Distúrbios Psiquiátricos em Comorbidade
Com a Drogadição e Acidentes de Trânsitos.
O Mal do Século
O tema drogadição vem chamando a atenção de todos em âmbito mundial, seja pelo consumo de drogas lícitas ou pelo consumo de drogas ilícitas, pois esta é uma questão de saúde pública e atinge diferentes esferas sociais. Uma das últimas medidas relacionadas ao consumo de drogas lícitas, tomada pelo governo brasileiro, foi o aumento dos impostos IPI, sobre o cigarro em 23%, e 20% de aumento sobre o maço do cigarro, na tentativa de diminuição de consumo do cigarro. Pesquisas relatam a diminuição em 4% nos países desenvolvidos, e de 8% em países em desenvolvimento. Medida esta tomada com a promessa de que a verba arrecadada estaria destinada à saúde pública, hoje precariamente desassistida, às obras sociais e educação, bem como ao ensino técnico e investimento em universidades.
Precisamos de coragem na prevenção e na ação curativa. Hoje ambas atuam somente na diminuição da drogadição. A drogadição oferece atualmente um risco imensurável para a educação, a saúde, a segurança, a justiça. Com punições objetivas e democráticas e com encaminhamento ao trabalho, acredito que os resultados serão mais objetivos.
Tomemos como exemplo a medida tomada pelo governo americano em relação ao consumo do tabaco, quando da crise econômica e financeira mundial. O mesmo triplicou os impostos e aumentou as restrições do consumo em locais públicos e privados, medidas estas que culminaram na diminuição do uso de tabaco consideravelmente. As estatísticas nos mostram que o tabagismo é causa de morte de 440.000 pessoas nos EUA e de 200.000 mortes no Brasil, ao ano, mortes estas decorrentes de males ligados ao uso de tabaco.
Em 1996, iniciaram as campanhas contra o uso de cigarros no Brasil, medidas como, por exemplo, a restrição dos horários das propagandas. Em 1998 delimitaram-se locais para fumantes, no ano de 2000 foi proibida a propaganda na mídia, e em 2001 a proibição atingiu as promoções culturais que tivessem como patrocinador as marcas de cigarros.
A indústria tabagista movimenta uma importante fatia do mercado quando da criação de empregos diretos e indiretos, porém torna-se a principal vilã no que diz respeito às questões médicas e sociais. Alertam os fumicultores, comerciantes, políticos e industriais que o desemprego na indústria tabagista é assustador e a queda do PIB é significativo, pois a indústria de tabaco emprega 2.4 milhões de pessoas, mais que a construção civil, e recolhe 7 bilhões de reais em impostos. Porém, os danos provocados pelo uso do fumo vão desde o mau cheiro até o câncer, sem deixar de considerar problemas como má circulação sanguínea, problemas cardíacos, do sistema gástrico, respiratório e danos cerebrais, culminando isto em um aumento de PIB muito maior, com gastos em saúde pública.
Há longa data a Associação Médica do Rio Grande do Sul, vem se dedicando ao trabalho intitulado “FUMO ZERO”, incentivado pela ONG Vida Solidadria da Amrigs, do qual sou fundador e se destaca pelo trabalho educacional, preventivo e curativo que vem desenvolvendo. Nossas pesquisas mostram que a diminuição no consumo do cigarro, culmina na diminuição de consultas médicas, internações, dias de serviço perdidos, estados de invalidez e morte.
Podemos ir além e refletirmos sobre quantos acidentes de transito são provocados pelo uso de drogas lícitas e ilícitas. No livro “SER HUMANO – O DESAFIO” em “Aspectos Psicopatológicos do homem no Trânsito”, referimos que o uso do álcool e o ato de dirigir, são o maior contribuinte no número de acidentes de trânsito com morte. Devemos votos louváveis à lei seca, iniciada por nós no congresso Abramet em Goiânia em 1985. Desde então esperamos controle da ingestão de bebidas alcoólicas nas cidades após as 23 horas, nos restaurantes e bares, principalmente pelos menores que hoje apesar da Lei Seca fazem uso sem controle, não há fiscalização adequada.
