segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ESQUIZOFRENIA


Vivemos, atualmente, uma realidade conturbada. E esta realidade faz com que, algumas vezes, duvidemos de nossa própria sanidade e da dos outros.
Comumente ouvimos expressões do tipo: “O mundo está louco!” ou “As pessoas estão transtornadas!”.
O limite entre a fantasia e a realidade, a verdade e a mentira, a racionalidade e a irracionalidade está cada vez mais tênue. Porém, não é desta insanidade ou deste mundo que queremos falar, mas sim de uma doença que atinge um percentual significativo da população, um transtorno chamado esquizofrenia.

O que é esquizofrenia?
Esquizofrenia é uma doença mental que se caracteriza por uma desorganização ampla dos processos mentais. É um quadro complexo, que apresenta sinais e sintomas na área do pensamento, das percepções e das emoções, causando marcados prejuízos ocupacionais e nas relações interpessoais e familiares.
Nesse quadro, a pessoa perde o sentido de realidade, ficando incapaz de distinguir a experiência real da imaginária. Essa doença se manifesta em crises agudas, com sintomatologia intensa, e intercaladas com períodos de remissão, quando há um abrandamento de sintomas, restando alguns deles em menor intensidade.
A esquizofremia é uma doença do cérebro, com manifestações psíquicas, que começa no final da adolescência ou início da idade adulta, antes dos 40 anos. O curso desta doença é sempre crônico com marcada tendência à deterioração da personalidade do indivíduo.

Como se desenvolve?
Até hoje não se conhece nenhum fator específico causador da esquizofrenia. Há, no entanto, evidências de que seria decorrente de uma combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais que contribuiriam em diferentes graus para o aparecimento e desenvolvimento da doença. Sabe-se, também, que filhos de indivíduos esquizofrênicos têm uma chance de aproximadamente 10% de desenvolver a doença, enquanto na população geral o risco de desenvolver a doença é de aproximadamente 1%.
A esquizofrenia pode desenvolver-se gradualmente, tão lentamente que nem o paciente nem as pessoas próximas percebem que algo vai errado: só quando comportamentos abertamente desviantes se manifestam. O período entre a normalidade e a doença deflagrada pode levar meses.
Por outro lado, há pacientes que desenvolvem a esquizofrenia rapidamente, em questão de poucas semanas ou mesmo de dias. A pessoa muda seu comportamento e entra no mundo esquizofrênico, o que geralmente alarma e assusta muitos os parentes.
Desta forma, não há uma regra fixa quanto ao modo de início: tanto pode começar repentinamente e eclodir numa crise exuberante, como começar lentamente sem apresentar mudanças extraordinárias e somente depois de anos surgir uma crise característica.

Quais são os sintomas da esquizofrenia ?
De regra, os primeiros sintomas são dificuldade de concentração – prejudicando o rendimento nos estudos –, estados de tensão de origem desconhecida inclusive pela própria pessoa e insônia e desinteresse pelas atividades sociais com conseqüente isolamento.
A partir de certo momento, mesmo antes da esquizofrenia ter deflagrado, as pessoas próximas se dão conta de que algo errado está acontecendo. Nos dias de hoje, os pais poderão pensar que se trata de drogas, os amigos podem achar que são dúvidas quanto à sexualidade, outros julgarão ser dúvidas existenciais próprias da idade. A permanência da dificuldade de concentração levará à interrupção dos estudos e perda do trabalho. É comum nesta fase o desleixo com a aparência ou mudanças no visual em relação ao modo de ser, como a realização de tatuagens, piercing, cortes de cabelo, indumentárias estranhas e descuido com a higiene pessoal. Desde o surgimento dos hippies e dos punks, essas formas estranhas de se apresentar, deixaram de ser tão “estranhas” aos nossos olhos e, talvez, por isso, o doente pode ser confundido como “rebelde” ou um “desviante social”.

