Em junho
de 2001, fomos ouvintes das maiores autoridades mundiais nos Estados Unidos,
que abordaram assuntos ligados à globalização da economia, centralizados na
melhoria da qualidade de vida da pessoa humana.
As discussões giraram em torno das idéias de uma globalização voraz, de
uma competição, muitas vezes, desleal, desprovida de caráter social e,
portanto, atingindo a competitividade na área profissional de modo nocivo à
sociedade, atrelando todos a interesses de grupos econômicos e empresariais,
inclusive profissões e profissionais liberais. Neste enfoque, já podemos
concluir que a ética, a liberdade e a moral ficam comprometidas. Dessa forma,
não nos surpreende que, aliado ao assunto da globalização, fosse abordado com
maior ênfase o tema “Transtorno afetivo bipolar”, ou seja, a “depressão”, sob
os enfoques de depressão de caráter hereditário, a de formação reativa e a
depressão em desenvolvimento.
Para os profissionais da saúde que se dedicam à pesquisa e ao tratamento
da doença, às dificuldades da pessoa depressiva e do seu entorno (família,
trabalho), ficam mais claros a intensidade de sentimentos (de tristeza e de
euforia), as oscilações de humor e a inadequação do comportamento. Para os
leigos, ou melhor dizendo, para os familiares, fica claro que o que “está por
vir” em forma de explosão é sempre uma incógnita, uma insegurança, um
não-saber-por quê.
Globalização voraz x depressão. Desajuste do homem moderno que, na busca
de si mesmo, encontrou na evolução científico-tecnológica respostas para o
mundo, necessidades inimagináveis e um vazio imenso em si mesmo e no
significado da vida. Talvez essa seja a razão que explica a doença do século:
depressão.
Os sintomas são por nós conhecidos: tristeza, desânimo, vontade de
chorar, insegurança, medo inexplicável, isolamento, desejo de ficar só,
evitando o encontro em festas, encontros com a família e, quando mais grave,
idéias pessimistas e suicidas, com o risco de cometer suicídio.
Como se trata de doença bipolar, acompanham-na sentimentos antagônicos,
maníacos, ou seja, insônia, fala exagerada, inquietação, nervosismo, ansiedade,
compulsividades, como compras exageradas (sem condições para), saídas sem rumo,
falas de grandeza, falas sem significado, desconexas.
Voltando um pouco ao início da nossa fala neste artigo quando nos
referíamos ao encontro do qual participamos, lembramos a abordagem feita sobre
o extraordinário desenvolvimento por que passa o mundo em todas as áreas do
conhecimento. Nesse campo, estão em primeiro lugar as pesquisas de saúde e
saúde pública. Foram debatidas idéias de que, em 2020, teremos alcançado tal
evolução que a maioria das doenças será controlada por vacinas, como, por
exemplo, a Aids. Outras poderão ser monitoradas pela tecnologia, como a diabete
e a hipertensão arterial. Há idéias fantásticas também de caráter ecológico,
como o emprego de materiais degradáveis e o uso adequado de invólucros, hoje de
vidro e de plástico, que seriam, ou melhor, serão substituídos por materiais
confeccionados de resíduos agrícolas, tornando o continente e o conteúdo
produtos com o mesmo ou igual tempo de validade.
Tais discussões nos empolgam, porém não foram menos calorosas as
discussões sobre o consumo de água potável, em falta a partir de 2020, e sobre
as doenças que necessitarão de atendimento durante a vida toda. As vacinas, as
novas descobertas da genética, a evolução dos transplantes, os novos produtos
químicos recuperadores resolveriam, em boa parte, e a medicina preventiva teria
uma ênfase especial. Mas a medicina curativa, de acompanhamento contínuo também
foi amplamente discutida, principalmente as doenças de caráter psíquico, como a
depressão.
A depressão é considerada (o foi nesse encontro) a principal doença nos
Estados Unidos não só do ponto de vista dos danos à pessoa, mas também dos
danos à nação pelos dias de serviços perdidos, com prejuízos incalculáveis,
seja pelo afastamento do trabalho, seja pelo tratamento exigido pela mesma.
A depressão leva a outras doenças, ou seja, às vezes, leva à procura do
álcool, que funciona como remédio, depois, ao vício, à dependência,
associando-se às drogas, ou, então, passa a somatizar, a colocar no corpo
outras doenças, às vezes, intratáveis por terem sua origem no psiquismo humano.
As manias, que são parte da sintomatologia, às vezes são estados
inebriantes de prazer e de euforia, mas que interferem nos relacionamentos, na
produtividade. A pessoa depressiva faz um grande mal a si mesma. A doença
maníaco-depressiva tem tratamento, tem medicação, no entanto o principal
problema está na recusa dos pacientes em aceitar se tratar.
Há um estigma em relação à mesma, que conduz a pessoa a negá-la a si
mesma e aos outros, principalmente por medo e insegurança. É uma doença que
altera o estado de humor, os pensamentos, que destrói a fase racional. É
orgânica, fisiológica nas suas origens, mas dá a impressão de ser psicológica.
Após o que demonstramos, chegamos à conclusão, com dados estatísticos,
que realmente é a principal doença do mundo desenvolvido. No entanto, queremos
reforçar que a maioria dos pacientes não procura os médicos e, quando o fazem,
são por queixas somatizadas. Não procuram os especialistas, os psiquiatras, por
medo, pelos estigmas antes mencionados.
Devemos ainda lembrar que o mais importante no tratamento é o ato do
indivíduo, do paciente decidir se tratar. É a primeira evolução benéfica e
produtiva. Chegar ao especialista com tal decisão, certamente é o primeiro
grande passo para o controle (cura) da doença.
Uma boa entrevista dará ao paciente a segurança e a confiança necessárias,
para, então, estender-se ao uso de psicofármacos. Os primeiros resultados
começam a aparecer em aproximadamente oito dias. O tempo do tratamento será
determinado pela gravidade da doença, podendo perdurar para sempre e nunca (ou
quase nunca) por menos de um ano, às vezes continuado.
Voltamos a lembrar que os danos sociais e relacionais que a mesma provoca
necessitam ser recuperados e redimensionados pela psicoterapia de sustentação
para que o paciente possa compreender e administrar melhor os seus problemas e
o seu próprio tratamento.
Podemos concluir que a recuperação está em primeiro lugar no paciente ao
procurar o tratamento; em segundo, no terapeuta; em terceiro, no remédio e, por
fim, na ajuda e na compreensão da família. Ninguém quer adoecer. A doença vem
sem aviso prévio. Depende de todos (paciente, terapeuta e família), devolver a
felicidade, a qualidade de vida, a busca de um meio psicossocial adequado e
produtivo ao doente.
Albino Julio Sciesleski, Marisa Potiens Zilio
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