sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Mobilidade urbana e bicicletas


Já reparou que muitas vezes vale mais a pena ir em bicicleta ou mesmo caminhando ao seu destino? Pois é, as cidades estão cada vez mais cheias de carros e isso as torna mais lentas, quentes e irritantes. Usar racionalmente os veículos de transporte vem a ser, então, o cerne da questão em torno das discussões sobre mobilidade urbana. Houve um tempo, quando não havia tantos automóveis, em que era comum ver ruas inteiras ocupadas por automóveis com apenas uma pessoa dentro. Hoje ainda acontece muito disso, porém tal fato já está sendo visto com uma falta de bom senso, pois onde poderiam locomover-se cinco pessoas há apenas uma, ocupando o espaço urbano. Essa forma de locomover-se é irracional para os dias em que estamos vivendo.
                Exemplos de bicicletários em Paris, de corredores de ônibus em Curitiba e Bogotá (COL), de rodízios em São Paulo são estratégias inteligentes que tem dado resultados positivos ao fluxo de trânsito, mas ainda não são suficientes em muitos lugares onde o crescimento populacional é incompatível com a área urbana e a ocupação veicular é maior do que o limite das vias permite, causando lentidões, muitas vezes seguidas de engarrafamentos quilométricos.
                Porque não usamos bicicletas? Algumas respostas a esta pergunta apareceram numa pesquisa publicada na Zero Hora de 4 de agosto de 2012, onde 781 estudantes da UFRGS apresentaram motivos como insegurança no trânsito, falta de ciclovias, de bicicletários, riscos de assaltos, distâncias muito longas etc. Já os outros 355 entrevistados, que responderam usar bicicleta, justificam o ato como saudável, menos poluente, econômico, alternativo e ágil e por notarem o transporte público insatisfatório.
                Por mais que o Plano Diretor da capital gaúcha tenha como meta 495 km de ciclovias, há 40,5 km de expansão projetada, mas ainda não iniciados. Isso revela uma questão de mentalidade entre usuários e poder público, que se reflete na maioria das grandes cidades brasileiras. Ademais, muitos valores culturais ao avesso cultivam a ideia de status  associada ao carro em detrimento da bicicleta, levando pessoas a privilegiarem um veículo sob quatro rodas em vez de garantir um teto para suas famílias, por exemplo. Logo, tem-se aí um desafio educacional.
                Todavia, a bicicleta está galgando espaço na preferência dos mais conscientes. Também vale citar um exemplo, derivado de outras cidades, que está em funcionamento em Porto Alegre, o projeto Bici Anjo, que constitui-se de voluntários dispostos a instruir ciclistas a trafegar  no trânsito evitando acidentes, também a exemplo do site Vá de Bike.
                Porém, ações governamentais é que farão a diferença na mobilidade urbana. Precisamos de melhorias no transporte público, em vez de no privado, e também de investimentos em meios não motorizados de locomoção. Precisamos tomar um ônibus em vez de  três para chegarmos  ao nosso destino. Que o serviço seja democratizado, por fim. Isso tudo significa construir mais corredores para ônibus, em vez de viadutos privilegiando automóveis. Gomide (apud Schindewein) lembra  que 20% dos usuários das vias públicas ocupam 80% delas. Ora, já está mais que na hora d criarmos um projeto que mude a historia dos transportes nesse país, lembrando que pelo caminho podem ficar o sonho de muitos de ter um carro (o que é mito confundido com sucesso pessoal), deixar de estacionar dos dois lados da rua. Vamos subir nas bicicletas e fazer a diferença no trânsito. Há inclusive uma vasta legislação sobre o uso da bicicleta, mas há que conhecê-la, praticá-la e passá-la adiante. Uma das atitudes esperadas por ciclistas é que, quando trafegarem em rodovias, que o façam pelo acostamento e no sentido inverso do tráfego da pista de rolagem, para que possam ver os veículos que vêm em sua direção. Sobretudo, as soluções para muitos problemas sempre surtirão efeito quando forem antecipadas. Que tal discutirmos o tráfego em 2025 no Brasil?

Albino Júlio Sciesleski
Médico Psiquiatra

Marisa Potiens Zilio
Psicopedagoga

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Vamos escolher pela vida?

