segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

TERAPIA: Um mal ou um bem necessário?


Sempre que falamos em terapia estamos considerando a presença de uma doença no organismo que necessita de cuidados e tratamentos especiais.
Chamamos de organismo todos os componentes que formam o ser humano – físico, mente, alma – podendo também ser referência de outros seres da natureza.
Quando a doença é física, a dor e os sintomas são mais evidentes, são palpáveis e, aparentemente, mais desconfortáveis. Por isso e também por questões culturais já aprendemos a procurar um médico.
No entanto, nas doenças psíquicas e emocionais ainda não temos uma boa referência quanto à terapia ou, ainda, as consideramos “coisa de louco” ou “artigo de luxo” e, conseqüentemente, não faz parte da grande maioria do universo dos cidadãos brasileiros.
Porém, contrariando nosso pensamento e comportamento, há um crescente aumento das doenças psíquicas e emocionais, como depressão, vícios e problemas de aprendizagem, por exemplo. Estas, a exemplo das doenças físicas, também trazem sofrimentos intensos que conduzem à traumatização não somente de quem possui o distúrbio, assim como todos que o cercam.
Por que este aumento significativo das chamadas doenças da mente e das emoções? E por que a resistência em procurar ajuda?
Encontramos várias respostas para o que chamamos de doenças da psique humana. Basta olhar para o mundo que nos cerca e para o modo como estamos vivendo e logo surgem algumas explicações: a necessidade crescente de consumo, a insatisfação, a violência, as exigências sociais, a ausência de valores, o pouco cultivo da espiritualidade, a agitação, a falta de tempo.
Silva[1] aponta que:


Há os carros do ano, os televisores, os computadores, os bens e insumos da tecnologia de ponta; há os mostruários, as vitrines dos luxuosos shoppings, que definitivamente estão fora do alcance dos deserdados pela sorte. Isto é desequilíbrio social, é violência generalizada. As pessoas dos centros urbanos destes tristes tempos tornaram-se agressivas, desassossegadas, ansiosas, tensas, estressadas, demasiadamente grosseiras. A amizade, a sinceridade, solidariedade, a preocupação com o semelhante, a empatia, etc., são valores perdidos pela sociedade urbana. Gemem os famintos desnutridos, os doentes sem assistência médica hospitalar. Da mesma forma murmura a multidão carregada de encargos sociais, impostos, taxas exorbitantes e pesados aluguéis, etc. As dívidas e a inadimplência tem pego a todos; da mesma forma que nos devem, devemos aos outros. Ninguém vive com tranqüilidade, todos estão mergulhados nas preocupações, que estão despedaçando o cérebro e ninguém mais tem felicidade.


Chamamos estas questões de fatores externos. Porém não podemos esquecer que são “criações” nossas e que consciente ou inconscientemente nos sentimos co-responsáveis e até “culpados” por muitas situações que estão a nossa volta.
Há também o que chamamos de fatores internos. Para a Psicologia e a Psicanálise, por exemplo, importa buscar as causas do comportamento em algo que internamente não foi elaborado, aceito ou assimilado. Para a Neuropsiquiatria, muitos destes fatores internos são distúrbios orgânicos advindos do mau funcionamento cerebral e hormonal. Para a Psicopedagogia podem ser aprendizagens mal elaboradas, distúrbios na constituição do sujeito - falta de referência ou referência negativa acerca de si mesmo – ou incapacidade para aprender. Tais doenças não somente são difíceis de diagnosticar como também são difíceis de serem admitidas. Por exemplo, da criança ou da pessoa que não aprende é mais fácil dizer que é preguiçoso, é “burro”; da pessoa que bebe, que é “mau caráter”, “sem vergonha”; do depressivo, que merece uma boa “surra”, que é “vagabundo”, que não quer trabalhar.
Diante destas questões percebemos o quanto é difícil procurar o tratamento adequado e necessário. Muitas vezes quando o fazemos, a doença já está cronificada e sua cura bem mais difícil.
Temos que admitir também que os terapeutas deverão abrir-se para as realidades sócio-econômicas.A tendência é de que a medicina se socialize cada vez mais tanto nos aspectos relativos ao conhecimento quanto nas questões que dizem respeito aos convênios, honorários e até mesmos atendimentos pelo SUS e/ou em plantões ambulatoriais. O que queremos destacar é a importância de tornar nossos serviços acessíveis e compreensíveis a toda população.
É preciso reaprender nossa missão em relação à saúde e a nossa responsabilidade sobre ela. Outra aprendizagem decorrente desta compreensão é o estabelecimento dos limites de ação entre os diferentes profissionais da alma humana e como desenvolver ações conjuntas e interdisciplinares com outras áreas médicas sem que o paciente se sinta cindido, partido em seu bolso e em seu tempo.
A quem procurar? Essa deve ser a pergunta que paciente e família angustiadamente fazem diante das dificuldades e da doença. Ao que respondemos: sem sombra de dúvidas, o médico e/ou o terapeuta de sua confiança. Por certo, se ele estiver adequado ao seu tempo, agirá interdisciplinarmente, dando ao caso a direção necessária.
Por fim, é necessário trilhar os caminhos da ciência, mas também é necessário abrir-se ao mundo e as suas novas e futuras realidades, esclarecendo e permitindo a todos o acesso à saúde e à cura. Por certo isto não virá apenas de vontade política, mas da vontade e da consciência de todos nós.
Admitir que estamos doentes também é um passo importante para a busca da terapia e da cura. Depressão, transtornos e vícios são doenças silenciosas e até mesmo invisíveis ou imperceptíveis aos olhos dos outros. Muitos pacientes ficam tentando driblar a doença e seus sintomas com muito esforço e com o pensamento onipotente de que poderão obter a cura sozinhos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2020, a depressão será a segunda maior causa de incapacitação da população mundial, perdendo apenas para a doença cardíaca isquêmica[2].
Lembramos que doença é doença e somente mãos e mentes preparadas poderão trazer a saúde de volta.
Não é sinal de fraqueza, mas de sabedoria cuidar da alma com o mesmo cuidado com que cuidamos do corpo.

 Albino Julio Sciesleski
Médico Psiquiatra

Marisa Potiens Zílio
Psicopedagoga




[1]Silva, Maurício. Violência, desafio e paz. Disponível em http://www.evirt.com.br/desafio/cap04.htm.
[2]Fonte: Jornal Zero Hora, edição 15012, de 30 de setembro de 2006.

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