Crianças com falta de atenção ou superativas têm o que se chama de transtorno de déficit de atenção / hiperatividade (TDAH), que nos faz recordar das queixas dos pais:
“ – Que mania é essa de deixar as portas abertas, as roupas pelo
chão, as luzes acesas?”
“ – Por que nunca presta atenção no que eu falo, fazendo com que
tenha que repetir?”
“ – Por que esquece sempre o que foi dito ou combinado?”
“ – Onde é mesmo que você está com a cabeça?”
Essas perguntas, que parecem ser freqüentes a todos os pais de crianças pequenas, na verdade não são tão comuns, acontecem em 3 a 9% das famílias que possuem filhos com TDAH.
No início, os pais pensam que a criança é agitada, às vezes, muito esperta. Não sabem esperar, tampouco ouvir. Dizem: “ – Quando percebemos..., já fez!”. Esse “já fez” não raramente é inadequado, ou melhor, cheio de imprecisões, mas necessariamente não pouco inteligente, pelo contrário TDAH não tem a ver com inteligência.
Depois de algum tempo, as preocupações parecem aumentar:
“ – Esta criança é muito impulsiva, não conseguimos educá-la! Não se senta direito à mesa, derruba quase tudo; está sempre desleixada e suas coisas são uma bagunça! É impossível lidar com ela! Os parentes?! Bem, já achamos que nossa visita não é tão agradável assim... Já não nos convidam para muita coisa... Na escola, então, é um problema. A professora diz que ela não presta atenção, não pára quieta, não obedece às ordens e incomoda os amiguinhos. Suas tarefas de casa e seu caderno são incompletos. Desse jeito não irá passar de ano!”.
Esse transtorno prejudica a criança não apenas na escola, onde apresenta níveis baixos de desempenho e disciplina, transtornos na leitura, repetições, mas também afeta sua família e todos os ambientes nos quais participa.
Na adolescência e na vida adulta (principalmente quando não se faz tratamento), resulta em mau desempenho e mediocridade no aproveitamento acadêmico e profissional. Adultos tendem a permanecer
em situação socioeconômica mais baixa, mudam constantemente de emprego, são advertidos e multados no trânsito e levam muito mal suas uniões, resultando em separações. Enfim, o índice de fracassos socioeconômicos e afetivos aumentam consideravelmente em indivíduos portadores desse transtorno.
O diagnóstico deve recorrer a uma entrevista cuidadosa, com observância relevante das queixas familiares; deve preencher os critérios (no mínimo seis) estabelecidos pelos códigos internacionais de doenças (DSM-IV).
As crianças com desatenção apresentam os seguintes sintomas freqüentes:
a) falha em prestar atenção em detalhes, trabalhos ou outras tarefas por descuido;
b) dificuldade em manter a atenção em tarefas ou em atividades lúdicas;
c) parecem não ouvirem quando lhes falam diretamente;
d) não seguem instruções por completo, não concluem tarefas e afazeres no local de trabalho;
e) têm dificuldades em organizações quaisquer;
f) sempre evitam, rejeitam ou são relutantes em se envolver em tarefas que exijam esforço mental constante;
g) perdem coisas necessárias para tarefas ou atividades (por exemplo: brinquedos, lápis, livros e ferramentas);
h) distraem-se facilmente com estímulo externo;
i) têm esquecimento das atividades diárias.
Já as crianças com hiperatividade apresentam os seguintes sintomas freqüentes:
a) movimentam nervosamente as mãos ou os pés ou se contorcem no assento;
b) levantam-se na sala de aula ou em outras situações nas quais se espera que permaneçam sentadas;
c) correm para lá e para cá, descem e sobem excessivamente em situações nas quais isso é inapropriado (em adolescentes e adultos pode se limitar a sentimento subjetivos de inquietação);
d) têm dificuldade em jogar ou se envolver tranquilamente em atividades de lazer;
e) em todos os lugares estão de saída ou agem como movidos a motor;
f) falam muito.
Crianças impulsivas apresentam os seguintes sintomas:
a) respondem impulsivamente antes que as perguntas terminem;
b) têm dificuldade em esperar sua vez;
c) interrompem ou se intrometem com os outros (por exemplo: em conversas ou jogos).
Quando tratada, a criança diminui a ansiedade e a impulsividade, permanecendo mais atenta e adequada às situações. Suas relações sociais melhoram e passa a ser mais aceita. Porém o tratamento é longo
e sua eficácia, parcial.
A comorbidade (associação com outras doenças) é comum em portadores de TDAH. Há que considerar, também, que crianças e adultos não tratados têm dificuldades de conviver com seus próprios limites e com a rejeição, sendo levados a distúrbios emocionais, como depressão, baixa auto-estima, pânico. O uso de drogas lícitas e ilícitas é sempre frequente. O portador da doença busca meios para conter sua ansiedade,
impulsividade e até mesmo sua depressão.
Quanto ao tratamento para este transtorno, os psiquiatras, psicólogos, neuropediatras e psicopedagogos são profissionais habilitados para trabalhar nesses casos. Essa investigação requer, muitas vezes, uma boa anamnese, avaliação psicológica e/ou psiquiátrica, avaliação da inteligência e investigação do cérebro (tomografia, eletro), qualidade da respiração e do sono.
O tratamento implica uso de medicamentos (próprios para cada caso) e psicoterapia, que trabalhará focada na aprendizagem e na reconstrução do equilíbrio emocional (tanto para o paciente quanto para seus familiares). No caso da criança e do adolescente, o psicopedagogo deverá trabalhar também com a escola para que os prejuízos sejam cada vez menores.
Exemplo de caso
J. R. não tinha limites desde criança. Na escola, rendia pouco, para tristeza de sua mãe, uma excelente e dedicada professora. Foi morar com os tios, sendo que a tia trabalhava noutra cidade. Logo de início foram combinados códigos de mútua ajuda para que tarefas como guardar roupas, fechar portas e organizar agenda pudessem ser cumpridas. Foi criado um ambiente de aceitação e de achar engraçado quando acontecia algo, até mesmo indesejado, ao invés de recriminá-los.
Na adolescência, acabou envolvendo-se com drogas e com más companhias e a convivência familiar tornou-se impossível, com muitas implicâncias e discussões.
Bater o carro, derrubar pessoas dentro do ônibus, deixar a geladeira aberta ou espalhar suas roupas eram fatos encarados como comuns e toda a família ajudava a compensá-los.
Mais tarde, quando encaminhado para o psiquiatra, passou a fazer tratamento medicamentoso e psicoterápico. Atualmente, é um adulto feliz. Concluiu o curso superior e chefia a produção na empresa da família, sendo considerado um ótimo diretor. Um bom diagnóstico e um bom tratamento sempre são compensadores.
Albino Julio Sciesleski, Marisa Potiens Zilio
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