Quem já não ouviu aquela máxima popular: "A vida é resultado das suas escolhas?" Podemos sim escolher algumas coisas na vida. distinguir o bem do mal. os sentimentos nobres dos menos dignificantes. o que fazer em momentos cruciais. Com quem conviver. Como proteger nossas famílias, nossos bens e saber o que de fato é um bem em nossas vidas... enfim, muitas escolhas dependem de nós. Outras, porém, quase nunca fazem parte de nosso consentimento. São os chamados "imprevistos", "acidentes" ou "desastres".
No contexto do tráfego, estamos sujeitos a infortúnios vários quando dirigimos, pilotamos, navegamos ou quando simplesmente  caminhamos sobre uma calçada. Somos responsáveis pelo que provocamos no transito, sendo, por vezes, vítimas.
Um estudo sobre acidentes e seus fatores, apresentado por Letícia Marin e Marcos S. Queiroz, num dos Cadernos de Saúde Pública, em maio de 2012, ilustra uma realidade em números que vale a pena citar, porque permite, inclusive, saber onde investir esforços em prevenção. Os autores lembram que o aumento da frota de veículos tem acontecido em nível mundial, ao passo que o mesmo não ocorre com as vias de trânsito. Nos Estados Unidos, entre 1970 e 1988, o volume de tráfego aumentou de 1,78 trilhões de km percorridos para 3,24 trilhões.
Essa maior participação do automóvel na vida diária trouxe, além da falta de convivência social, que afeta a qualidade de vida (o que não é um problema qualquer), muitos acidentes de trânsito, que se convertem em um grande problema de saúde pública, e, ainda por cima, custam de 1 a 2% do PIB para os países menos desenvolvidos.
No que diz respeito a programas de prevenção de acidentes de trânsito no Brasil, destaca-se o trabalho de Adorno (1989), que realiza uma revisão dos modelos de comportamento das propostas humanistas de educação em saúde e prevenção de acidentes de trânsito. Esse estudo faz, também, um levantamento das propostas técnicas e projetos para as campanhas realizadas e as medidas dirigidas ao aumento da segurança do pedestre.
Enquanto a lei, a sociedade e a justiça brasileiras são excessivamente tolerantes com motoristas alcoolizados, na Europa e nos Eua, a lei não faz muita diferenciação entre um motorista alcoolizado que mata uma pessoa e um crime premeditado. Comparada com países mais adiantados na prevenção dos acidentes de transito, nossa legislação é permissiva e a aplicação da lei, muito morosa. Somente após o Novo Código Nacional de Trânsito, promulgado em fevereiro de 1998, é que se começou a vislumbrar alguma mudança nesse aspecto. Acreditamos que este tem sido importante para a tomada de consciência do problema, mas o controle real dos infratores é limitado, uma vez que a caracterização do estado de embriaguez ficou, na prática, restrito à perícia do Instituto Médico Legal.
No contexto de países desenvolvidos ou em desenvolvimento, a grande diferença nos níveis de acidentes de trânsito está estreitamente vinculada à responsabilidade que o poder público tem de implementar políticas adequadas a fazer cumprir a lei. No Brasil, os índices calamitosos desses acidentes estão associados à falta, tanto de uma legislação, como de políticas públicas adequadas a esse fenômeno. O Novo Código Nacional de Trânsito constitui um marco dos mais importantes para que haja uma modificação dessa triste realidade. Diante do fato de que os acidentes de trânsito estão fortemente relacionados à falha humana, a despeito das limitações  operacionais e das arestas constitucionais que ainda não foram aparadas, o novo código tem o grande mérito de contribuir para tornar o motorista brasileiro mais consciente e responsável ao volante.
De acordo com uma análise da OMS (1984) sobre o desempenho de diversos países com segurança no trânsito, os industrializados têm conseguido estabilizar o problema, porém com gastos escalares. Já nos de nível intermediário de desenvolvimento, os acidentes de trânsito então entre as principais causas de mortalidade, principalmente entre jovens. Quanto aos países em desenvolvimento, estes não têm conseguido diminuir a mortalidade nem os custos dos problemas decorrentes dos acidentes de trânsito (Soderlund & Zwi, 1995), o que corrobora a informação apresentada na III Conferência Anual de Transportes, Segurança de Trânsito e Saúde, promovida pela OMS, em Washington, de que a cada 100 pessoas mortas em acidentes de trânsito no mundo, 70 são habitantes de países subdesenvolvidos, sendo que destes, 66 são pedestres (e um terço, crianças) (Lundebye, 1997).
Como se dá o erro no trânsito?
Kaiser (1979) dá importância especial à tomada de decisão no trânsito, a qual sofre intervenção de percepção, juízos, motivações e outras atividades psíquicas. As situações de trânsito obrigam o indivíduo a tomar decisões em frações de segundos, dentro de uma multiplicidade de impressões do mundo circundante, e encaixá-las no mosaico das situações momentâneas. Assim, é fácil tomar uma decisão inadequada em razão de uma perturbação transitória, como nos casos de fadiga, estresse, sobrecarga emotiva ou embriaguez.
Uma pesquisa com 1.600 motoristas identificou três tipologias de comportamentos aberrantes ao dirigir:
1. lapsos ou comportamentos de esquecimento;
2. erros de julgamento ou observação potencialmente perigosos para outros;
3. transgressões, contravenções intencionais às práticas de seguridade no trânsito (Parker et al., 1995).
Pode-se concluir, ainda, que os homens, em maior frequência que as mulheres, cometem elevado número de erros. As mulheres relataram mais lapsos, em associação à percepção de si como más motoristas.
Quanto às transgressões de trânsito, estas se associaram mais à juventude, ao sexo masculino, à autoqualificação como "bom motorista" (sabedoria do bom condutor) e à elevada quilometragem anual.
Em 73% dos casos, os principais envolvidos nesse tipo de acidentes são do sexo masculino.
Um estudo de Manstead et. al (1991, apud Parker et al., 1995) com adolescentes e jovens observou que estes não apresentam falta de habilidades nas tarefas de direção simulada, porém suas respostas a um questionário nem sempre mostraram atitudes e opiniões compatíveis com uma direção segura. Os jovens são as principais vítimas de acidentes de trânsito, e representam a faixa etária que contém um número mais significativo destas, com 24,32% do total, é a que vai dos 15 aos 24 anos (DENATRAN, 1997).
Os adolescentes e os jovens ao volante sentem necessidade por adrenalina, o que os leva a desafiar a morte e agir perigosamente.
É comum, na maioria dos adolescentes, um certo cultivo pela irresponsabilidade, por quererem medir e transgredir todos os limites, inclusive os seus próprios, para impressionar os demais.
Hoje, as habilitações podem ser dadas aos 18 anos, e, em casos especiais, aos 16. Todas as estatísticas ainda referem que o maior número de mortes e mutilações graves ocorrem em jovens de 18 a 21 anos de idade. Também cabe lembrar que é nesta perigosa idade que o uso de bebidas e outras drogas é mais frequente.
Ora, isto não vale apenas para os jovens, qualquer um que faça uso de drogas tem sua consciência e sua responsabilidade comprometidas.
Murray & Lopez (1996), ao analisarem a mortalidade no sexo masculino, utilizando o cálculo de anos potenciais de vida perdidos, observaram que os acidentes de trânsito constituem a segunda causa de morte precoce no mundo todo. Em alguns países, esse tipo de óbito entre homens de 15 a 24 anos representa metade ou mais das mortes por todas as causas, havendo uma diminuição após os 25 anos de idade (WHO, 1976). Klein (1994) mostra o predomínio masculino em mortes no trânsito, em especial no grupo de 20 a 64 anos, atinge cinco vezes mais homens do que mulheres.
McGuire (1972, apud West et al., 1993b) estudou 2.727 solicitantes de carteira de motorista através de testes e questionários e levantou a incidência de acidentes de trânsito nos dois anos subsequentes.
Observou que o envolvimento nesses tipos de acidentes associava-se a sentimentos de hostilidade, agressividade e antecedentes de conflitos familiares.
Estudiosos que se preocupam com uma abordagem psicanalítica do problema têm apontado a vulnerabilidade de adolescentes e adultos com personalidade imatura na condução perigosa de veículos motorizados. O carro constitui uma compensação para o ego angustiado e apático e torna-se uma segunda pele do indivíduo.
A velocidade que o carro permite atingir oferece sensações de grandeza e fantasia de onipotência para algumas pessoas. A música no carro favorece a sensação de isolamento e, assim, aumenta a ilusão de grande independência. Em sentido extremo, o automóvel passa a exercer a função de separar o motorista de seus semelhantes, que são visualizados exclusivamente como oponentes (Hilgers, 1993).
Analisando agora as origens da mistura fatal álcool e trânsito, Stewart et al. (1996) descrevem que os indivíduos bebem por razões diferentes:
1. para reduzir ou evitar estados emocionais negativos;
2. por motivos sociais, para reunir-se com os outros;
3. para facilitar emoções positivas.
Ao estudar uma amostra de 314 voluntários (alunos de graduação de Psicologia de duas universidades do Canadá), esses autores concluíram que a maioria dos entrevistados  (85%) referiram beber, sendo o principal motivo desse comportamento o social, embora os homens, principalmente os menores de 21 anos, tivessem apresentado uma pontuação significativa no quesito hábito de beber para facilitar emoções positivas.
Outro aspecto importante é a influência da publicidade sobre o comportamento e a formação de valores. ainda segundo a OMS (WHO, 1976),frequentemente veiculam-se anúncios que associam carros velozes e altas velocidades à virilidade, os quais podem ter grande influencia no grupo de risco de jovens motoristas, em razão da vulnerabilidade destes, determinada pela própria condição de transformação da personalidade. Erros no julgamento de distância ou tempo e fatos inesperados, como buracos ou chão escorregadio, convertem-se em acidentes por excesso de velocidade.
As crenças relacionadas à manutenção da saúde são importantes como um fator que determina comportamentos de saúde. Dentre esses, de importância na prevenção de acidentes de trânsito, podemos citar o hábito de não ingerir bebidas alcoólicas ao dirigir e o uso de cinto de segurança. Crenças sobre a importância de hábitos de saúde não só influenciam comportamentos, como também levam a atitudes positivas em relação à legislação, bem como nas decisões de políticas sociais e nos programas de promoção de estilo de vida saudável.
Após esta rápida amostra dos riscos no trânsito, extraída do estudo de Letícia Marin e Marcos Queiroz, torna-se evidente que o trânsito depende em grande parte da educação dos condutores. Não é difícil notar que essa educação está constantemente sendo repassada à população em forma de campanhas de conscientização das mais diversas naturezas.  Ou seja,  são assuntos com os quais já temos familiaridade. Principalmente com nossas responsabilidades: dirigir dentro dos limites de velocidade, usar cinto de segurança, navegar e pilotar com total controle dos comandos, enfim, quando erramos, por certo, não podemos simplesmente nos eximir dizendo "eu não sabia".
Mas se isso ainda não for suficiente, é necessário que limites sejam melhor definidos no trânsito através do cumprimento da legislação competente.
Não há como esconder-se atrás de debates quando assuntos iminentes urgem  atenção, como, por exemplo, epilepsia, aspectos psicopatológicos, motocicletas, cinto de segurança, responsabilidade em acidentes de trânsito, distúrbios psiquiátricos em comorbidade com a drogadição, todos objetivando diminuir os números de mortes e mutilações que têm tornado a vida mais difícil para muita gente.
Ao caro leitor que chegou até aqui, nossas congratulações, pois escolheu o caminho do saber. E, nos capítulos a seguir, entenderá como estes assuntos iminentes relacionam-se com o trânsito: através do conhecimento dos fatores subjetivos que fazem do ser humano um desafio na vida e no trânsito.


