segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Compulsão ou Obsessão


Nas sociedades globalizadas é comum que todas as pessoas tenham acesso a informações advindas das diferentes evoluções científicas e tecnológicas. Estas informações acabam por contribuir para que todos possam ser mais preventivos e atentos aos problemas, sejam de caráter social, cientifico, ecológico ou tecnológico.
A medicina, neste sentido, tem se popularizado. Há, nos diferentes meios de comunicação, pessoas especializadas em colher informações e passá-las à população. Todos estão ganhando e a saúde está melhor.
No entanto, apesar de toda esta evolução, ainda nos deparamos com doenças de pouca compreensão e solução, às vezes também usamos linguagens não bem compreendidas. Uma delas é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo – TOC – uma doença muitas vezes difícil de ser avaliada, diagnosticada e tratada.
Mas, afinal o que é TOC?                                                                                   
O TOC está ligado a transtornos da personalidade com histórias de somatizações e sintomas psiquiátricos. É uma doença de evolução, que pode se tornar crônica, porque geralmente, passa desapercebida e quando diagnosticada já tem longa evolução(duração). Ela tanto pode surgir de forma abrupta, após algum evento desencadeante, ou insidiosamente sem que esteja associada a algum evento estressante importante.
As características fundamentais dos pacientes portadores do TOC são as compulsões e obsessões. Entretanto, esses sintomas costumam estar presentes em vários outros quadros psiquiátricos, notadamente nos quadros depressivos e ansiosos.
Nas obsessões, observa-se a dúvida, a ruminação e o perfeccionismo. Entre os obsessivos registrou-se, além da dúvida e a ruminação, as obsessões impulsivas, a hipocondria obsessiva e as fobias, as obsessões suicidas e homicidas, as obsessões de culpa, as de antecipação, as mágicas, e as obsessões ecomofóbicas (temor a objetos pontiagudos e afiados).
As compulsões consistem nas de “comprovação” como, por exemplo, lavar repetitivamente as mãos e formular perguntas mórbidas e rituais. Outros sintomas avaliados que são freqüentes se referem ao estado de ânimo/humor, ansiedade e, ainda, aos sintomas psicóticos e ao abuso de álcool e drogas.
Quando os sintomas do TOC aparecem de forma aguda ou desconcertante é normal a procura de ajuda pelo paciente e/ou pela família. No entanto, há sintomas sutis, como a necessidade de ter sempre tudo absolutamente limpo e ordenado (mania de limpeza), voltando a repetir atos já executados, como tirar o pó da casa várias vezes ao dia. Este ato, num primeiro momento, pode ser confundido com “qualidade”, tornando crônica a obsessão, que fragiliza e confunde a pessoa, tornando mais difícil o tratamento.
Por que este comportamento? Está na história-vital do paciente? É fruto de traumas, de vivências? Há componentes orgânicos, psíquicos?
São respostas difíceis de encontrar, sendo que os estudos geralmente apontam para os sintomas e poucos falam de suas causas.
Podemos considerar o TOC como fruto do medo excessivo: de adoecer, de engordar ou de emagrecer, de não fazer direito, de ser culpado, de morrer ou de matar, do escuro, de determinados objetivos, das críticas. O que queremos dizer é que o medo é um dos desencadeadores do transtorno, assim como uma variedade de anormalidades biológicas, entre elas nascimento traumático, sofrimento cerebral, alterações cromossômicas.

A psicoterapia no TOC:
Os tratamentos do TOC envolvem psicoterapia e farmacologia. Numerosas pesquisas sugerem fortemente um envolvimento da serotonina, um neurotransmissor, na fisiologia do TOC. Esses estudos se baseiam nas respostas terapêuticas de 40 a 60% dos pacientes tratados com antidepressivos que proporcionam a recaptação de serotonina.
Um aspecto importante do tratamento do TOC é a chamada terapia cognitivo-comportamental (TCC). Considerado um dos tratamentos de primeira linha, juntamente com os medicamentos. A TCC baseia-se na constatação de que, se o paciente desafia seus medos, expondo-se às situações que evita ou tocando nos objetos que considera contaminado (exposição) e, ao mesmo tempo, deixa de realizar os rituais de descontaminação ou verificações (prevenção da resposta). Embora num primeiro momento a aflição aumente, em pouco tempo ela tende a diminuir até desaparecer por completo e espontaneamente (habituação).
Por fim, o importante é procurar ajuda o mais cedo possível, não deixando cronificar a doença e seus sintomas e ter a certeza de uma vida mais ajustada e produtiva.

Caso A:
Em nossa experiência, vários casos nos chamaram a atenção e, em especial, o de uma menina de 10 anos, filha única.
A menina veio acompanhada de seus pais, assustados, cuja queixa era de que ela possuía muitos “tiques” (movimentos involuntários) e que eles não sabiam mais o que fazer. Ao ver a criança, confessamos que também nos impressionou o estado em que se encontrava. Eram tantos os movimentos que a menina estava extenuada, suava muito e se queixava de cansaço. Havia emagrecido consideravelmente nos últimos meses.
A primeira atitude foi encaminhá-la ao neuropediatra para uma investigação neurológica. A segunda, foi a realização de várias entrevistas com os pais e com a criança. O pai estava comprometido com grave doença e a mãe muito infeliz com o casamento. Ambos colocavam sobre a criança todas as esperanças de que a vida pudesse ter algum sentido. Tomada pelo desejo dos pais, a menina desenvolvera várias atitudes obsessivas/compulsivas. Repetia os temas escolares. Alisava os lençóis da cama vários vezes antes de deitar, não saía de casa antes de verificar se tudo estava em ordem, repetindo gestos de ligar e desligar tomadas, abrir e fechas as portas.
Após exame neurológico, a menina passou a ter acompanhamento do psiquiatra, foi medicada e recomendada a Terapia Cognitiva Comportamental – TCC, tanto para ela quanto para a família.
De imediato, os “tiques” ficaram significativamente amenizados e, com o tempo, foram desaparecendo.
Na terapia pudemos trabalhar as questões da percepção de si mesma para que a criança fosse se desvinculando dos “desejos” dos pais. Com os pais refizemos a significação da vida, bem como trabalhamos suas atitudes e condutas em relação à filha.
O tratamento durou 1 ano.
O afastamento da terapia foi espontâneo.

Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra
Marisa Potiens Zílio
Psicopedagoga

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