Pensamos que a ganância do capitalismo seja talvez a maior responsável na manutenção das dependências químicas, ganância esta movida pela busca cega do poder e dinheiro, causa maior da violência e criminalidade. Com a crise econômica mundial, poucas pessoas em seis importantes países se destacam, porém esquecem os atentados e a pirataria que gera violência e agressão globalizada direcionada na maioria das vezes a inocentes.
Pensando na questão das drogas ilícitas, podemos observar as constantes manifestações da mídia a respeito da maconha e sua legalização. A REVISTA VEJA, Edição 2107, e o JORNAL ZH de 12/04/2009, pg. 28, e 25/03/2010-fl.41, mostram dados surpreendentes sobre o tema. No JORNAL ZH vimos declarações do ex Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, um dos coordenadores da comissão Latina Americana sobre drogas e democracia.
Já foram apresentadas propostas na Comissão de Entorpecentes da ONU, em Viena e na Áustria, mantendo a política “GUERRA ÀS DROGAS” com articulações para com a saúde pública e política de redução de danos devido ao aumento do consumo e a gravidade da situação que estamos vivendo.
Tratando da legalização ou não da maconha devemos refletir sobre os modelos já existentes, o repressivo, que vem sendo implantado em países como EUA, Rússia e Japão e o modelo aplicado pela Holanda, mais liberal em relação ao consumo da droga.
Acreditamos que se deve pensar em novas alternativas, deve-se discutir de forma mais objetiva e democrática formas de prevenção e combate. O uso da maconha poderia talvez ser comparada ao uso de cigarro e álcool, existindo leis que normatizassem seu uso. A possibilidade de realizar estudos comparativos dos danos. As drogas lícitas proporcionando análise por uma bancada multiprofissional.
Pensar e discutir novas alternativas e posicionamentos em relação às drogas é dever de todos: poderes executivo, legislativo e judiciário, empresários, polícias civil, federal e militar, sociedade e amigos de bairros, escolas, universidades, hospitais e todos os profissionais, principalmente os da área da saúde, para que analisem os prós e contras, em reuniões em ONGS em órgãos representativos.
Podemos nos questionar sobre o porquê o uso do cigarro e do álcool, são vistos de forma mais amena e que freqüentemente ouvimos a que “a maconha é porta de entrada para outras drogas”. Achamos que o tabaco e o álcool, também são portas de entrada para drogas mais pesadas, como é o caso da Cocaína e do CRACK. Os que defendem a venda da maconha normatizada, assim como o tabaco e o álcool, sinalizam que tal atitude traria mais impostos mais recursos para o meio social, educação e saúde, menos tráfico, menos criminalidade e violência, menos prejuízo em todos os sentidos. Além da problemática vista, quando da abordagem de um usuário de maconha, sendo que este ato não é considerado crime, mas quando abordado pela polícia,usando maconha muitas vezes acaba por ser julgado com arbitrariedade e condenado, conforme interesses os mais diversos e com várias interpretações da policia e da justiça. Compartilhamos neste sentido com o ex Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso e sua adorável esposa Rute, estudiosa do assunto. Precisamos rever a legislação brasileira neste sentido como exemplo temos o projeto do deputado Tom Ammiano,que para ajudar a Califórnia EUA, a sair do vermelho,propõe a liberação do consumo de maconha. Com a produção e o consumo regularizados, o governo poderia taxar o produto e engordar a receita dos cofres públicos em cerca de US$ 1.4 bilhões de dólares (R$ 2.66 bilhões) ao ano. Na Califórnia o uso de maconha é permitido, para fins medicinais,assim como no Canadá, na Holanda, Israel, a venda e o consumo da mesma são autorizados em cafeterias cadastradas pelo governo, na Argentina a justiça liberou o consumo recentemente, como já era no Equador, Espanha.
O deputado Californiano é mais audacioso ele quer regulamentar o consumo para maiores de 21 anos para arrecadar impostos. A idéia seria cobrar US$(R$ 94.00)por onça (equivalente a 28.38 gramas) O déficit de 26 bilhões ( R$ 48.91)levou o próprio governador Arnold Schwarzenegger,a pedir em maio um estudo sobre a legalização e taxação da mesma.