Albino Júlio Sciesleski
Médico Psiquiatra

Marisa Potiens Zilio
Psicopedagoga


sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Resposta do Ministério da Justiça - Secretaria de Assuntos Legislativos





Resposta acerca do projeto para criação do Dia Nacional Contra a Violência e Criminalidade


ACIDENTES DE TRÂNSITO: RESPONSABILIDADE DE QUEM?


Em 1976, quando apresentamos o trabalho “O comunicador social e a prevenção em acidentes de tráfego”, dissemos que as tensões da vida moderna fizeram do automóvel um instrumento de evasão, de libertação e de fuga. O indivíduo parece hoje ter perdido sua identidade, massificado e massacrado pela sociedade de consumo, num processo agravado pela globalização da economia. Com ela, ele se isola do mundo, coloca-se contra ele, fica “machão” e ao volante de um carro, para auto-afirmar-se na sua insegurança, atropela, mata e morre. A indústria automobilística tem apresentado um avanço extraordinário, mas o carro continua sendo uma arma de guerra nas mãos de irresponsáveis.
Os aspectos psicossociais e médicos analisados na segurança do tráfego, na recuperação das vítimas, dos parentes, com as conseqüências de tudo isso, dão o reflexo do que vivemos cotidianamente. Pelo número de acidentes, suas conseqüências e reflexos na sociedade, entendem-se os 31 mil óbitos, aproximadamente, por ano no Brasil. Isso sem contar o número dos feridos com seqüelas graves, que os levam a ficar em cadeiras de rodas ou a viver em fundos de quintais, isolando-se ou abandonados socialmente.
O que assusta é que a opinião pública se mantém apática, sem ser despertada principalmente pela mídia, que só noticia as desgraças. Não se mostram os defeitos e as correções necessárias, o modo como os cidadãos devem ser educados e esclarecidos para o trânsito. No caso, “o silêncio não é de ouro”, mas é impróprio. Os números absurdos causam menos impressão do que doenças conhecidas e temidas. Basta que alguns casos de cólera suscitem emoção para que a região atingida seja posta no index e evitada, ao passo que se tolera um número cada vez maior de mortes nas ruas e nas estradas.
Nos países e nas regiões desenvolvidas, os acidentes matam um número bem maior de crianças e de adultos do que a tuberculose ou qualquer outra doença infecto-contagiosa no momento. Salvo melhor juízo e estatística, entre as causas de óbito, somente as doenças cardiovasculares e o câncer encontram-se à frente dos acidentes de tráfego. Hoje, acima de 50% dos óbitos em crianças de cinco a quatorze anos ocorrem no trânsito.
O combate à opinião fatalista, segundo a qual os acidentes de trânsito são inevitáveis e são obras de destino, é nossa função, apresentando inclusive dados do êxito alcançado na indústria e na construção civil com o trabalho preventivo e educativo para evitar os acidentes de trabalho. Os acidentes de trânsito não constituem exceção, e o trabalho de prevenção deve dar ênfase à seleção de motoristas, com bom exame médico e psicológico, bom treinamento e, especialmente, educação, desde a pré-escola e em nível multidisciplinar. Da pré-escola deveriam sair os primeiros ensinamentos de respeito à lei, aos semáforos, aos cintos de segurança, aos capacetes, a como acomodar as crianças nos veículos, como respeitar a faixa de segurança, enfim, um ensinamento básico que servirá para a vida toda. Assim, o complexo homem x veículo x estrada x meio, seria um assunto educacional globalizado. Determinando as causas que provocam determinados tipos de acidentes, também se devem pôr em prática, com rapidez e determinação, medidas eficazes para evitá-los.
No passado, as estatísticas atribuíam a responsabilidade ao motorista por 70% dos acidentes de trânsito; outros 30% eram dados à má conservação e má construção das rodovias, má conservação do veículo e desinformação do pedestre. Hoje os números mudaram, e o motorista praticamente é o responsável por 90% dos acidentes, embora os outros 10% restantes também sejam de responsabilidade indireta da pessoa humana, nos itens referidos à pessoa – veículo – estrada – meio ambiente, inclusive com pedestres.
Diante disso, do ponto de vista epidemiológico, acidente de tráfego é uma doença crônica de discutíveis conhecimentos etiológicos, senão subjetivos, cuja prevenção seria reprimir o tráfego de veículos, condição que não é aceita no mundo de hoje. Mas os acidentes não acontecem e, sim, são provocados; por isso, são inaceitáveis as conseqüências que provocam, traumáticas. É imprescindível que se examinem os problemas e as soluções de eficácia comprovada, procurando, ao mesmo tempo, atenuar as perspectivas futuras com base nas últimas investigações. Admitimos que o homem é acionado por dois impulsos antagônicos: “o impulso de vida e o impulso de morte”. O acidente é a explosão do impulso de morte, e o indivíduo procura-o de modo mais disfarçado, mais subjetivo possível, de maneira que ele próprio não o percebe. O uso do cinto de segurança em países desenvolvidos tem a freqüência entre 75 a 90%, com que se reduz em 30% o número de mortes, mutilados e inválidos.
Diante do exposto, concluímos que a educação para a prevenção de acidentes é a principal meta. Os exames de motorista devem merecer cuidados especiais, avaliando-se a sua personalidade e o seu comportamento, que podem repercutir concomitantemente a outros sintomas originários de qualquer mal coadjuvante, como a ansiedade, a depressão, o etilismo, a drogadicção, a epilepsia ou problemas mentais, entre outros.
Na realidade, a impunidade dos condutores faz da justiça algo comprometedor. Por exemplo, qual é a pena para condutores que cometem mortes ou lesões graves, com seqüela de invalidez, quando andam em velocidade abusiva ou alcoolizados? Qual seria a pena para o indivíduo que mata e atropela intencionalmente? Modificar a legislação e a aplicação de penalidades faz-se urgente e necessário. Raramente um crime de trânsito é considerado doloso porque, mesmo dirigindo imprudente ou negligentemente, é difícil provar que o indivíduo teve o objetivo de matar ou de ferir alguém. Urge que se editem leis específicas de contravenções, específicas para punir os “rachas” e outras atitudes de violência no trânsito. Qual a pena se matar alguém em assalto ou num bar? Cadeia. Julgamos que a justiça e a CUT têm de mudar para acabar com a impunidade e impedir que o motorista continue agredindo a si mesmo e à sociedade.
Em reunião da Associação Médica Brasileira, ocorrida em 25 de março de 1983, em Goiânia, depois de longa luta por nós desenvolvida para a criação da especialidade de medicina do tráfego, pelo uso obrigatório do cinto de segurança nos automóveis e do uso do capacete pelos motoqueiros, obtivemos resultados compensadores.
O trabalho efetuado por 16 anos foi baseado no número de mortes, de mutilados e de inválidos no trânsito, cuja idade preocupante fica entre 18 e 30 anos, a mais produtiva da pessoa humana para si e para a nação. Desta forma, mantivemos a nossa dedicação à medicina preventiva, assistencial e legal, baseados no transporte aéreo, marítimo e terrestre.
A indústria automobilística tem nos apresentado um avanço técnico inimaginável. Máquinas potentes são armas de guerra nas mãos de irresponsáveis. A motocicleta, por exemplo que ocupa um espaço três vezes menor que o automóvel, mais econômica, mais ágil, mais veloz, circula em espaços menores, muitas vezes impróprios, facilita a locomoção e a execução de trabalhos, como o dos “motoboys”, por exemplo. Mas, constitui grande risco da maneira como é usada, pois não têm proteção. Estatísticas comprovam que as motocicletas causam quatro vezes mais acidentes, atingindo os membros inferiores, os membros superiores e levando a fraturas no plexo braquial, tão importante na fase da sobrevida, do trabalho e aos recursos humanos, em grande percentual, a cabeça, com trauma cranioencefálico, que causa a morte, entretanto este último reduz em 67% quando usado o capacete.
Há maneiras de proteção que poderiam ajudar o motoqueiro além do uso do capacete, como roupas especiais (coloridas), luvas, farol aceso, não circular entre os carros, usar sempre a direita do tráfego, usar a moto de acordo com seu tipo físico, fazer revisão da moto regularmente, não usar pneus carecas, evitar a chuva, cansaço, estresse, álcool e psicotrópicos que diminuem a atenção.
Atualmente, a maioria dos acidentes se dá com jovens do sexo masculino, nos primeiros anos. Na França, constatou-se que 44% dos acidentes ocorrem com menos de 1.000km rodados. Por isso, o treinamento é importante, assim como o aquecimento do corpo antes de sair. As arrancadas bruscas nas saídas ou nas passagens no semáforo, colidindo com atrasados ou adiantados, podem ser evitadas com os rigores da lei.
A moto é um meio de locomoção eficiente, ágil, econômico, mas perigoso quando não se respeitam as regras básicas, que devem ser dadas nas moto-escolas, em número ineficiente e, quando usada deficientemente na educação, sem treinamento adequado do motoqueiro, que muitas vezes leva um passageiro totalmente despreparado, desprotegido, deseducado, aumentando o risco de ambos.
O exame de motorista e motociclista, portanto, deve ser feito com extrema responsabilidade. Se necessário, deve-se pedir exames complementares, como estudo da personalidade e outros, como salvaguarda na prevenção de acidentes de trânsito, que é o objetivo de toda a sociedade humana, na melhoria da qualidade de vida.


