Vivemos,
atualmente, uma realidade conturbada. E esta realidade faz com que, algumas
vezes, duvidemos de nossa própria sanidade e da dos outros.
Comumente
ouvimos expressões do tipo: “O mundo está louco!” ou “As pessoas estão
transtornadas!”.
O limite
entre a fantasia e a realidade, a verdade e a mentira, a racionalidade e a
irracionalidade está cada vez mais tênue. Porém, não é desta insanidade ou
deste mundo que queremos falar, mas sim de uma doença que atinge um percentual
significativo da população, um transtorno chamado esquizofrenia.
O que é esquizofrenia?
Esquizofrenia
é uma doença mental que se caracteriza por uma desorganização ampla dos
processos mentais. É um quadro complexo, que apresenta sinais e sintomas na
área do pensamento, das percepções e das emoções, causando marcados prejuízos
ocupacionais e nas relações interpessoais e familiares.
Nesse
quadro, a pessoa perde o sentido de realidade, ficando incapaz de distinguir a
experiência real da imaginária. Essa doença se manifesta em crises agudas, com
sintomatologia intensa, e intercaladas com períodos de remissão, quando há um
abrandamento de sintomas, restando alguns deles em menor intensidade.
A
esquizofremia é uma doença do cérebro, com manifestações psíquicas, que começa
no final da adolescência ou início da idade adulta, antes dos 40 anos. O curso
desta doença é sempre crônico com marcada tendência à deterioração da
personalidade do indivíduo.
Como se desenvolve?
Até
hoje não se conhece nenhum fator específico causador da esquizofrenia. Há, no
entanto, evidências de que seria decorrente de uma combinação de fatores
biológicos, genéticos e ambientais que contribuiriam em diferentes graus para o
aparecimento e desenvolvimento da doença. Sabe-se, também, que filhos de
indivíduos esquizofrênicos têm uma chance de aproximadamente 10% de desenvolver
a doença, enquanto na população geral o risco de desenvolver a doença é de
aproximadamente 1%.
A
esquizofrenia pode desenvolver-se gradualmente, tão lentamente que nem o
paciente nem as pessoas próximas percebem que algo vai errado: só quando
comportamentos abertamente desviantes se manifestam. O período entre a
normalidade e a doença deflagrada pode levar meses.
Por
outro lado, há pacientes que desenvolvem a esquizofrenia rapidamente, em
questão de poucas semanas ou mesmo de dias. A pessoa muda seu comportamento e
entra no mundo esquizofrênico, o que geralmente alarma e assusta muitos os
parentes.
Desta
forma, não há uma regra fixa quanto ao modo de início: tanto pode começar
repentinamente e eclodir numa crise exuberante, como começar lentamente sem
apresentar mudanças extraordinárias e somente depois de anos surgir uma crise
característica.
Quais
são os sintomas da esquizofrenia ?
De regra,
os primeiros sintomas são dificuldade de concentração – prejudicando o
rendimento nos estudos –, estados de tensão de origem desconhecida inclusive
pela própria pessoa e insônia e desinteresse pelas atividades sociais com
conseqüente isolamento.
A partir
de certo momento, mesmo antes da esquizofrenia ter deflagrado, as pessoas
próximas se dão conta de que algo errado está acontecendo. Nos dias de hoje, os
pais poderão pensar que se trata de drogas, os amigos podem achar que são
dúvidas quanto à sexualidade, outros julgarão ser dúvidas existenciais próprias
da idade. A permanência da dificuldade de concentração levará à interrupção dos
estudos e perda do trabalho. É comum nesta fase o desleixo com a aparência ou
mudanças no visual em relação ao modo de ser, como a realização de tatuagens,
piercing, cortes de cabelo, indumentárias estranhas e descuido com a higiene
pessoal. Desde o surgimento dos hippies
e dos punks, essas formas estranhas
de se apresentar, deixaram de ser tão “estranhas” aos nossos olhos e, talvez,
por isso, o doente pode ser confundido como “rebelde” ou um “desviante social”.
E
a família?
A
fase inicial pode durar meses, enquanto a família espera por uma recuperação do
comportamento. Contudo, o tempo passa e os sintomas se aprofundam. Então, o
paciente apresenta uma conversa estranha, irreal, passa a ter experiências
diferentes e não usuais, o que leva as pessoas próximas a julgarem ainda mais
que o paciente está fazendo uso de drogas ilícitas. É possível que o paciente
já tenha sintomas psicóticos antes de ser levado a um médico.
