Nas sociedades
globalizadas é comum que todas as pessoas tenham acesso a informações advindas
das diferentes evoluções científicas e tecnológicas. Estas informações acabam
por contribuir para que todos possam ser mais preventivos e atentos aos
problemas, sejam de caráter social, cientifico, ecológico ou tecnológico.
A
medicina, neste sentido, tem se popularizado. Há, nos diferentes meios de
comunicação, pessoas especializadas em colher informações e passá-las à
população. Todos estão ganhando e a saúde está melhor.
No
entanto, apesar de toda esta evolução, ainda nos deparamos com doenças de pouca
compreensão e solução, às vezes também usamos linguagens não bem compreendidas.
Uma delas é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo – TOC – uma doença muitas vezes
difícil de ser avaliada, diagnosticada e tratada.
Mas,
afinal o que é TOC?
O TOC
está ligado a transtornos da personalidade com histórias de somatizações e
sintomas psiquiátricos. É uma doença de evolução, que pode se tornar crônica,
porque geralmente, passa desapercebida e quando diagnosticada já tem longa
evolução(duração). Ela tanto pode surgir de forma abrupta, após algum evento
desencadeante, ou insidiosamente sem que esteja associada a algum evento
estressante importante.
As
características fundamentais dos pacientes portadores do TOC são as compulsões
e obsessões. Entretanto, esses sintomas costumam estar presentes em vários
outros quadros psiquiátricos, notadamente nos quadros depressivos e ansiosos.
Nas
obsessões, observa-se a dúvida, a ruminação e o perfeccionismo. Entre os
obsessivos registrou-se, além da dúvida e a ruminação, as obsessões impulsivas,
a hipocondria obsessiva e as fobias, as obsessões suicidas e homicidas, as
obsessões de culpa, as de antecipação, as mágicas, e as obsessões ecomofóbicas
(temor a objetos pontiagudos e afiados).
As
compulsões consistem nas de “comprovação” como, por exemplo, lavar
repetitivamente as mãos e formular perguntas mórbidas e rituais. Outros
sintomas avaliados que são freqüentes se referem ao estado de ânimo/humor,
ansiedade e, ainda, aos sintomas psicóticos e ao abuso de álcool e drogas.
Quando os
sintomas do TOC aparecem de forma aguda ou desconcertante é normal a procura de
ajuda pelo paciente e/ou pela família. No entanto, há sintomas sutis, como a
necessidade de ter sempre tudo absolutamente limpo e ordenado (mania de
limpeza), voltando a repetir atos já executados, como tirar o pó da casa várias
vezes ao dia. Este ato, num primeiro momento, pode ser confundido com
“qualidade”, tornando crônica a obsessão, que fragiliza e confunde a pessoa,
tornando mais difícil o tratamento.
Por que este comportamento? Está na
história-vital do paciente? É fruto de traumas, de vivências? Há componentes
orgânicos, psíquicos?
São respostas difíceis de encontrar,
sendo que os estudos geralmente apontam para os sintomas e poucos falam de suas
causas.
Podemos
considerar o TOC como fruto do medo excessivo: de adoecer, de engordar ou de
emagrecer, de não fazer direito, de ser culpado, de morrer ou de matar, do
escuro, de determinados objetivos, das críticas. O que queremos dizer é que o
medo é um dos desencadeadores do transtorno, assim como uma variedade de anormalidades
biológicas, entre elas nascimento traumático, sofrimento cerebral, alterações
cromossômicas.
A
psicoterapia no TOC:
Os
tratamentos do TOC envolvem psicoterapia e farmacologia. Numerosas pesquisas
sugerem fortemente um envolvimento da serotonina, um neurotransmissor, na
fisiologia do TOC. Esses estudos se baseiam nas respostas terapêuticas de 40 a 60% dos pacientes
tratados com antidepressivos que proporcionam a recaptação de serotonina.
Um
aspecto importante do tratamento do TOC é a chamada terapia cognitivo-comportamental
(TCC). Considerado um dos tratamentos de primeira linha, juntamente com os
medicamentos. A TCC baseia-se na constatação de que, se o paciente desafia seus
medos, expondo-se às situações que evita ou tocando nos objetos que considera
contaminado (exposição) e, ao mesmo tempo, deixa de realizar os rituais de
descontaminação ou verificações (prevenção da resposta). Embora num primeiro
momento a aflição aumente, em pouco tempo ela tende a diminuir até desaparecer
por completo e espontaneamente (habituação).
Por
fim, o importante é procurar ajuda o mais cedo possível, não deixando
cronificar a doença e seus sintomas e ter a certeza de uma vida mais ajustada e
produtiva.
Caso
A:
Em nossa
experiência, vários casos nos chamaram a atenção e, em especial, o de uma
menina de 10 anos, filha única.
A menina
veio acompanhada de seus pais, assustados, cuja queixa era de que ela possuía
muitos “tiques” (movimentos involuntários) e que eles não sabiam mais o que
fazer. Ao ver a criança, confessamos que também nos impressionou o estado em
que se encontrava. Eram tantos os movimentos que a menina estava extenuada,
suava muito e se queixava de cansaço. Havia emagrecido consideravelmente nos
últimos meses.
A
primeira atitude foi encaminhá-la ao neuropediatra para uma investigação
neurológica. A segunda, foi a realização de várias entrevistas com os pais e
com a criança. O pai estava comprometido com grave doença e a mãe muito infeliz
com o casamento. Ambos colocavam sobre a criança todas as esperanças de que a
vida pudesse ter algum sentido. Tomada pelo desejo dos pais, a menina
desenvolvera várias atitudes obsessivas/compulsivas. Repetia os temas
escolares. Alisava os lençóis da cama vários vezes antes de deitar, não saía de
casa antes de verificar se tudo estava em ordem, repetindo gestos de ligar e
desligar tomadas, abrir e fechas as portas.
Após
exame neurológico, a menina passou a ter acompanhamento do psiquiatra, foi
medicada e recomendada a Terapia Cognitiva Comportamental – TCC, tanto para ela
quanto para a família.
De
imediato, os “tiques” ficaram significativamente amenizados e, com o tempo,
foram desaparecendo.
Na
terapia pudemos trabalhar as questões da percepção de si mesma para que a
criança fosse se desvinculando dos “desejos” dos pais. Com os pais refizemos a
significação da vida, bem como trabalhamos suas atitudes e condutas em relação
à filha.
O
tratamento durou 1 ano.
O
afastamento da terapia foi espontâneo.
Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra
Marisa Potiens Zílio
Psicopedagoga
Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra
Marisa Potiens Zílio
Psicopedagoga
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