Devemos estudar cuidadosamente o que outros países estão fazendo para legalizar a maconha, se depender da opinião pública, está garantida uma consulta feita pelo estado, que mostra que 56 % dos eleitores registrados, apóiam a legalização e a taxação da maconha. Já para contrabalançar o déficit publico a cidade de Oakland (Califórnia) é a 1ª a cobrar impostos de produtos medicinais derivados da cannabis sativa. O estudo está se estendendo para outros estados. Haverá plebiscito na eleição de novembro para liberação do uso da maconha ou não, sob vigilância.
A sociedade deve ser bem informada, educada, ou seja, esclarecida sobre as questões da dependência química. Segundo Classificação Internacional de Doenças, CID-10, dependência química é doença. Como ficam os casos de uso compulsivo, intoxicados, em crise e que provocam crimes? No âmbito do tratamento hospitalar se deve prestar muita atenção com o que pode estar mascarado com o uso compulsivo de qualquer droga. Um exemplo prático é de que os pacientes internados no hospital Psiquiátrico da cidade de Passo Fundo por dependência de álcool, em estudo, apresentavam um consumo lento e progressivo, pois eram afetados por sintomas de ansiedade, insônia, problemas familiares e principalmente na depressão ainda mal entendida e mal aceita. Já tivemos esquizofrênicos que foram buscar a cocaína com desejo de diminuir o sofrimento seus sintomas psiquiátricos e assim foram se habituando.Fizeram eletroconvulsoterapia e não voltaram às uso da cocaína e de CRACK com uso de neurolepticos e até hoje não estão usando a droga . É necessário lembrar que a droga inicialmente, produz um bem estar, pois a mesma aumenta a dopamina para euforia. Ao diminuir o bem estar, dá ansiedade e depressão, leva a volta ao uso da droga para estimular a liberação da dopamina, neste momento começa a dependência e o vício.
Para pessoas adoecidas a droga muitas vezes, funciona de forma terapêutica, aliviando os sintomas, porém, instala-se o hábito. A conseqüência é a internação, o tratamento e só assim pode-se fazer o entendimento de quais os motivadores que levam o sujeito a drogadição.
Qual seria o objetivo? A sociedade deve unir-se no combate as drogas, principalmente as mais nocivas, como a cocaína, o CRACK. O momento é incontrolável no seu uso e tratamento, resultando em violência e criminalidade, e a outras drogas letais, causadoras de um verdadeiro caos social. Com isto estaremos combatendo não somente o tráfico de drogas, mas também o tráfico de influências, de armas a violência e criminalidade, causadoras de tantas mortes e mutilações.
Não podemos ser cegos, surdos, mudos e principalmente coniventes. O medo existe, mas será cada vez maior se a negligencia sobressair-se a coragem.
O órgão mais importante do corpo humano é o cérebro, devemos defendê-lo, tendo uma boa articulação e se necessário, um bom ataque, como num bom time de futebol. O jogo ainda não começou, mas o objetivo é que seja bom, saudável e justo, pois para vencer o jogo devemos jogar juntos.
Deste modo nossa sugestão é que como já dissemos sejam criados comitês, assim como possibilitar a criação de ONGS, para que cada um deles responda com sugestões de prós e contra da produção de maconha, das vendas e também dos compradores, todos credenciados a fim de discutir mensalmente a problemática exposta e combatida. Buscar a citada prevenção, a curativa, a repressão adequada é a via positiva para a solução da conflitiva da drogadição, porém a punição, a intolerância, a negligência e a omissão é direta e indiretamente o motivador da drogadição. Temos que analisar o nosso cérebro, pois cada caso é um caso, pois tudo que é usado abusivamente com obsessão e compulsão são psicologicamente do mesmo quadro, inclusive lanches e chocolates. Dependência química em comorbidade genéticas - distúrbios afetivos, esquizofrenias, pânicos, T.O.C. Preferir CRACK, ao um prato delicioso porque? Porque 80% dos presidiários voltam para o presídio? O presídio é melhor que a família e a sociedade? Leia o livro - “Ser Humano o Desafio”.
Albino Júlio Sciesleski
Médico Psiquiatra
CRM- 15516
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