vividos, nosso equilíbrio e nossa existência.
Quando uma emoção (pulsão, instinto) se manifesta, nossos princípios, adquiridos socialmente, estão dispostos a reprimir ou não. Acontece que, muitas vezes, não nos conhecemos o suficiente para saber o que estamos reprimindo. Isto nos deixa como que insatisfeitos porque um lado de “mim mesmo” desejou e “outro” anulou sem escolher sua decisão. Esta frustração causou desequilíbrio e começa a viver como quem não se reconhece.
A agressividade positiva que me leva a conquistas como, por exemplo, a lutar pelo que quero, gosto, desejo (meu estudo, meu trabalho, minha realização) que me faz também me proteger do que faz mal ou impede minha realização (quando frustrada e não compreendida porque não reconheço minha emoção e não me reconheço nela) acaba por ser mal usada, mal colocada contra “mim mesmo” ou contra o “outro”. Torno-me destrutivo. Posso ser levado, literalmente ou implicitamente, ao ato de matar-me ou matar alguém, destruir-se ou destruir.
Como diz Dr.Albino, tais atos, atitudes, aparecem no “atacado” como suicídio e/ou homicídio (acidentes graves de trânsito, por exemplo), ou no “varejo”, como o “uso” ou a prática de ações destrutivas, como o uso de drogas licitas e elícitas principalmente, a irresponsabilidade no trânsito ou, diria também, com a incapacidade de construir-se e construir. Quantas pessoas vivem ao nosso redor somente destruindo e autodestruindo-se? Não reconhecem a si mesmos. Se frustram e não controlam seus próprios instintos.
Um dos autores que estudou o homicídio e o suicídio foi Menninger (1870). Entre outras “falas” nos espanta quando indica quantas vezes, por patologias das mais diversas, tenta-se destruir-se. Idealizamos, assim, nossa própria morte. Algumas patologias levam a várias tentativas. Parece haver nestas pessoas um continuum, um desejo maior que os levará a completar o ato quando isso não for tratado, não auxiliado. Porém, devemos lembrar que a doença (patologia) e o tratamento nem sempre vencem o “desejo” interior de matar-se ou matar. Menninger nos diz, por exemplo, que é possível que o suicídio esteja ligado a um desejo maior de voltar ao útero.
Não queremos aqui fazer uma abordagem científica, mas sim, dividir nosso conhecimento e nossa preocupação com esse ato humano, talvez o de maior incompreensão para todos nós.
Ao retomar o pensamento Freudiano, podemos dizer que ninguém se mata sem que esteja ao mesmo tempo matando um objeto com o qual se identificou, e também, voltando contra si mesmo um desejo de morte antes dirigido contra alguém. Suicídio é, antes de tudo, um homicídio, o homicídio de si próprio. Todo suicida, a nosso ver, é m homicida em potencial e vice-versa, dependendo da forma de buscar ou praticar o ato em si. Ser morto, então, pode ser compreendido como uma forma de submissão, e matar um ato de extrema agressão.
Todo sujeito que se relaciona com a morte é um representante da falta. Seja qual for sua história, haverá sempre uma perda irreparável, uma desestruturação de sua própria mente. Quando não podemos nos ver como um ser, mas apenas como um objeto, de dor, incompreendido, espectador de algo ou alguém que não reconhecemos ou compreendemos, nada mais resta do que sua destruição.
Não é nossa intenção esgotar esse assunto, que continua incompreendido e inaceitável. Queremos, sim, lembrar que homicídio e suicídio acabam nas folhas de jornais, nas cadeias e objetos da “ciência” que lhes julgará o Direito. Será que o Direito, as leis, poderão tratar de um assunto isoladamente das outras ciências?
Sentimos, por exemplo, uma enorme indignação diante de fatos como de pais que matam seus próprios filhos, que se matam diante de que os ama. Sentimos indignação com os suicídios coletivos. Sentimos repulsa com tantos acidentes de trânsito e com o excessivo uso de drogas, levando à destruição de milhares de jovens por morte e invalidez.
Será que o Direito poderá dar conta das implicações que geraram estas questões? Também no Direito a vida é o bem maior, e cabe ao Estado a sua proteção. Mas como dar conta de uma prática tão complexa?
Talvez, uma saída, seria implantar nas escolas, Detran’s, delegacias, pronto-socorros, presídios equipes multidisciplinares formada por médicos, psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, a fim de estudar os conflitos gerados e solucionar problemas, bem como para o estudo de acidentes graves de causas desconhecidas. Evitaríamos a reincidência de atos, transgressões, infrações, delitos... Muitas vezes em concomitante cometidos, por pessoas portadoras de transtornos mentais, sem diagnóstico e sem tratamento. Para ratificar esta informação, já estivemos em presídios como o Carandiru, em São Paulo e alguns do Rio Grande do Sul.
A extensão deste tema nos convoca a propor que todo ato suicida e homicida seja estudado multidisciplinarmente. É necessário que as ciências se “encontrem” para melhor compreensão dos distúrbios humanos. É necessário também que as escolas e as famílias estejam mais atentas às crianças e aos jovens e que lhes sejam oferecidos profissionais capazes de reconstruir suas vidas quando a significação das mesmas está comprometida. No último congresso de Psiquiatria em 2009 em São Paulo, pesquisador Americano falou que a primeira causa de morte violenta no mundo foi sempre o suicídio e agora vem surpreendendo logo a seguir o homicídio e a principal causa é o Transtorno Afetivo.
Ao texto podemos acrescer que o atendimento à saúde mental dos detentos é de fundamental importância. Mentes insanas só tendem a agravar nas condições de nossas prisões, condições estas que vão desde ambientes promíscuos, falta de atividade laboral, falta de objetivo, grupos saudáveis terapêuticos. Poderíamos nos perguntar? Prender para que? Proteger a sociedade? Proteger o indivíduo de si mesmo? Não seria melhor se pudéssemos responder que o principal objetivo de nossa cadeias é a recuperação do ser humano? Castigo? Ou escola para continuar a criminalidade? Será que o presídio é melhor do que a sociedade e a família, considerando que mais de 80% retornam a prisão? Pesquisando o hospital psiquiátrico da Carolina do Norte, aonde os internados ou presos vinham da guerra do Vietnã, drogaditos, violentos, psicóticos... Constatamos que, quando saiam eram controlados por chips para monitorá-los e mantê-los em tratamento para não oferecerem risco. O presídio deve ser um centro de recuperação da vida, da saúde mental, educação para o trabalho.
Em 06/04/2010 no Jornal Zero Hora, folhas 41, mostra um exemplo ótimo em Santa Rosa, ex- presidiários criaram cooperativa afim de romper o preconceito e com isso buscar a recuperação familiar do trabalho e social com acompanhamento médico e da sociedade .
Enfim, ciências e fé, devem ser devolvidas ao ser humano, para isto é que foram criadas.
A humanidade tem a tarefa de resignificar-se e somente poderá fazê-lo se objetivar trazer de volta o verdadeiro sentido de viver, SER.

Certamente, este é o grande desafio da VIDA. Na prevenção da violência e a criminalidade a educação, saúde, segurança, justiça e trabalho.
Nota: com o título de Presídio Público Privado, foi encaminhado para sugestão da Governadora Ieda Crussius em 03.04.2009. agradeceu e enviou em 27.04.2009, encaminhando para secretario do Estado de Segurança Pública Edson de Oliveira Goulart, para tomar conhecimento.