 Dr. Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra



Paranoia

No dicionário, paranoia é um estado mental caracterizado por lesão parcial da inteligência e da sensibilidade e, no qual, o indivíduo se supõe perseguido, incompreendido e superior a seu meio. A paranoia também pode ser definida como uma doença psiquiátrica cuja característica central é um delírio bem organizado; o termo pode ser utilizado para designar, vulgarmente, a mania da perseguição. Ainda, a paranoia é descrita como um termo utilizado por especialistas em saúde mental para descrever desconfiança ou suspeita altamente exagerada ou injustificada. Entretanto, diferente de outros estados psicóticos, apesar dos delírios, há uma curiosa manutenção da clareza.
As doenças mentais e/ou as emocionais, que podem atingir pessoas de quaisquer idades, se associam, muitas vezes, a queixas clínicas e/ou comportamentais socialmente aceitas, pois se revestem de necessidades, justificativas, explicações e atitudes socialmente aceitas. Um fator emocional pode causar ou agravar comportamentos antes compensados (dentro de limites aceitáveis) ou mesmo gerar doenças físicas (orgânicas) de difícil diagnóstico.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais- DSM-4, 1995, os fatores psicológicos afetam adversamente essa condição, influenciando no curso do tratamento (...), exacerbando ansiedade, por exemplo. Assim, pode-se dizer que para todo transtorno mental existe causa e conseqüência que podem ser biológicas (do corpo), sociológicas (do comportamento relacional) ou psicológicas (envolvendo questões do afeto primário do indivíduo).
Assim, podemos classificar a paranoia em três categorias distintas: Distúrbio Paranoide de Personalidade, Distúrbio Delirante Paranoide e Esquizofrenia Paranoide.
O Distúrbio Paranoide de Personalidade inclui sentimentos de desconfiança (o mundo é ameaçador), sensibilidade exacerbada, com comportamento excessivo de defesa e hostilidade, frieza nas relações com medo de envolvimento.
No Distúrbio Delirante Paranoide é marcante um tipo de delírio como persecutório (a pessoa se sente perseguida e ameaçada); outro tipo, é o delírio do ciúme (perda da confiança por ciúmes da pessoa com quem está envolvida emocionalmente); também pode ocorrer uma “fixação romântica” ou delírios eróticos, como acreditar que recebe presentes ou telefonemas de admiradores ocultos; podem ocorrer ainda delírios de grandeza e hipocondria (manias de doença). As pessoas portadoras de Distúrbio Delirante Paranoide são pessoas que se irritam com facilidade e não raramente provocam conflitos em seus relacionamentos.
Na Esquizofrenia Paranoide os delírios podem ser extremamente bizarros (como, por exemplo, ser engolido por teias de aranha) e pouco a pouco a pessoa perde o contato com a realidade, o pensamento torna-se desorganizado e confuso. O paciente pode apresentar desconfiança, medo, insônia, acha que “falam mal dele”,ou que pode “tudo”, ouve vozes, fala muito, tem delírio de auto-referência e grandeza.
As causas da paranoia  em geral, podem ser muitas, porém, neste artigo, especificamente queremos tratar de uma em especial: o estresse ou a tensão exagerada provocada por um mundo onde, de um lado, a segurança e, de outro, as cobranças estão tornando a vida difícil, estressante e, o que é pior, levando à desconfiança e à insegurança.
Hoje, o nível de violência pode ser comparado aos provocados pelas guerras. Como não delirar frente a fatos concretos de assaltos, balas perdidas, traições? Como saber distinguir ações carregadas de boas intenções daquelas que tentam nos emaranhar em “armadilhas”, nos “passar para trás”, aproveitar de nossa boa vontade e até mesmo de nossa inocência? Criaram-se idéias pouco éticas de convivências como: “O mundo é dos espertos!” ou “Cada um que se vire!”
Estamos nos desagregando como sociedade (que está esquizofrênica) e como indivíduos (com nossos distúrbios delirantes). Estamos comprometidos também com os delírios dos grupos e esta paranoia é bem mais difícil de superar, pois, no grupo, um reforça o delírio do outro, fazendo-o parecer real e verdadeiro. Constata-se que muitos preferem o delírio à realidade, entregando-se às drogas, por exemplo, ou buscando justificativas (projetivas) para suas fantasias delirantes.
Solidariedade, confiança, saúde mental, harmonia, despreocupação, prazer, segurança, amor, compreensão, perdão... onde estão vocês?
Como diz Shakespeare, um dia a gente aprende...

Um dia você aprende... 
Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, que companhia nem sempre significa segurança, e começa a aprender que beijos não são contratos, e que presentes não são promessas.Começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança; aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo, e aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... Aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai ferí-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais, e descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida; aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida, e que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. ..


 Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra

Marisa Potiens Zílio
Psicopedagoga


Vingança


Que sentimento é este que faz tanto mal quanto àquele que desejamos a outros? Que rouba tempo, sono e criatividade? Que gera culpa, insatisfação e sentimento de impotência?
Embora seja este um dos sentimentos mais freqüentes do ser humano, são raros os estudos sobre a vingança.
No dicionário encontramos dois significados da palavra vingança. São significados controversos e contraditórios, porém são próximos se considerarmos do ponto de vista da análise psicológica: a) vingança como desforra ou cobrança; b) vingança de vingar, dar certo, dar frutos, produzir.
Vingança consiste na retaliação contra uma pessoa ou grupo em resposta a algo que foi percebido ou sentido como prejudicial. Embora muitos aspectos da vingança possam lembrar o conceito de igualar as coisas, na verdade a vingança em geral tem um objetivo mais destrutivo do que construtivo. Quem busca vingança deseja forçar o outro lado a passar pelo que passou e/ou garantir que não seja capaz de repetir a ação nunca mais.
Sobre as bases morais, psicológicas e culturais da vingança a filósofa Martha Nussbaum[1] escreveu:


"O senso primitivo do justo — notadamente constante de diversas culturas antigas a instituições modernas  . . . — começa com a noção de que a vida humana . . . é uma coisa vulnerável, uma coisa que pode ser invadida, ferida, violada de diversas maneiras pelas ações de outros. Para esta penetração, a única cura que parece apropriada é a contrainvasão, igualmente deliberada, igualmente grave. E para equilibrar a balança verdadeiramente, a retribuição deve ser exatamente, estritamente proporcional à violação original. Ela difere da ação original apenas na seqüência temporal e no fato de que é a sua resposta em vez da ação original — um fato freqüentemente obscurecido se há uma longa seqüência de ações e contra-ações".

  

Como a vingança se desencadeia do ponto de vista psicológico?
Quando algo perturbador acontece, gerando sofrimento ao indivíduo, a sua imaturidade psicológica se sente ameaçada. É algo tão forte, que mesmo raciocinando conscientemente, não consegue se desvincular das manifestações desconhecidas que traz, armazenadas em seu inconsciente, exigindo reparação, desforra, e mesmo a aniquilação do seu opositor.
Inicia-se, então, uma acirrada disputa entre o seu lado racional, procurando resistir a esse tipo de atitude, por identificar essa falha do caráter, e o seu lado irracional, revestido de toda sua bagagem sombria de manifestações inesperadas e inconseqüentes, desconhecidas da personalidade do indivíduo.
Esses impulsos doentios emergem de áreas desconhecidas do ego, e induzem o indivíduo a um trabalho de desenvolvimento perseverante de odiosidade, instaurando-lhe no mais profundo de seu ser a revolta e o desconforto ante o opositor, que se lhe apresenta como um perigo constante para sua segurança. Entretanto, nem sempre a figura do opositor é real, mas sim fruto da imaginação e do inconsciente.
O fenômeno ocorre tanto individualmente como em grupo. No individuo, esse comportamento provoca o perverso mecanismo conflitivo, que o leva ao desespero, e mesmo quando o outro já não mais lhe representa perigo algum, mesmo depois de se render ou ser aniquilado, os efeitos desastrosos da vingança não desaparecem frustrando a quem aparentemente estaria vitorioso. No grupo, como as nações, por exemplo, este fenômeno provoca o ensejo do desencadeamento das guerras.
Invariavelmente neurótico, o enfermo indivíduo que assim age, vitimado quase sempre pela repressão sexual infantil ou dominado pela sede do poder e da ambição, vive a competir com os demais, os quais passa a invejar por se encontrarem em melhores situações psicológicas que a dele.


Como classificar o sentimento de vingança?
A vingança é um transtorno neurótico, torpe, que liberta do inconsciente forças desordenadas sob o estímulo do “aniquilamento” do inimigo.
Curioso é notar, que o inimigo não é aquele que se torna combatido, mas sim o seu próprio “eu” que transfere para o outro, em fenômeno de projeção, o que guarda internamente. Ao armar-se de calúnia e de outros mecanismos de perseguição, contra aquele a quem odeia, está realizando uma luta inconsciente contra si mesmo, uma vez que está apenas projetando o lado escuro e sombrio da sua personalidade que lhe mantém preso a ignorância.
Fixa-se no adversário com implacável disposição de conseguir a sua extinção, que enganosamente, para ele dependerá sua liberdade a partir desse momento.
 Além da inferioridade moral que tipifica o vingador, o seu primarismo emocional elabora razões ponderadas que são arquitetadas pela mente em desalinho, para justificar o prosseguimento de tal façanha. Em outras oportunidades, sua inferioridade se projeta e não se sente devidamente capaz de competir contra valores significativos, os quais invariavelmente não possui.
Se por acaso, tiver a oportunidade de se harmonizar com o inimigo, não o perdoa interiormente – embora possa ser na verdade, o maior merecedor de perdão –, ruminando o que considera sua derrota até encontrar novos argumentos para dar prosseguimento à sanha doentia de vingança, pela sua libido atormentada.
Aqueles que se apóiam em mecanismos vingativos foram vítimas de repressão na infância ou juventude. Sentiram-se desprezados pelo grupo social e transferem agora suas frustrações para quaisquer outros, desde que isto lhes transformem em pessoas de poder ou ambiciosos dirigentes de “qualquer coisa”, em que a personalidade esquizóide, paranóide, maneirosa, falsamente humilde ou pretensiosamente dominadora possa a ser homenageada.


Conseqüências prejudiciais da vingança:
Os indivíduos que assim procedem, levados pelo sentimento desequilibrado e doentio da vingança, estarão sempre sujeitos a desviar-se de seus objetivos de vida ou até virem a ter crises psicossomáticas podendo transformarem-se personalidades psicopatas perigosas.


Reciprocidade ou vingança?
Quando perguntado se perdoava a quem o tinha ofendido, Gandhi respondeu: “Mas ninguém me ofendeu”. A frase de Gandhi nos aponta para uma mente sadia, que é capaz de perdoar ou de legitimar suas intenções, sem que opositores lhes pareçam inimigos ou pessoas a serem combatidas.
Se agirmos em represália, os nossos direitos mesmo que legitimados por termos jurídicos, perdem sua legalidade. Devolver na mesma moeda não constrói nem transforma a natureza humana.
As pessoas podem viver em harmonia, desde que respeitem suas divergências, suas diferenças e seus direitos. Também é importante saber que sentimentos nascem no mais íntimo do nosso ser e como já dito neste artigo, nem sempre reconhecidos por nós. Para isto, existem as terapias, o diálogo, a busca da espiritualidade e tantos outros mecanismos que não apenas farão bem à pessoa como a toda a humanidade.

Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra

Marisa Potiens Zílio
Psicopedagoga





[1] Martha Nussbaum é professora de Direito e Ética na Universidade de Chicago. É uma das mais inovadoras e influentes vozes do cenário filosófico atual.

Prefácio


Tornamo-nos amigos durante a sua residência no Hospital das Clínicas de S.Paulo, no Departamento de Neuropsiquiatria, em 1971, quando eu havia recém empossado como assistente daquele departamento.

Sua fala com típico sotaque gaúcho, porém rápida e entusiasmada no que fazia chamou-me a atenção. Recém chegado de Pelotas, Dr. Albino era um jovem muito interessado em aprender, e principalmente
em trabalhar. Onde havia pessoas, lá estava ele, conversando, agitando, se virando em múltiplas funções.

O interesse pelo trânsito foi outra característica dele, que logo conquistou a minha simpatia. Nenhum dos meus colegas de turma, nem meus dos meus contemporâneos havia se interessado por esta área. Eu achava exótica a sua escolha.

