segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Envelhecimento Humano


O título remete às publicações realizadas por professores da UPF, os quais há muito e, em várias áreas do conhecimento, vêm se dedicando ao assunto. Hoje, já são várias as publicações científicas, pretensão esta que não tem este artigo, que deseja ser apenas uma reflexão pessoal baseada nas próprias vivências e, em confidências feitas em nossos consultórios.

Dessa forma, várias são as questões que nos vêm à mente e mexem com nossos sentimentos quando  pensamos em envelhecimento humano, tais como a questão da longevidade, da qualidade de vida, da saúde,
do atendimento, da garantia da dignidade e da autonomia. Um dos olhares que mais nos chama a atenção é o fato de que, inversamente à criança, que cresce, aprende, adquire força, competência e independência, o
ser que envelhece vai perdendo essas capacidades, e, por mais que se queira retardar, é impossível, pois são perdas inerentes à própria vida.

Outro olhar que nos desafia é o da ausência de um convívio, ou talvez, o das grandes transformações na cultura e no comportamento familiar, ou seja, que na atualidade, não está mais mantendo a convivência
nem a responsabilidade que uns devem ter sobre os outros do mesmo grupo familiar. Será uma questão de cultura? Exigências da vida moderna? Mudanças nas relações afetivas e sociais? Sejam quais forem as respostas, podemos, a olhos vistos, perceber os que ainda dependem (crianças) e/ou os que estão voltando a depender (velhos) estão à mercê da caridade humana.

Sem ser saudosista, lembro que o lugar principal à mesa, a poltrona diante da TV, o melhor quarto, o melhor espaço, a comida especial eram oferecidos aos nossos avós, cultura esta ainda presente no mundo
oriental. Hoje, raramente temos tempo para uma boa conversa, um bom carinho. O que o Estado faz ou como ele está se organizando para proporcionar uma velhice digna?

Que tipo de ações a sociedade civil está mobilizando?

Não nos cabe continuar vivendo este paradoxo: de um lado, pregamos a qualidade e a dignidade da vida; de outro, não nos organizamos efetivamente para a garantia das mesmas.

O que realmente já conquistamos para os idosos?

Podemos citar os movimentos de terceira idade, que, talvez, sejam os que ofereçam oportunidades para a manutenção de uma vida mais plena, apesar das limitações do ser humano. Podemos também lembrar os asilos, as casas-dia, os hospitais e outros sistemas que abrigam e cuidam de idosos, mas que, na maioria das vezes, não têm o preparo necessário para os atendimentos, tornando-se verdadeiros depósitos de espera pelo fim de uma vida, não com olhar na vida que ainda existe, que é presente e pode (por que não?) ser extremamente participativa. Uma vida participativa, com privacidade, com dignidade. Lya
Luft nos explica que

a idade madura não precisa ser o começo do fim, idade avançada não precisa ser isolamento e secura. Podem-se fortalecer laços amorosos, familiares, de amizade, variar de interesses, curtir melhor o gozo das coisas boas. Existir é poder refinar nossa consciência de que somos demais preciosos para nos  desperdiçarmos buscando ser quem não somos, não podemos, nem queremos ser. (2003, p. 94).

Continua Luft:

é assim o tempo: devora tudo pelas beiradinhas, roendo, corroendo, recortando e consumindo. E nada nem ninguém lhe escapará, a não ser que faça dele seu bicho de estimação (2003, p. 92-93).


Quantas colaborações e lições ainda podem ser dadas pelo acúmulo do saber que somente a longevidade e a experiência da vida construíram?

O que propomos não é apenas a criação de espaços em formas cooperativas, essenciais aos tempos de hoje, mas, também, a formação de conselhos consultivos junto a instituições, de espaços para a troca,
para o conto, para a história, para a inserção social permanente. Falamos tanto em inclusão e excluímos os que, pela própria idade, tanto contribuíram e tanto têm a contribuir. Excluímos os que mais merecem
nosso respeito e nossa humildade. 

Kofi Annam lembra o provérbio africano que diz: “Quando morre um velho, desaparece uma biblioteca”.

Nossos velhos estão desafiados a sobreviver, não a viver. Sentem-se como um peso, quando ainda podem ser uma alavanca.

É necessário, pois, que a sociedade se organize para que possamos resgatar o verdadeiro valor que queremos dar à vida. Tratar bem as crianças e os idosos não será um resgate de valores que verdadeiramente  bloqueará a violência?

Em países desenvolvidos já encontramos espaços disponibilizados para os idosos. No Japão, por exemplo, há uma ilha onde existem prédios com apartamentos que proporcionam conforto e lazer. O apoio à saúde e à vida é permanente, assim como a assistência social, a psicoterapia, a psicologia, a medicina geriátrica. Os atendimentos não se limitam às urgências; presta-se atendimento regular e sistemático de controle.

No Brasil, em razão do aumento da longevidade, é necessário que se crie um clima favorável para que pensemos em alternativas dignas para a terceira idade. Efetivamente, já existem algumas iniciativas, como, por exemplo, o Hospital da Cidade, de Passo Fundo, que possui um clube de campo estruturado para receber seus funcionários com conforto, oferecendo alternativas de lazer, vida social, assistência psicossocial e geriátrica. Ainda podemos citar a Universidade de Passo Fundo, que, no Centro Regional de Estudos e Atividades para Terceira Idade (Creati), oportuniza aos adultos maduros e idosos de Passo Fundo e região situações de convivência, aprendizagem e serviço, com vista a resgatar a cidadania e a dignidade, buscando inserção social e proporcionar um envelhecer saudável.

Muitas são as conversas que povoam os nossos consultórios e que nos revelam situações até então  inusitadas. Pais idosos queixam-se de seus filhos, que ainda são dependentes economicamente, pouco afetuosos e não têm obrigações com filhos e netos. Porém, essa dependência econômica não é a maior fonte de queixas, mas, sim, a ausência afetiva o é. Essa mudança – quase uma crise – faz com que o idoso busque
alternativas sadias de prolongamento da vida, ou melhor, de estar presente e ativo; vivo, completa e  plenamente vivo.

Como precisa trabalhar, mesmo depois de aposentado, em funções alternativas para ajudar os filhos, aprende a estabelecer limites para si e para os que estão a sua volta (hoje, quero descansar; hoje, vou ao
trabalho); não está totalmente disponível; aprende a buscar lazer e saúde nos movimentos de terceira idade ou acadêmicos; está mais ativo e presente; estabelece novas amizades ao invés de ficar na dependência afetiva dos filhos e netos, cada vez mais ausentes.

Lya Luft nos lembra que:

Não é preciso consenso, nem arte, nem beleza ou idade:a vida é sempre dentro e agora (a vida é minha para ser ousada.)A vida pode florescer numa existência inteira.Mas tem de ser buscada, tem de ser conquistada.

Em outras palavras, é preciso viver sempre da forma mais plena que possamos. Esse é o desafio de todos nós.

Albino Julio Sciesleski
Marisa Potiens Zilio

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