sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Mobilidade urbana e bicicletas


Já reparou que muitas vezes vale mais a pena ir em bicicleta ou mesmo caminhando ao seu destino? Pois é, as cidades estão cada vez mais cheias de carros e isso as torna mais lentas, quentes e irritantes. Usar racionalmente os veículos de transporte vem a ser, então, o cerne da questão em torno das discussões sobre mobilidade urbana. Houve um tempo, quando não havia tantos automóveis, em que era comum ver ruas inteiras ocupadas por automóveis com apenas uma pessoa dentro. Hoje ainda acontece muito disso, porém tal fato já está sendo visto com uma falta de bom senso, pois onde poderiam locomover-se cinco pessoas há apenas uma, ocupando o espaço urbano. Essa forma de locomover-se é irracional para os dias em que estamos vivendo.
                Exemplos de bicicletários em Paris, de corredores de ônibus em Curitiba e Bogotá (COL), de rodízios em São Paulo são estratégias inteligentes que tem dado resultados positivos ao fluxo de trânsito, mas ainda não são suficientes em muitos lugares onde o crescimento populacional é incompatível com a área urbana e a ocupação veicular é maior do que o limite das vias permite, causando lentidões, muitas vezes seguidas de engarrafamentos quilométricos.
                Porque não usamos bicicletas? Algumas respostas a esta pergunta apareceram numa pesquisa publicada na Zero Hora de 4 de agosto de 2012, onde 781 estudantes da UFRGS apresentaram motivos como insegurança no trânsito, falta de ciclovias, de bicicletários, riscos de assaltos, distâncias muito longas etc. Já os outros 355 entrevistados, que responderam usar bicicleta, justificam o ato como saudável, menos poluente, econômico, alternativo e ágil e por notarem o transporte público insatisfatório.
                Por mais que o Plano Diretor da capital gaúcha tenha como meta 495 km de ciclovias, há 40,5 km de expansão projetada, mas ainda não iniciados. Isso revela uma questão de mentalidade entre usuários e poder público, que se reflete na maioria das grandes cidades brasileiras. Ademais, muitos valores culturais ao avesso cultivam a ideia de status  associada ao carro em detrimento da bicicleta, levando pessoas a privilegiarem um veículo sob quatro rodas em vez de garantir um teto para suas famílias, por exemplo. Logo, tem-se aí um desafio educacional.
                Todavia, a bicicleta está galgando espaço na preferência dos mais conscientes. Também vale citar um exemplo, derivado de outras cidades, que está em funcionamento em Porto Alegre, o projeto Bici Anjo, que constitui-se de voluntários dispostos a instruir ciclistas a trafegar  no trânsito evitando acidentes, também a exemplo do site Vá de Bike.
                Porém, ações governamentais é que farão a diferença na mobilidade urbana. Precisamos de melhorias no transporte público, em vez de no privado, e também de investimentos em meios não motorizados de locomoção. Precisamos tomar um ônibus em vez de  três para chegarmos  ao nosso destino. Que o serviço seja democratizado, por fim. Isso tudo significa construir mais corredores para ônibus, em vez de viadutos privilegiando automóveis. Gomide (apud Schindewein) lembra  que 20% dos usuários das vias públicas ocupam 80% delas. Ora, já está mais que na hora d criarmos um projeto que mude a historia dos transportes nesse país, lembrando que pelo caminho podem ficar o sonho de muitos de ter um carro (o que é mito confundido com sucesso pessoal), deixar de estacionar dos dois lados da rua. Vamos subir nas bicicletas e fazer a diferença no trânsito. Há inclusive uma vasta legislação sobre o uso da bicicleta, mas há que conhecê-la, praticá-la e passá-la adiante. Uma das atitudes esperadas por ciclistas é que, quando trafegarem em rodovias, que o façam pelo acostamento e no sentido inverso do tráfego da pista de rolagem, para que possam ver os veículos que vêm em sua direção. Sobretudo, as soluções para muitos problemas sempre surtirão efeito quando forem antecipadas. Que tal discutirmos o tráfego em 2025 no Brasil?

Albino Júlio Sciesleski
Médico Psiquiatra

Marisa Potiens Zilio
Psicopedagoga

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