Mas o seu gosto, talento, esforço e empenho fizeram-no vencedor na Medicina do Trânsito. Para começar, Dr. Albino foi o fundador e presidente nas três primeiras gestões da Associação Brasileira de Medicina de Trânsito. Isso há 30 anos atrás. Conhecedor que eu era destas suas características empreendedoras, sabia que ele deveria estar envolvido em algum outro projeto relacionado ao trânsito. Foi quando o encontrei em 2007 em Passo Fundo, onde eu estivera para proferir uma palestra na Faculdade ... (favor completar o nome da faculdade, a data, o título da palestra, o nome e cargo da sua mulher). Ainda, o Dr. Albino lembrou-se que nos encontramos há alguns anos atrás no aeroporto de Congonhas e que ele tomou a iniciativa de me perguntar se eu me lembrava dele. Não só confirmei que sim mas também lhe disse em alto em bom tom: “Você não mudou nada, Albino!” Como poderia eu esquecer-me dele? Como esses  encontros de aeroporto, um chegando, outro partindo, o nosso foi também muito rápido e prometemo-nos entrar em contato.

Em Passo Fundo comprometi-me a escrever o prefácio do seu livro que ora apresento a você.

Você que pegou neste livro, que leu, ou que recebeu uma recomendação de lê-lo, já deve ter percebido da sua importância.

Aponte-me alguma pessoa física, social e mentalmente saudável que esteja totalmente livre do trânsito. Acredito que não exista.

Pergunte a qualquer pessoa se já sofreu ou causou algum acidente de trânsito. Poucos confessam mas a maioria vai logo justificando que a culpa é do outro, que ele fez o melhor possível, mas não teve jeito
de escapar etc.

Dificilmente você vai encontrar também alguém que não tenha escapado por pouco de ser atropelado, atingido, de um acidente que aconteceu em sua frente, que poderia ter sido ele a vítima. 

Uma das características dos acidentes de trânsito é o responsável sentir-se vítima de outros motoristas. De vilão do trânsito passa a se justificar como vítima, para eximir-se da culpa. Nem um bêbado admite
estar embriagado num volante.

Este livro Ser humano: o desafio nos elucida e nos ajuda a ter novos procedimentos para que não sejamos de fato vítimas e muito menos algozes do trânsito.

Depois de ler este livro, você vai concluir que é um milagre você estar vivo no trânsito. Quem tem consciência deste perigo, o de arriscar-se a qualquer momento de morrer ou de matar alguém, será, com
certeza, um bom sobrevivente.

Ninguém pode garantir que aquele que lhe fechou a frente, fez uma ultrapassagem irregular, não usa o cinto de segurança e abusou da potência e velocidade do carro está com saúde psíquica suficientemente conservada para dirigir defensivamente.

São tantas as patologias que comprometem as pessoas que lhes tiram a faculdade de dirigir que nos obriga a ficar ainda mais atentos do que já somos.

Para enumerar alguns motoristas que nos cercam, seja de ônibus, caminhões, carros, motos, bicicletas, carroças, e para enumerar os pedestres que andam soltos pelas ruas, avenidas e estradas, cito algumas
situações de risco das quais o Dr. Albino trabalha neste livro: Desatentos, hiperativos, suicidas, prepotentes, onipotentes, envelhecidos, epiléticos, depressivos, esquizofrênicos, fóbicos, compulsivos, alcoólatras, drogados, ousados, fugitivos, apressados, criminosos, intolerantes, criminosos, violentos, paranoicos  abusados, bipolares, maníacos, panicosos, infartantes, desmaiantes, possuídos pelo ciúmes, cegos de
ódio etc.

Dr. Albino nos explica o problema, nos orienta para procedimentos adequados e lança uma luz no seu poema final:

O que está feito, está feito.

Mas tudo pode começar de novo.
Pois tu podes com o último alento.

Recomendo-lhe a leitura deste livro, não só a você, que já se cuida, mas também aos seus amigos, parentes e filhos. Se todos se cuidarem, teremos vida mais saudável, menos acidentes de trânsito e melhor qualidade de vida.

Içami Tiba
(Psiquiatra e escritor)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ALZHEIMER E DEMÊNCIA



 Nada mais difícil, para os que estão envelhecendo, do que pensar e, até mesmo encarar os problemas de saúde decorrentes das perdas naturais da própria idade. Mas ainda mais difícil é saber da possibilidade das perdas mentais e das dificuldades decorrentes: pessoais, familiares, ambientais, sociais.
 As doenças que dizem respeito aos pacientes idosos podem ser diagnosticadas como demências frontotemporal, Alzhaeimer e demência vascular, quais são os sintomas destas doenças? Como é quando elas aparecem? Qual a gravidade? Tem cura? Tem tratamento? Como a família deve agir? São perguntas que fazemos. Quando temos algum esclarecimento, ou porque estudamos, ou porque convivemos, com casos semelhantes, tentamos organizar o nosso futuro, para que se tal coisa nos acontecer, não venha a ser peso, estorvo para nossa família. Tal preocupação é real, é muito difícil sofrer e lidar com a demência (depressões, ansiedade, ausência de comunicação... etc.).
Os sintomas mais prevalentes nos casos demências: perda de memória, choro fácil, labilidade emocional, insônia, crises de agitação agudas com agressividade física, desconforto, sensações físicas de dor, calor sem causa existente, condutas anti-sociais, desinibidas e sem censura, sem crítica de relacionamento.
Nem sempre os exames físicos (eletro, encefalograma, tomografia computadorizada) detectam alguma alteração, embora sejam eficazes nos casos de demência vascular, mas uma avaliação neuropsicológica pode auxiliar psiquiatra e psicóloga na identificação do problema, bem como a ressonância magnética do cérebro poderá detectar existência de comportamento.
Lembro de uma senhora ao iniciar o processo demência e, provavelmente com percepção de que algo estava lhe acontecendo, demonstrando sofrimento, escolheu uma frase, com a qual respondia todo e qualquer questionamento que lhe fosse feito - “Cada um com a sua”.
 Aos poucos foi perdendo a memória o reconhecimento de lugares e pessoas, controle dos esfíncteres. Comia se lhe alcançassem o alimento, dormia se lhe colocassem na cama, não reconhecia pessoas, lugares... Enfim, sua vida foi sendo de total dependência, até que nunca mais saiu de seu leito (por mais de 5 anos) até vir a falecer.
A repetição de frases muitas vezes também se torna um sintoma. (a pessoa apresenta ecolalia).
Não estamos preocupados neste artigo em separar os sintomas das demências fronto-temporais, do Alzheimer ou demências vasculares. Nosso objetivo é repassar informações para que possamos nos cuidar melhor e buscar em tempo rápido soluções. Na verdade ainda não existem tratamentos preventivos significativos, mas tratamentos que diminuem os sintomas e que permitem melhor qualidade de vida. Também não podemos descartar os novos estudos que vem sendo realizados, os avanços que poderão em futuro breve trazer soluções para estes problemas. Mas todo tipo de demência é um processo degenerativo que tende ao agravamento gradativo da doença.
Quais os procedimentos?
 Não importa o diagnóstico sobre o tipo de demência, alguns procedimentos são comuns a qualquer caso. O primeiro aspecto a ser observado diz respeito às perdas e alterações. Perdas cognitivas (de memória, confusão de idéias), comportamentos agressivos, alienados, sem censura ou autocrítica.
A partir desta avaliação inicial, deve-se orientar a família e o paciente como manejar e melhorar a convivência. Quais as expectativas que devem ter o que esperar o que não podem exigir. Enfim como reconstruir todo o ambiente físico e emocional.
Paralelamente o médico irá definir sobre a melhor medicação e orientação e trabalho como a família deverão observar os efeitos da mesma sobre os sintomas mais agudos e prevalentes.
Todas as condutas são feitas no sentido de melhorar a qualidade de vida seja para o paciente, seja para a família ou para os cuida dores.
Na maioria dos casos os doentes não possuem condições para continuar gerenciando suas vidas e necessitam de “cuidadores” permanentes, principal na evolução e agravo.
As perdas cognitivas dificultam o paciente na comunicação de suas necessidades e desejos (desconforto, dores, fome) levando-o a agitação, inquietação e ansiedade, dificultam na execução das tarefas (vestir, comer...), dificultam suas relações. Portanto, neste momento, não podemos negar o uso de medicamentos para o melhor controle dos sintomas das demências. Às vezes concomitantes depressões quando sente os sintomas.
É importante, também lembrar que quando confinado ao lar, alguém (marido, mulher, filho, neto) terá que abrir mão de sua vida própria para dispender os cuidados necessários. As famílias ricas recorrem a enfermeiras, por turnos. Mas não é esta a realidade da maioria, alguém tem que se dedicar ou a solução são os asilos ou casas geriátricas.
 O médico (psiquiatra, neurologista, geriatra) é fundamental na orientação do tratamento dos sintomas, mas também na orientação da família. Doenças demenciais comprometem e impedem a qualidade da mesma, para todos.
Acreditamos que em futuro breve a ciência irá descobrir como prevenir ou até mesmo curar este mal que tanto sofrimento gera. Não bastam melhores medicamentos controladores. Nossa expectativa é para com a cura que esperamos seja descoberta brevemente.
Terapias alternativas tem sido de grande eficácia tanto no tratamento, quanto na prevenção, como a musica-terapia, terapia ocupacional. Pesquisas revelam que entre as pessoas de maior estudo os sintomas custam a aparecer, mais depois se aceleram, comparadas às pessoas de menos estudo.
Isto mostra que o “exercício” cerebral (leitura, jogos) podem ser grandes aliados no retardamento da doença (dançar, fazer caminhadas, executar tarefas).
Muitos, quando chegam ao consultório, vêm com queixas de depressão (e assim são tratados), na verdade eles estão seguindo aos sintomas que percebem ter como a perda de memória, por exemplo, e se entristecem, deprimem. No início o diagnóstico é sempre difícil.
Embora as demências sejam doenças senis (do envelhecimento) existe a doença de Pic, rara que se trata da demência precoce pré-senil.
Com o aumento dos anos de vida, as doenças demenciais tenderão a ser mais presentes. Alguns países desenvolvidos estão criando programas especiais em clínicas bem estruturadas para atendimento de idosos e de idosas portadores de demências com assistência médica (interde e mult) com lazer.
A mente tem que ser exercitada, assim como o corpo, depende de nós. Como disse Kennedy “não adianta acrescentar anos a vida, é necessário acrescentar vida os anos”.