Quando
um fato grave acontece não há mais meios de se negar que algo muito errado está
ocorrendo, seja por uma atitude fisicamente agressiva, seja por tentativa de
suicídio. Pensam ser outra pessoa, falam com mortos ou com imagens fantasiosas.
Quais são os quadros da
esquizofrenia?
Como as pessoas são diferentes entre
si, os quadros de esquizofrenia podem variar de paciente para paciente. No
entanto, a esquizofrenia, por via de regra, é uma combinação em diferentes
graus dos sintomas abaixo relacionados:
·
Delírios:
o individuo crê em idéias falsas, irracionais ou sem lógica. Em geral, são
temas de perseguição, grandezas ou místicos.
·
Alucinações:
o paciente percebe estímulos que na realidade não existem, como ouvir vozes ou
pensamentos, enxergar pessoas ou vultos. Este tipo de sintoma pode ser muito
assustador para o paciente.
·
Discurso
e pensamento desorganizado: o paciente esquizofrênico fala de maneira ilógica e
desconexa, demonstrando uma incapacidade de organizar o pensamento em uma
seqüência lógica.
·
Expressão
das emoções: o paciente esquizofrênico tem um afeto inadequado ou embotado, ou
seja, uma dificuldade de demonstrar a emoção que está sentindo – alegria ou
tristeza, por exemplo – , tendo dificuldade de modular o afeto de acordo com o
contexto, mostrando-se indiferente a diversas situações do cotidiano.
·
Alterações
de comportamento: os pacientes podem ser impulsivos, agitados ou retraídos,
muitas vezes apresentando risco de suicídio ou agressão, além de exposição
moral, como por exemplo falar sozinho em voz alta ou andar sem roupa em
público.
Como o médico faz o
diagnóstico?
Para
obter o diagnóstico da esquizofrenia, o médico realiza uma entrevista com o
paciente e sua família, visando obter um histórico de sua vida e de seus
sintomas, com o maior detalhadamente possível. Até o presente momento não
existem marcadores biológicos próprios dessa doença, tampouco exames
complementares específicos, embora existam evidências de alterações da anatomia
cerebral, demonstráveis em exames de neuro-imagem e de metabolismo cerebral
sofisticado, como a tomografia computadorizada e ressonância magnética, entre
outros.
Além de
fazer o diagnóstico, o médico deve identificar qual é o subtipo clínico que o
paciente apresenta. Essa diferença se baseia nos sintomas que predominam em
cada pessoa e na evolução da doença, que é variada conforme o subtipo
específico. Os principais subtipos são:
·
Paranóide
(delírios e alucinações);
·
Desorganizada
ou hebefrênica (predomínio de alterações da afetividade e desorganização do
pensamento);
·
Catatônico
(alterações da motricidade);
·
Simples
(diminuição da vontade e afetividade, empobrecimento do pensamento);
·
Residual (estágio crônico da doença, com
muita deterioração e pouca sintomatologia produtiva).
Como
tratar?
O
tratamento exige o uso de medicação acompanhada, impreterivelmente, pelo médico
psiquiatra, a terapia cognitiva-comportamental e intervenções psicossociais.
Estas intervenções incluem: terapia familiar, reabilitação social, cognitiva e
ocupacional.
Pela
gravidade da doença, muitas vezes as internações são imprescindíveis, mas o
suporte dado à família é fundamental para que, apesar da gravidade da doença,
todos possam manter-se mais saudáveis.
Que
a esquizofrenia é uma doença grave, ninguém duvida. Ela afeta as emoções, o
pensamento, as percepções e o comportamento.
Ela é,
também, sem dúvidas, a doença mais grave da psiquiatria. Até hoje a medicina
não desenvolveu nenhum método para sua cura, mas apenas recursos para controle
dos sintomas, entre eles as medicações e a eletroconvulsoterapia. Em casos mais
graves há, ainda, necessidade do isolamento do paciente.
No
entanto, até chegarmos a esta decisão temos caminhos a percorrer que incluem,
além da medicação e da eletroconvulsoterapia, saber lidar com a doença e
defender seus próprios egos.
Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra
Marisa Potiens Zilio
Psicopedagoga
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