segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Anorexia e Bulimia

Nestes últimos tempos, muito se tem falado sobre a anorexia e a bulimia, doenças silenciosas que se instalam em nossos lares e vão tomando conta de nossos entes mais queridos. Quando damo-nos conta de sua presença, às vezes, poderá tarde demais para buscar ajuda médica adequada.
Contudo, o que é anorexia e bulimia? De que maneira estas doenças afetam aqueles que amamos? Por que elas são, de certa forma, tão “monstruosas”? Com o que exatamente estamos lidando?
Para esclarecer, anorexia e bulimia não são exatamente a mesma coisa, apesar de ambas estarem diretamente ligadas a transtornos alimentares. Entretanto, enquanto a anorexia caracteriza-se pela recusa do indivíduo em se alimentar (sem significar perda de apetite), a bulimia consiste na ingestão compulsiva de uma quantidade de alimento definitivamente maior da real necessidade do indivíduo, aliado a métodos compensatórios, como provocar vômitos, por exemplo.
Assim, os temas “anorexia e bulimia”, tão explorados atualmente, assim como outras doenças do trato psicológico, exigem não apenas o olhar sobre a saúde física e mental, como também uma análise cultural, política, social e educacional, já que elas podem atingir pessoas oriundas de todas as camadas sociais, de todas as raças, de todos os graus de escolaridade e de ambos os sexos, embora predominantemente em mulheres.
Como ambas têm origem psíquica, vale-nos resgatar sua principal origem: o culto do belo e da perfeição. Desta forma, as características essenciais da anorexia e da bulimia se confundem: obsessão de magreza e medo mórbido de ganhar peso. A anorexia limita a ingestão de alimentos e a bulimia busca mecanismos (provocação de vômitos) para eliminar o excedente.
A cultura do belo tem remotas origens no passado da humanidade. Gregos, romanos, egípcios já possuíam, na antiguidade, seus conceitos de beleza. Somos escravos de uma sociedade que dita regras e impõe padrões de beleza. Mas a premissa de “uma mente sã em um corpo são” não pode ser esquecida. Não há corpo belo sem saúde, não há saúde quando a mente perde o controle sobre o corpo.
Desta forma, não é estranho que alguém se sinta culpado por ter se alimentado, que busca alternativas ou métodos compensatórios depois de ingerido o alimento? Ou, ainda, não é estranho que alguém negue a própria fome e desejo de comer? O culto pelo “belo”, pelo “perfeito” é tão ou mais importante que saciar nossos desejos mais primitivos como a necessidade de se alimentar?
A pirâmide de Maslow, a qual apresenta as necessidades humanas, nos mostra que para galgarmos os degraus, chegando às necessidades mais nobres e espirituais, ao patamar da transcendência de nossas limitações humanas, é necessário que todas as outras necessidades mais fundamentais tenham sido contempladas: as físicas (alimento, sono), as sociais (estudo, trabalho, produção), as psíquicas (de pertencimento, amor, dedicação). Então, por que abrimos mão do que é tão fundamental à nossa humanidade?
A educação também tem sua parcela de participação no processo que chamaria de desumanização. O papel da família e a escola estão, aos poucos, sendo modificados, muitas vezes esquecidos de seus reais valores da vida e de seus reais objetivos que deveriam ser a busca da educação destes novos tempos no que tange à ensinar, criar e, principalmente pensar e refletir.
Falta de consciência? Inversão de valores?
Somente a consciência de si mesmo poderá trazer de volta sua própria valorização. Precisamos (re)aprender a olhar para nós mesmos, buscando todas as “nossas reais belezas”, sejam elas físicas, psíquicas ou espirituais, aprendendo a (re)construí-las.
A paz interior e exterior nascem de um desejo. É necessário recriar nossos desejos, nossos valores e nossos conceitos.
A anorexia e a bulimia têm cura. São transtornos que podem ser tratados e recuperados. Mas, assim como todas as doenças psíquicas, o primeiro passo para sua cura depende do querer do paciente, da aceitação do distúrbio como doença. Existem profissionais altamente capacitados que poderão auxiliar no tratamento, indicando a terapia que melhor convém ao paciente. No entanto, cabe lembrar que o trabalho realizado por profissionais competentes só terá validade quando amparados pelo grupo familiar e social em que o indivíduo está inserido, bem como na capacidade de discernimento do paciente em aceitar e querer o tratamento. A doença pode estar associada a outras doenças por isso requer uma boa avaliação e conseqüente diagnóstico para se efetivar um tratamento adequado e bom resultado.
Para trazer de volta a consciência e o equilíbrio da mente, os profissionais da área psíquica são indispensáveis. No entanto, as doenças requerem equipe multidisciplinar para a investigação e o tratamento adequado dos fatores que causaram e as possíveis seqüelas que geraram, como as de ordem metabólicas, cardiovasculares, imunológicas, infecciosas e gastroenterológicas.
Melhorais iniciais, no começo de qualquer tratamento, não significam nada. O tratamento da anorexia e da bulimia pode se arrastar por muito tempo. As recaídas e a cronificação com baixo peso e isolamento social são mais freqüentes do que a cura completa.
Por isso, mais uma vez ressaltamos a importância do acompanhamento familiar para o sucesso do tratamento que será efetivado com antidepressivos, psicoterapia e acompanhamento endócrino e nutricional e internação hospitalar, se necessário
Também é importante colocar que os principais objetivos do tratamento da anorexia e da bulimia é salvar a vida do paciente e para tanto é preciso que o mesmo ganhe peso e trate intercorrências orgânicas da desnutrição.
Voltamos a afirmar, em tom de alerta, que como quaisquer outras doenças, o tratamento tem mais eficácia quando for procurado o mais rápido possível.
Estejamos atentos.


Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra

Marisa Potiens Zilio
Psicopedagoga



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