Albino Julio Sciesleski
Marisa Potiens Zilio

Envelhecimento Humano


O título remete às publicações realizadas por professores da UPF, os quais há muito e, em várias áreas do conhecimento, vêm se dedicando ao assunto. Hoje, já são várias as publicações científicas, pretensão esta que não tem este artigo, que deseja ser apenas uma reflexão pessoal baseada nas próprias vivências e, em confidências feitas em nossos consultórios.

Dessa forma, várias são as questões que nos vêm à mente e mexem com nossos sentimentos quando  pensamos em envelhecimento humano, tais como a questão da longevidade, da qualidade de vida, da saúde,
do atendimento, da garantia da dignidade e da autonomia. Um dos olhares que mais nos chama a atenção é o fato de que, inversamente à criança, que cresce, aprende, adquire força, competência e independência, o
ser que envelhece vai perdendo essas capacidades, e, por mais que se queira retardar, é impossível, pois são perdas inerentes à própria vida.

Outro olhar que nos desafia é o da ausência de um convívio, ou talvez, o das grandes transformações na cultura e no comportamento familiar, ou seja, que na atualidade, não está mais mantendo a convivência
nem a responsabilidade que uns devem ter sobre os outros do mesmo grupo familiar. Será uma questão de cultura? Exigências da vida moderna? Mudanças nas relações afetivas e sociais? Sejam quais forem as respostas, podemos, a olhos vistos, perceber os que ainda dependem (crianças) e/ou os que estão voltando a depender (velhos) estão à mercê da caridade humana.

Sem ser saudosista, lembro que o lugar principal à mesa, a poltrona diante da TV, o melhor quarto, o melhor espaço, a comida especial eram oferecidos aos nossos avós, cultura esta ainda presente no mundo
oriental. Hoje, raramente temos tempo para uma boa conversa, um bom carinho. O que o Estado faz ou como ele está se organizando para proporcionar uma velhice digna?

Que tipo de ações a sociedade civil está mobilizando?

Não nos cabe continuar vivendo este paradoxo: de um lado, pregamos a qualidade e a dignidade da vida; de outro, não nos organizamos efetivamente para a garantia das mesmas.

O que realmente já conquistamos para os idosos?

Podemos citar os movimentos de terceira idade, que, talvez, sejam os que ofereçam oportunidades para a manutenção de uma vida mais plena, apesar das limitações do ser humano. Podemos também lembrar os asilos, as casas-dia, os hospitais e outros sistemas que abrigam e cuidam de idosos, mas que, na maioria das vezes, não têm o preparo necessário para os atendimentos, tornando-se verdadeiros depósitos de espera pelo fim de uma vida, não com olhar na vida que ainda existe, que é presente e pode (por que não?) ser extremamente participativa. Uma vida participativa, com privacidade, com dignidade. Lya
Luft nos explica que

a idade madura não precisa ser o começo do fim, idade avançada não precisa ser isolamento e secura. Podem-se fortalecer laços amorosos, familiares, de amizade, variar de interesses, curtir melhor o gozo das coisas boas. Existir é poder refinar nossa consciência de que somos demais preciosos para nos  desperdiçarmos buscando ser quem não somos, não podemos, nem queremos ser. (2003, p. 94).

Continua Luft:

é assim o tempo: devora tudo pelas beiradinhas, roendo, corroendo, recortando e consumindo. E nada nem ninguém lhe escapará, a não ser que faça dele seu bicho de estimação (2003, p. 92-93).


Quantas colaborações e lições ainda podem ser dadas pelo acúmulo do saber que somente a longevidade e a experiência da vida construíram?

O que propomos não é apenas a criação de espaços em formas cooperativas, essenciais aos tempos de hoje, mas, também, a formação de conselhos consultivos junto a instituições, de espaços para a troca,
para o conto, para a história, para a inserção social permanente. Falamos tanto em inclusão e excluímos os que, pela própria idade, tanto contribuíram e tanto têm a contribuir. Excluímos os que mais merecem
nosso respeito e nossa humildade. 

Kofi Annam lembra o provérbio africano que diz: “Quando morre um velho, desaparece uma biblioteca”.

Nossos velhos estão desafiados a sobreviver, não a viver. Sentem-se como um peso, quando ainda podem ser uma alavanca.

É necessário, pois, que a sociedade se organize para que possamos resgatar o verdadeiro valor que queremos dar à vida. Tratar bem as crianças e os idosos não será um resgate de valores que verdadeiramente  bloqueará a violência?