E a família?
A fase inicial pode durar meses, enquanto a família espera por uma recuperação do comportamento. Contudo, o tempo passa e os sintomas se aprofundam. Então, o paciente apresenta uma conversa estranha, irreal, passa a ter experiências diferentes e não usuais, o que leva as pessoas próximas a julgarem ainda mais que o paciente está fazendo uso de drogas ilícitas. É possível que o paciente já tenha sintomas psicóticos antes de ser levado a um médico.
Quando um fato grave acontece não há mais meios de se negar que algo muito errado está ocorrendo, seja por uma atitude fisicamente agressiva, seja por tentativa de suicídio. Pensam ser outra pessoa, falam com mortos ou com imagens fantasiosas.

Quais são os quadros da esquizofrenia?
Como as pessoas são diferentes entre si, os quadros de esquizofrenia podem variar de paciente para paciente. No entanto, a esquizofrenia, por via de regra, é uma combinação em diferentes graus dos sintomas abaixo relacionados:
·         Delírios: o individuo crê em idéias falsas, irracionais ou sem lógica. Em geral, são temas de perseguição, grandezas ou místicos.
·         Alucinações: o paciente percebe estímulos que na realidade não existem, como ouvir vozes ou pensamentos, enxergar pessoas ou vultos. Este tipo de sintoma pode ser muito assustador para o paciente.
·         Discurso e pensamento desorganizado: o paciente esquizofrênico fala de maneira ilógica e desconexa, demonstrando uma incapacidade de organizar o pensamento em uma seqüência lógica.
·         Expressão das emoções: o paciente esquizofrênico tem um afeto inadequado ou embotado, ou seja, uma dificuldade de demonstrar a emoção que está sentindo – alegria ou tristeza, por exemplo – , tendo dificuldade de modular o afeto de acordo com o contexto, mostrando-se indiferente a diversas situações do cotidiano.

·         Alterações de comportamento: os pacientes podem ser impulsivos, agitados ou retraídos, muitas vezes apresentando risco de suicídio ou agressão, além de exposição moral, como por exemplo falar sozinho em voz alta ou andar sem roupa em público.

Como o médico faz o diagnóstico?
Para obter o diagnóstico da esquizofrenia, o médico realiza uma entrevista com o paciente e sua família, visando obter um histórico de sua vida e de seus sintomas, com o maior detalhadamente possível. Até o presente momento não existem marcadores biológicos próprios dessa doença, tampouco exames complementares específicos, embora existam evidências de alterações da anatomia cerebral, demonstráveis em exames de neuro-imagem e de metabolismo cerebral sofisticado, como a tomografia computadorizada e ressonância magnética, entre outros.
Além de fazer o diagnóstico, o médico deve identificar qual é o subtipo clínico que o paciente apresenta. Essa diferença se baseia nos sintomas que predominam em cada pessoa e na evolução da doença, que é variada conforme o subtipo específico. Os principais subtipos são:

·         Paranóide (delírios e alucinações);
·         Desorganizada ou hebefrênica (predomínio de alterações da afetividade e desorganização do pensamento);
·         Catatônico (alterações da motricidade);
·         Simples (diminuição da vontade e afetividade, empobrecimento do pensamento);
·         Residual (estágio crônico da doença, com muita deterioração e pouca sintomatologia produtiva).

Como tratar?
O tratamento exige o uso de medicação acompanhada, impreterivelmente, pelo médico psiquiatra, a terapia cognitiva-comportamental e intervenções psicossociais. Estas intervenções incluem: terapia familiar, reabilitação social, cognitiva e ocupacional.
Pela gravidade da doença, muitas vezes as internações são imprescindíveis, mas o suporte dado à família é fundamental para que, apesar da gravidade da doença, todos possam manter-se mais saudáveis.
Que a esquizofrenia é uma doença grave, ninguém duvida. Ela afeta as emoções, o pensamento, as percepções e o comportamento.
Ela é, também, sem dúvidas, a doença mais grave da psiquiatria. Até hoje a medicina não desenvolveu nenhum método para sua cura, mas apenas recursos para controle dos sintomas, entre eles as medicações e a eletroconvulsoterapia. Em casos mais graves há, ainda, necessidade do isolamento do paciente.
No entanto, até chegarmos a esta decisão temos caminhos a percorrer que incluem, além da medicação e da eletroconvulsoterapia, saber lidar com a doença e defender seus próprios egos.


Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra

Marisa Potiens Zilio
Psicopedagoga

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