Nestes últimos tempos,
muito se tem falado sobre a anorexia e a bulimia, doenças silenciosas que se
instalam em nossos lares e vão tomando conta de nossos entes mais queridos.
Quando damo-nos conta de sua presença, às vezes, poderá tarde demais para
buscar ajuda médica adequada.
Contudo, o que é anorexia
e bulimia? De que maneira estas doenças afetam aqueles que amamos? Por que elas
são, de certa forma, tão “monstruosas”? Com o que exatamente estamos lidando?
Para esclarecer, anorexia
e bulimia não são exatamente a mesma coisa, apesar de ambas estarem diretamente
ligadas a transtornos alimentares. Entretanto, enquanto a anorexia
caracteriza-se pela recusa do indivíduo em se alimentar (sem significar perda
de apetite), a bulimia consiste na ingestão compulsiva de uma quantidade de
alimento definitivamente maior da real necessidade do indivíduo, aliado a
métodos compensatórios, como provocar vômitos, por exemplo.
Assim, os temas “anorexia
e bulimia”, tão explorados atualmente, assim como outras doenças do trato
psicológico, exigem não apenas o olhar sobre a saúde física e mental, como
também uma análise cultural, política, social e educacional, já que elas podem
atingir pessoas oriundas de todas as camadas sociais, de todas as raças, de
todos os graus de escolaridade e de ambos os sexos, embora predominantemente em
mulheres.
Como ambas têm origem
psíquica, vale-nos resgatar sua principal origem: o culto do belo e da
perfeição. Desta forma, as características essenciais da anorexia e da bulimia
se confundem: obsessão de magreza e medo mórbido de ganhar peso. A anorexia
limita a ingestão de alimentos e a bulimia busca mecanismos (provocação de
vômitos) para eliminar o excedente.
A cultura do belo tem
remotas origens no passado da humanidade. Gregos, romanos, egípcios já
possuíam, na antiguidade, seus conceitos de beleza. Somos escravos de uma
sociedade que dita regras e impõe padrões de beleza. Mas a premissa de “uma
mente sã em um corpo são” não pode ser esquecida. Não há corpo belo sem saúde,
não há saúde quando a mente perde o controle sobre o corpo.
Desta forma, não é
estranho que alguém se sinta culpado por ter se alimentado, que busca
alternativas ou métodos compensatórios depois de ingerido o alimento? Ou,
ainda, não é estranho que alguém negue a própria fome e desejo de comer? O
culto pelo “belo”, pelo “perfeito” é tão ou mais importante que saciar nossos
desejos mais primitivos como a necessidade de se alimentar?
A pirâmide de Maslow, a
qual apresenta as necessidades humanas, nos mostra que para galgarmos os
degraus, chegando às necessidades mais nobres e espirituais, ao patamar da
transcendência de nossas limitações humanas, é necessário que todas as outras
necessidades mais fundamentais tenham sido contempladas: as físicas (alimento,
sono), as sociais (estudo, trabalho, produção), as psíquicas (de pertencimento,
amor, dedicação). Então, por que abrimos mão do que é tão fundamental à nossa
humanidade?
A educação também tem sua
parcela de participação no processo que chamaria de desumanização. O papel da
família e a escola estão, aos poucos, sendo modificados, muitas vezes
esquecidos de seus reais valores da vida e de seus reais objetivos que deveriam
ser a busca da educação destes novos tempos no que tange à ensinar, criar e,
principalmente pensar e refletir.
Falta de consciência?
Inversão de valores?
Somente a consciência de
si mesmo poderá trazer de volta sua própria valorização. Precisamos
(re)aprender a olhar para nós mesmos, buscando todas as “nossas reais belezas”,
sejam elas físicas, psíquicas ou espirituais, aprendendo a (re)construí-las.
A paz interior e exterior
nascem de um desejo. É necessário recriar nossos desejos, nossos valores e
nossos conceitos.
A anorexia e a bulimia têm
cura. São transtornos que podem ser tratados e recuperados. Mas, assim como
todas as doenças psíquicas, o primeiro passo para sua cura depende do querer do
paciente, da aceitação do distúrbio como doença. Existem profissionais
altamente capacitados que poderão auxiliar no tratamento, indicando a terapia
que melhor convém ao paciente. No entanto, cabe lembrar que o trabalho
realizado por profissionais competentes só terá validade quando amparados pelo
grupo familiar e social em que o indivíduo está inserido, bem como na
capacidade de discernimento do paciente em aceitar e querer o tratamento. A
doença pode estar associada a outras doenças por isso requer uma boa avaliação
e conseqüente diagnóstico para se efetivar um tratamento adequado e bom
resultado.
Para trazer de volta a
consciência e o equilíbrio da mente, os profissionais da área psíquica são
indispensáveis. No entanto, as doenças requerem equipe multidisciplinar para a
investigação e o tratamento adequado dos fatores que causaram e as possíveis
seqüelas que geraram, como as de ordem metabólicas, cardiovasculares,
imunológicas, infecciosas e gastroenterológicas.
Melhorais iniciais, no
começo de qualquer tratamento, não significam nada. O tratamento da anorexia e
da bulimia pode se arrastar por muito tempo. As recaídas e a cronificação com
baixo peso e isolamento social são mais freqüentes do que a cura completa.
Por isso, mais uma vez
ressaltamos a importância do acompanhamento familiar para o sucesso do
tratamento que será efetivado com antidepressivos, psicoterapia e
acompanhamento endócrino e nutricional e internação hospitalar, se necessário
Também é importante
colocar que os principais objetivos do tratamento da anorexia e da bulimia é
salvar a vida do paciente e para tanto é preciso que o mesmo ganhe peso e trate
intercorrências orgânicas da desnutrição.
Voltamos a afirmar, em tom
de alerta, que como quaisquer outras doenças, o tratamento tem mais eficácia
quando for procurado o mais rápido possível.
Estejamos atentos.
Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra
Marisa Potiens Zilio
Psicopedagoga
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