Em países desenvolvidos já encontramos espaços disponibilizados para os idosos. No Japão, por exemplo, há uma ilha onde existem prédios com apartamentos que proporcionam conforto e lazer. O apoio à saúde e à vida é permanente, assim como a assistência social, a psicoterapia, a psicologia, a medicina geriátrica. Os atendimentos não se limitam às urgências; presta-se atendimento regular e sistemático de controle.

No Brasil, em razão do aumento da longevidade, é necessário que se crie um clima favorável para que pensemos em alternativas dignas para a terceira idade. Efetivamente, já existem algumas iniciativas, como, por exemplo, o Hospital da Cidade, de Passo Fundo, que possui um clube de campo estruturado para receber seus funcionários com conforto, oferecendo alternativas de lazer, vida social, assistência psicossocial e geriátrica. Ainda podemos citar a Universidade de Passo Fundo, que, no Centro Regional de Estudos e Atividades para Terceira Idade (Creati), oportuniza aos adultos maduros e idosos de Passo Fundo e região situações de convivência, aprendizagem e serviço, com vista a resgatar a cidadania e a dignidade, buscando inserção social e proporcionar um envelhecer saudável.

Muitas são as conversas que povoam os nossos consultórios e que nos revelam situações até então  inusitadas. Pais idosos queixam-se de seus filhos, que ainda são dependentes economicamente, pouco afetuosos e não têm obrigações com filhos e netos. Porém, essa dependência econômica não é a maior fonte de queixas, mas, sim, a ausência afetiva o é. Essa mudança – quase uma crise – faz com que o idoso busque
alternativas sadias de prolongamento da vida, ou melhor, de estar presente e ativo; vivo, completa e  plenamente vivo.

Como precisa trabalhar, mesmo depois de aposentado, em funções alternativas para ajudar os filhos, aprende a estabelecer limites para si e para os que estão a sua volta (hoje, quero descansar; hoje, vou ao
trabalho); não está totalmente disponível; aprende a buscar lazer e saúde nos movimentos de terceira idade ou acadêmicos; está mais ativo e presente; estabelece novas amizades ao invés de ficar na dependência afetiva dos filhos e netos, cada vez mais ausentes.

Lya Luft nos lembra que:

Não é preciso consenso, nem arte, nem beleza ou idade:a vida é sempre dentro e agora (a vida é minha para ser ousada.)A vida pode florescer numa existência inteira.Mas tem de ser buscada, tem de ser conquistada.

Em outras palavras, é preciso viver sempre da forma mais plena que possamos. Esse é o desafio de todos nós.

Albino Julio Sciesleski
Marisa Potiens Zilio

MOTOCICLISTAS COM VIDA NO TRÂNSITO



Nos últimos tempos temos visto uma verdadeira explosão no aumento de motocicletas no trânsito. Econômica, acessível, prática, facilidade de estacionamento e tráfego, são alguns dos fatores que contribuíram para que a motocicleta caísse no gosto popular.
Até a segunda metade da década de 60, as motos praticamente não existiam aqui no Brasil. Em 1974 instalou-se aqui no país a primeira fábrica de motocicletas, iniciando seu processo de popularização. Atualmente, o uso destes veículos é muito diversificado, sendo utilizado para tanto fins de lazer quanto para fins profissionais.
Assim, aspectos negativos estão aliados ao aumento do número de motos nas estradas e cidades brasileiras. O mais sério é observado no crescimento alarmante no número de acidentes graves envolvendo motociclistas. Em 2007, os acidentes com motocicletas representaram 48% das indenizações pagas pelo seguro obrigatório dos veículos automotores (Dpvat), conforme dados da Fenaseg – Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização. Esta situação não é exclusividade do Brasil. Na Alemanha, por exemplo, apesar da diminuição dos acidentes fatais com automóveis na última década, o mesmo não ocorreu com as motocicletas.
Há de salientar, também que, como a moto é utilizada para fins profissionais, neste caso, em especial, o surgimento dos “motoboys” contribuiu para um aumento significativo do número de acidentes. A concepção de que “tempo é dinheiro”, infelizmente presente em todos nós, faz com que estes profissionais “corram contra o tempo” e, por que não dizer, contra a própria vida.
Então, vemos um grande desafio: como minimizar este quadro de acidentes e vítimas?
Alguns estudos compravam que a imprudência contribui para o aumento das estatísticas. Assim, recomendações de caráter educativo, se tornam necessárias, a fim de evitar acidentes. Dentre elas, destacamos:
·      Fazer curso de direção defensiva normal e procurar realizar um curso de direção defensiva exclusivamente para motos.
·      Escolher motocicletas de acordo com o seu tipo físico.
·      Sair no tráfego, com a moto, somente após ter a certeza de estar pilotando-a com segurança.
·      Usar sempre o farol aceso, tanto durante o dia quanto à noite. Com o farol aceso, a motocicleta é mais visível.
·      Usar sempre capacete com visor, luvas e calças. Evite o uso de bermudas ao pilotar.
·      Preferencialmente usar roupas claras, bem como coletes e acessórios reflexivos. Elas facilitam a visibilidade dos demais.
·      Não circular entre os carros parados num congestionamento ou próximo a um farol, caso não tenha espaço suficiente. Isto evita ocasionar algum acidente, caso alguém coloque o braço para fora, abra a porta ou faça alguma manobra brusca.
·      Guardar distância do veículo que vai à sua frente.
·      Andar, preferencialmente, do lado direito do tráfego. Isto diminui o risco de “fechadas” por falta de visibilidade.
·      Quando em grupo, procurar andar em fila indiana. Evitar andar em “leque” para dar passagem aos demais veículos.
·      Fazer revisões e/ou manutenções periódicas no veículo (freios, embreagem, pneus, farol...).
·      Redobrar os cuidados quando atingir um cruzamento, reduzindo a velocidade na aproximação e parando sempre que necessário ou indicado.
·      Aguardar o semáforo abrir para passar. E, quando o fazer, não acelerar rapidamente. Isto evita colisão com outro veículo que passou com o sinal amarelo (retardatário).
·      O cansaço e a tensão prejudicam os reflexos e a visão. Por isso, dirigir somente quando estiver completamente disposto. A 100km/h o ângulo da visão é de apenas 40º, enquanto que a 60km/h o ângulo aumenta para 65º e a 40km/h, para 100º.
·      Orientar o carona para que suas atitudes e cuidados sejam os mesmos que os do motorista. Considerando que a motocicleta transporta até duas pessoas, em caso de acidente, condutor e passageiro sofrem ferimentos.
·      Evitar dirigir à noite. A noite exige que se dirija com muita cautela, pois diminui a noção de profundidade em função do ofuscamento provocado pelo farol de outros veículos.
·      Verificar com atenção à via e suas condições, principalmente no que poderá desequilibrar o motorista, como pista molhada, faixas escorregadias, buracos...
·      Jamais misturar álcool e direção.
Um estudo europeu concluiu que a maior parte dos acidentes acontecem nos cruzamentos, sendo que as partes do corpo mais atingidas são os membros inferiores, os superiores e a cabeça. Outra conclusão importante que os especialistas chegaram foi que o fator predominante para a ocorrência de acidentes por falha humana tais como falta de atenção e movimentos repentinos que causaram desequilíbrio, dentre outros.
Se valendo da máxima “que não é o veículo que é perigoso; perigosas são as atitudes de quem o conduz”, com certeza, se nos utilizarmos de hábitos saudáveis e corretos, contribuiremos para com a redução dos acidentes. Cada um é responsável por todos.

 Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra

Marisa Potiens Zílio
Psicopedagoga